Cartões de Natal: demonstração de carinho de quem envia... emoção para quem recebe

De papel ou virtuais, os cartões mantêm a tradição natalina
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
por Jornal A Voz da Serra
Cartões de Natal: demonstração de carinho de quem  envia... emoção para quem recebe
Cartões de Natal: demonstração de carinho de quem envia... emoção para quem recebe

A tradição de enviar cartão de Natal pode ser mais antiga do que se imagina. Há registros de que povos pagãos, muito antes do nascimento de Jesus, entalhavam em pedra e madeira mensagens festejando o equinócio de inverno, quando o Sol, no ponto mais distante da Terra, começa sua jornada de volta, proporcionando assim o aquecimento das cidades e o derretimento do gelo. Simbolicamente, significava a esperança de tempos melhores. Os romanos também enviavam suas congratulações pela chegada de um ano novo, gravando as mensagens em tabletes de argilas, tipo tijolos. Durante séculos, foram usados vários materiais para se escrever mensagens felicitando os amigos: pergaminho, seda, placas de madeira e de cobre, barro cozido, papéis dos mais diferentes tipos e gramaturas. E, agora, qualquer material palpável vem sendo substituído pela forma virtual, através de computadores, celulares e tablets. 

Mas o charmoso costume de se enviar cartões pelo modo tradicional ainda resiste, embora não se possa apostar cegamente em sua longevidade. A vida dos cartões de papel pode (ou não) estar com os dias contados. O certo é que ainda tem muita gente que prefere este meio para enviar suas mensagens de fim de ano. 

Se depender do estudante Sérgio Caetano da Silva Berrel, de 22 anos, este negócio ainda vai ter fôlego por algum tempo, pelo menos. Cursando manutenção de computadores e redes, o rapaz, logo de manhã monta sua banca de cartões de Natal na Praça Dermeval Barbosa Moreira, que herdou do pai.

"Este é o meu primeiro ano aqui. Durante muitos anos — que eu me lembre, uns 13 ou 14 anos — meu pai montou bancas de cartão de Natal. Quando os cartões musicais começaram a desaparecer, ele foi desanimando e desistiu. Então, resolvi pegar o material que ainda tinha e assumi o negócio. Quando tenho curso, fico o dia inteiro e à noite, quando vou estudar, minha mãe me substitui”, conta Sérgio. "Comecei a vender os cartões no dia 6 de dezembro. A primeira semana foi muito boa, mas, às vezes, o movimento cai. A chuva também atrapalha um pouco.”

Sérgio diz que os melhores clientes são os mais velhos. "O pessoal que sempre enviou cartões para os amigos e familiares continua comprando. Os mais jovens preferem a internet, os celulares. Mas tem gente que vem aqui e compra até 30 cartões. Tem alguns que querem só um ou dois, mas quando digo que levando doze eles só pagam cinco reais, se animam e levam quantidades maiores”, revela, ressaltando que os clientes têm opções que custam de R$ 0,50 a R$ 4,00. "Tem os de Natal, de Ano-Novo, de orações e aqueles pequenos para colocar em presentes”, acrescenta. 

Várias papelarias também oferecem cartões, não só de Natal, como para outras datas comemorativas, aniversários, casamento e até de amigo secreto. Os Correios também mantêm os aerogramas de Natal e cartões de Boas Festas que já vêm com o valor de envio incluído, para todo o território nacional.


Cartões virtuais

Quem prefere os cartões virtuais aos de carne e osso, ou melhor, papel, tinta e outros detalhes, apontam várias vantagens para essa prática: pode ser mais rápido, não é preciso ir ao Correio, é uma opção mais sustentável, uma vez que se economiza papel e tinta. Pensando nisso, já existem muitos sites que oferecem, até de graça, cartões com diversas mensagens para todos os fins, inclusive as tradicionais felicitações de Natal e Ano-Novo. As opções vão desde mensagens simples, a animações com direito a música. Dependendo de quem envia e recebe, pode ser uma boa opção. Mas, se você está pensando em enviar este tipo de mensagem para todos os amigos, indiscriminadamente, vale analisar se o cartão virtual não será mais uma das muitas mensagens de fim de ano na caixa de entrada da pessoa. E ainda: será que o destinatário não sentirá falta da algo mais pessoal, escrita de próprio punho, que lhe desperte a curiosidade e a emoção de abrir um envelope? 

