Acompanhando há anos a política friburguense e conhecendo, por força da carreira desempenhada, a atuação dos homens públicos nos últimos quarenta anos, tenho uma opinião que manifesto sempre que sou consultado: a de que alguns prefeitos que passaram pelo Palácio Barão de Nova Friburgo desenvolveram uma política que chamo de varejo, enquanto raros foram os que se preocupavam com a política do atacado. Para definir, na prática, as diferenças destes dois tipos de administração municipal, diria que os primeiros se preocupavam com o dia-a-dia, com o imediato, com as medidas de pequeno porte, enquanto o atacadista tem uma visão mais ampla, mais à frente. Esta diferenciação não diminui a importância da atuação das duas espécies de políticos, nem aumenta a importância de qualquer deles. Ambos podem ser úteis para o desenvolvimento do município. O melhor exemplo de governante atacadista que se tem no Brasil é Juscelino Kubitschek.
Baseado nesta teoria, pode-se afirmar que Heródoto Bento de Mello faz parte deste tipo de governante. Suas metas são amplas e, por vezes, visionárias. Suas preocupações são maiores com o futuro, surpreendentes até para quem tem oitenta e poucos anos.
Nas outras passagens como mandatário mostrou também sensibilidade com as raízes e tradições friburguenses. Foi de Heródoto a iniciativa de subvencionar as bandas Euterpe e Campesina. O friburguense que acompanha um pouco a história do município deve lembrar que as nossas centenárias bandas estavam passando por crises que poderiam levá-las ao desaparecimento. Salvou-as a verba mensal que a Prefeitura lhes destinou, em troca de apresentações públicas.
Hoje, aquela sensibilidade demonstrada por Heródoto com as bandas de música deveria – e deve – se voltar para os clubes sociais da cidade. Não é segredo que alguns clubes da cidade estão à beira da falência. Um dos mais tradicionais, o Clube de Xadrez, já foi a leilão. O Nova Friburgo Country Clube e a Sociedade Esportiva Friburguense – fiquemos nos dois por serem centrais e mais antigos – passam por dificuldades que, se não forem ultrapassadas, poderão resultar no desaparecimento de ambos.
Com uma rede escolar municipal significativa, a Prefeitura – e aí apela-se para aquela sensibilidade do homem público Heródoto Bento de Mello – poderia celebrar convênios com o Country e a SEF, garantindo aos alunos da rede pública o acesso aos serviços disponíveis naqueles clubes, em troca de uma subvenção que asseguraria a sobrevivência daqueles dois importantes patrimônios de Nova Friburgo. Quadras de esporte, piscinas, salas de ginástica e musculação, campos de futebol e tantas outras atividades, que a grande maioria das crianças das escolas municipais nunca teriam oportunidade de usar e de participar, seriam franqueadas obedecendo a um critério pré-estabelecido entre o governo e a direção dos clubes conveniados. Evidente que caberia às partes o estabelecimento das normas de conduta e os valores a serem dispendidos.
Uma ideia a mais que exponho publicamente ao atacadista prefeito, uma outra que diz respeito ao carnaval, fica para uma próxima carta.
Nova Friburgo, 19 de março de 2009.
Lúcio Flavo Gomes da Silva
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