Carros alegóricos: luxo, beleza e perigo

segunda-feira, 02 de março de 2009
por Jornal A Voz da Serra
Carros alegóricos: luxo, beleza e perigo
Carros alegóricos: luxo, beleza e perigo

Henrique Amorim

Que os desfiles dos blocos de enredo e escolas de samba no carnaval são um espetáculo à parte, com muito colorido, brilho e esplendor, ninguém duvida. Porém, toda essa beleza em destaque nas noites de folia na Avenida Alberto Braune representa perigo, pois o translado dos carros alegóricos, alguns com mais de quatro metros de altura, dos barracões à passarela e vice-versa, é feito pelas vias públicas, expondo o pessoal de apoio das agremiações e também os foliões a riscos com as redes aéreas de luz e telefone. Em todos os desfiles a maioria das agremiações tem problemas para transportar as alegorias até a avenida devido à rede aérea.

Esse ano, por exemplo, as escolas Acadêmicos do Prado e Unidos da Saudade tiveram muitas dificuldades para levar seus carros até a passarela. Um dos intérpretes do Prado até ironizou na abertura do desfile as concessionárias de energia elétrica e telefone, que não auxiliaram o transporte dos carros da agremiação, entre o distrito de Conselheiro Paulino e o centro da cidade. Para permitir a passagem de um dos carros da Unidos da Saudade, a Autarquia Municipal de Trânsito (Autran) teve que serrar um dos semáforos do Viaduto Geremias de Mattos Fontes. Outra alegoria da agremiação ficou agarrada nas árvores da Avenida Comte Bittencourt.

As dificuldades trazem novamente a discussão sobre a necessidade de construção de uma área específica para os desfiles de carnaval em Nova Friburgo, ainda mais porque a grande estrutura do evento causa ainda outros transtornos à rotina da cidade. Mas, onde poderia ser construído o sambódromo da cidade? O leitor de A VOZ DA SERRA Adriano Freitas, que mora no Bairro Ypu, flagrou da janela de sua casa algumas das inúmeras dificuldades e os riscos de morte que o pessoal de apoio dos barracões das escolas correm para transportar as alegorias pelas ruas da cidade, em meio a fiações aéreas e galhos de árvores.

Devido a alguns fios que atravessam as ruas estarem rebaixados, os integrantes dos barracões que transportam os carros são obrigados a levantar os fios com o auxílio de vassouras. Outros se arriscam afastando a fiação com as próprias mãos. Como nem sempre é possível desviar as alegorias da rede aérea, muitos fios são arrebentados, deixando a população sem prestação de serviços como luz, telefone, TV e internet a cabo. E já que esses acidentes acontecem durante o feriado de carnaval, a demora no restabelecimento é inevitável. “O carnaval é muito bonito, mas quem paga por esses prejuízos? Quem paga pelas horas ao telefone tentando o restabelecimento dos serviços interrompidos? Quem paga pelos fios embolados que enfeiam as ruas?”, questiona Adriano.

Descarga elétrica em carro da Imperatriz de Olaria, há dois anos, causou tragédia na concentração

No carnaval de 2007 esses perigos observados todos os anos vieram à tona. Na concentração da escola de samba Imperatriz de Olaria, ainda em frente ao portão de acesso ao estacionamento da Prefeitura, um dos altos esplendores do quarto carro alegórico As minas do Rei Salomão esbarrou num cabo de alta tensão e pegou fogo. A descarga elétrica eletrocutou Alessandro da Silveira, 33 anos, que dirigia o carro. O rapaz morreu horas depois no Hospital Municipal Raul Sertã e teve o corpo velado na quadra da vermelho-e-branco.

O destaque José Adriano Gouveia, 38 anos, que já estava posicionado no alto do carro, também foi atingido pela descarga elétrica e caiu de uma altura de quatro metros, sofrendo traumatismo craniano. José Adriano está paraplégico. Outros destaques da escola também ficaram feridos. Integrantes da escola denunciaram na ocasião que a retirada do cabo de alta tensão foi solicitada às autoridades. Na época, muito se discutiu sobre a possibilidade do carro ter sido posicionado fora da área delimitada para a concentração das escolas, mas o fato é que a realização dos desfiles na Avenida Alberto Braune continua sendo um perigo iminente.

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