 

   

 

 

 

Cartões super especiais

 

Se um cartão de Natal tem a intenção de felicitar e demonstrar carinho por uma pessoa, imagine quando ainda vem com uma produção diferenciada dos demais, agregando um valor especial através de sua criação?

Tem pessoas que preferem fazer os próprios cartões e, durante meses, cortam papéis, cartolinas, pintam, desenham, colam objetos. Outras usam a tecnologia, no caso, o computador, para desenvolver lindos trabalhos. Tudo isso para transformar um simples cartão num verdadeiro presente. 

A publicitária Maria Helena Caldas, a "Leninha”, é uma dessas pessoas que se apaixonou pelo papel e fez dele a matéria-prima para sua veia artesã. Um de seus trabalhos são cartões para todas as ocasiões incluindo, é claro, o Natal. 

"O papel é um suporte muito bacana para eu expressar minhas ideias. É uma matéria-prima que dá muitas possibilidades, inclusive de gramatura”, diz ela, que inicia o trabalho no computador, mas não se rende à frieza da máquina, oferecendo aos clientes produtos diferenciados. "Na mesma remessa posso fazer, por exemplo, uma florzinha com miolinhos de cores diferentes. Um coração poderá ser vermelho, ou quadriculado, com bolinhas... cada um escolhe o que mais lhe agrada. E isso é que é bom, poder oferecer uma linha de cartões com o meu olhar. Fico ali com aquela ideia, pensando, criando. O próprio papel me dá essa possibilidade de me expressar de diversas formas. Exploro as dimensões, camadas. Meus cartões são muito trabalhosos, mas é um trabalho personalizado e por isso tem edição limitada. Eles refletem as coisas do dia a dia, que às vezes passam despercebidas: detalhes, minúcias, delicadezas”, explica. 

"A particularidade dos meus cartões é a descontinuidade”, aponta Leninha, que tem seus trabalhos comercializados em papelarias de Nova Friburgo e do Rio de Janeiro. Quem quiser conhecer um pouco mais seus cartões é só entrar na página do Facebook m.h.caldas.atelier.

 

Com os pés e boca: as ilustrações de artistas impossibilitados de utilizarem as mãos 

 

Fundada em 1956 pelo alemão Arnulf Erich Stegmann, a Associação dos Pintores com Boca e os Pés (APBP) reúne artistas plásticos que não podem utilizar as mãos para criar suas pinturas. Os dezoito pintores que iniciaram a entidade se multiplicaram pelo mundo. A sede no Brasil fica em São Paulo e conta com mais de trinta artistas. Alguns são vítimas da talidomida, de acidentes ou de armas de fogo, outros da poliomielite ou problemas ocorridos no nascimento. As causas são variadas, mas a garra para vencer as limitações e se autossustentarem é a mesma.  Mas o que isso tem a ver com o Natal? Além de promover exposições, a associação prepara todos os anos diversos cartões de Natal e um calendário de mesa ilustrado com os trabalhos desses artistas. O dinheiro arrecadado com a venda vai para os membros da entidade, mesmo os que ainda não estão no nível ideal para terem seus trabalhos incluídos nos projetos ou que não consigam mais exercer a atividade.

Uma das participantes da APBP é a paulista Eliana Zaghi, que nasceu em 1974 e dois anos depois foi vítima de poliomielite, o que a deixou paralisada do pescoço para baixo. Desde então, vive no Hospital das Clínicas, na capital paulista, onde aprendeu a ler, escrever e, com a boca, teclar no computador e pintar. 

O site da associação (www.apbp.com.br) explica que "os artistas associados recusam caridade, preferindo manter seu respeito próprio competindo em termos iguais com artistas "normais”; eles fazem de tudo para assegurar que sua Associação seja entendida como um trabalho, um negócio, e que não seja confundida com entidades filantrópicas, colorindo assim a apreciação pela sua arte por sentimento”. Diz também que, "uma vez que se tornam ‘membros’ (sócios), seu trabalho deve ser de um padrão que possa competir em estética e base comercial com os trabalhos de artistas convencionais”. 

 

"A visita dos pastores”, pintado com a boca por Jon Clayton, 

ilustra o mês de dezembro de 2014 no calendário da APBP

 

 

Qualidade artística. Esta é a exigência da APBP para

os cartões terem competividade no mercado 

 








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