Agosto de 2015 é um mês especial para o jornal A VOZ DA SERRA e um de seus mais queridos colaboradores. Antônio Silvério Cardinot de Souza, ou simplesmente Silvério, está completando este mês 30 anos como cartunista do jornal, marco que só vem a comprovar todo o seu talento e criatividade. A data histórica também atesta a vitoriosa parceria entre o veículo mais tradicional da região e um dos mais populares cartunistas fluminenses.
Apesar de discreto, tímido e avesso a badalações, Silvério é uma figura mais do que reconhecida no mundo do cartum pela sua competente trajetória, iniciada nos anos 80. Foi nesta época que ele criou um de seus mais célebres personagens, o aposentado Urbano, publicado até hoje no Segundo Caderno do jornal “O Globo”. O sucesso do personagem é tanto que, em setembro de 2016, Urbano também chegará a marca dos 30 anos de publicação.
Dono de um traço singular e um olhar atento para o cotidiano friburguense, Silvério tem retratado aspectos importantes da história e do desenvolvimento do município ao longo dessas últimas três décadas. Suas charges sempre têm a preocupação de divulgar a imagem da cidade, revelar os problemas existentes e alertar sobre a importância de preservar sua memória. Tudo com uma pitada de humor, irreverência e crítica social, que são a marca de seu trabalho.
Para o cartunista, completar 30 anos de jornal é motivo não só de orgulho, como também de empenho por uma cidade melhor. “Minhas charges buscam chamar a atenção para aspectos relevantes do município. Através de símbolos como o Cão Sentado, as Estátuas das Quatro Estações e a Praça Getúlio Vargas procuro evidenciar os problemas do município e dar uma pequena contribuição para a melhoria da qualidade de vida dos friburguenses”, resume Silvério.
O depoimento dos colegas de longa data
“O Silvério diz muito através de suas charges que vêm ganhando cada vez mais espaço no mundo atual, do não escrito. Hoje, as pessoas estão dedicando menos tempo a leitura e priorizando as informações mais objetivas. E o trabalho do Silvério está em sintonia com esses novos hábitos e vai ao encontro daquele tradicional provérbio chinês que diz: uma imagem vale mais que mil palavras. Prova disso é que suas charges publicadas em A VOZ DA SERRA estão entre as que os leitores mais curtem e comentam. Também gosto muito do personagem Urbano, o aposentado, publicado no jornal O Globo. Acho que foi uma sacada genial do Silvério, que levou para os quadrinhos uma criação que tem tudo a ver com a nossa realidade. Só tenho a parabenizá-lo por esses 30 anos de competente trajetória”.Dalva Ventura
“Eu e o Antônio (se falarmos assim ninguém sabe quem é) Silvério somos alguns poucos dos famosos “móveis e utensílios” de A VOZ DA SERRA. Afinal, com 30 anos de dedicação à casa sempre surge esse tipo de brincadeira. E, por algumas vezes, nos encontros de fim de ano do jornal — jantares, churrascos — sentamos lado a lado. Nada premeditado, sempre espontâneo. Por tudo isso e muito mais ouso chamá-lo de meu companheiro.
Esses encontros de fim de ano acabavam suprindo a distância que nos separavam no restante do ano. Afinal, o Silvério, ao contrário de nós, repórteres, não permanecia na redação. Antes, quando tinha que trazer a charge em mão, ainda o víamos algumas vezes. Porém, sempre adiante do tempo, useiro e vezeiro dos benefícios da informática, do seu cantinho bolava, produzia e enviava suas charges. Aliás, o que faz até hoje. Com isso ele diminuiu suas vindas ao jornal.
Suas charges, muitas vezes, resumem o que nós levamos um tempão para pôr em nossos textos. Antenado, sempre aborda assuntos em evidência. Para mim, se destacam as relativas ao meio ambiente, princ ipalmente sobre o Rio Bengalas, outrora tão sofrido com a poluição e agora com a situação um pouco melhor. Inclusive me fez lembrar do nosso saudoso amigo ambientalista Aristóteles de Queiroz Filho, que admirava o Silvério por esse mesmo motivo.
Não guardou seu talento só para si. Professor, dividiu-o com seus alunos. Tão bom se surgissem mais ‘Silvérios’ por aí e pudéssemos admirar outros “Urbanos aposentados’ e tantas charges sobre o meio ambiente e outros assuntos.
Ter o Silvério como ‘colega de trabalho’, cada um na sua, é um orgulho para mim. Lá se vão 30 anos dele — e meu quase isso — de dedicação ao jornal A VOZ DA SERRA. Com certeza ele será tema de muitas conversas minhas no futuro, em que poderei tecer comentários sobre o orgulho de tê-lo por tanto tempo como meu companheiro.” Eloir Perdigão
10 mil e 956 dias de Silvério
Trinta anos é uma vida.
Não é raro ouvir essa frase nos corredores de A VOZ DA SERRA. “Fulano? Está aqui há 30 anos! Uma vida!”. E Fulano, orgulhoso, responde: “Quando eu cheguei aqui não existia nem computador”. Claro, considerando que nossa equipe hoje conta com uma boa porcentagem de gente que nem à preferência de Balzac chegou ainda, 30 anos é uma vida inteira mesmo.
Completar 30 anos dentro de um trabalho surpreende, principalmente por vivermos num mundo instantâneo. Não totalmente superficial, não sejamos assim tão incrédulos, mas certamente instantâneo, express, de relações que não se aprofundam, de eletrodomésticos que já não mais se conserta, de cartas que já não levam dias pra chegar. De peças substituíveis. De preguiça de pensar. De más notícias que chegam a galope — e boas que vêm de carroça. É o tempo do costume ou da revolta, sem meio termo. Ou nos acostumamos ao caos e vivemos com ele — e apesar dele, e contando com ele, ao lado dele —, ou, numa intempestiva, jogamos tudo para o alto, chutamos o balde, metemos o pé. Desistimos. Perdemos a coragem de enfrentar. Consertar o mundo quase ninguém quer. Exercitar a paciência, muito menos.
De fato, construir relações sólidas é tarefa cotidiana das mais difíceis. Mas há quem chegue lá. Essa semana, por exemplo, quem completou a façanha dos 30 anos em AVS foi Antônio Silvério.
Façanha, sim, não é para menos. A começar pelo próprio processo de trabalho de um desenhista, que exige atenção e paciência, muita paciência. Trabalho solitário, o da criação. Depois, o caráter satírico de uma charge, que muitas vezes — na maioria delas — mexe com gente grande, às vezes com brios infindos e egos inflamados. Ser chargista é quase uma profissão de risco. Por último, o prazo. Jornal é diário. As boas ideias precisam nascer todos os dias, com o tema definido, suas cores, sua história. Agora multiplique tudo isso por 30 anos. Uma vida! Uma vida colorida — e colorível.
Através dos olhos do artista, podemos ter outra percepção do mundo ao nosso redor. Enquanto o jornalista relata e o fotógrafo retrata o mundo tal qual ele se apresenta, o chargista precisa perceber nuances que passam por vezes despercebidas, ilustrá-las de forma que se perceba o humor — e fazer humor com coisa séria não é fácil — e que, ao mesmo tempo, não ofenda diretamente ou denigra a imagem do objeto, pessoa ou situação que se quer expressar. Ou seja: como se dizia antigamente, é não matar a galinha, mas também não deixar que a raposa morra de fome. Buscar um equilíbrio que, em tempos de sociedade instantânea, quase ninguém mais tem.
O chargista, é um corajoso. Conhece os problemas de toda uma sociedade e dá voz, vez, gesto a eles. O mundo está aí pra mostrar que botar a cara na reta é perigoso. O chargista, põe. Desenhar pra jornal é quase um ato de rebeldia. Então, não há melhor palavra para se definir uma charge que coragem. A VOZ DA SERRA celebra hoje mais que 30 anos de Silvério. Celebra 10.956 dias de coragem.
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