Capa: O último baile de D. Pedro II

sexta-feira, 11 de julho de 2008
por Jornal A Voz da Serra
Capa: O último baile de D. Pedro II
Capa: O último baile de D. Pedro II

Existem fatos na História do Brasil que a maioria já ouviu falar, mas não sabe bem como ocorreram. Um deles é ‘o último baile da realeza brasileira’, realizado na Ilha Fiscal. O imperador Dom Pedro II desejava construir um castelo naquela ilha, mas não gostou do primeiro projeto que lhe mostraram. Daí que ordenou que ele fosse refeito em estilo gótico, baseado nos castelos do século 14, em Auverne, no sul da França. Para tanto o monarca contratou um famoso engenheiro da época, chamado Adolpho José Del Vecchio.

A construção, muito bem acabada, levou sete anos e meio para ser completada, só ficando pronta em 1889, quando realizaram a urbanização da ilha. Entre as raridades da construção existe um relógio centenário de quatro faces no torreão, que funciona através de corda, que é dada duas vezes por semana.Não há quem não fique deslumbrado com uma visita ao castelo, que possui muitas obras raras e valiosas. O artesão Moreira de Carvalho encarregou-se dos mosaicos do piso do torreão, um belo trabalho realizado com mais de 15 tipos de madeira.

O brasão imperial foi confeccionado por um escravo artesão que ficou cego ao término da obra. Na saída do palácio o visitante pode apreciar um lustre original do século 19, feito em bronze e opalinas brancas. Os vitrais foram importados da Inglaterra. A pedido do Visconde de Ouro Preto, maravilhado com o palácio, foi organizado um baile no castelo, patrocinado pelo imperador. Oficialmente a festa seria uma homenagem ao comandante Banen, do navio chileno Almirante Cochrane.

A verdade, no entanto, era a confirmação das Bodas de Prata da Princesa Isabel e do Conde D’Eu, que já tinha sido realizada em 15 de outubro de 1889. Além do fortalecimento da monarquia, que já enfrentava os partidários da República. Uma escada em caracol com 38 degraus e revestida em cantaria leva à parte superior do castelo, onde foi realizada a troca de bandeiras entre o Brasil e o Chile. Esta sala é ornada com valiosos vitrais ingleses. De um lado, a figura de D. Pedro II; do outro, a da Princesa Isabel, ladeados por históricos brasões.

O baile custou cerca de 250 contos de réis, quase 10% do orçamento da província do Rio de Janeiro naquele ano. A oposição a D. Pedro II espalhou que essa quantia fora desviada, já que ela destinava-se a auxiliar as vítimas da seca no Ceará. A data prevista para o suntuoso baile era 19 de outubro de 1889, mas devido a grave enfermidade que acometera Luís I, rei de Portugal e sobrinho de D. Pedro II, foi mudada para 9 de novembro do mesmo ano, depois do falecimento do monarca português.

Segundo anotações da época, cerca de cinco mil convidados – incluindo a família imperial e os 300 tripulantes do cruzador chileno – estiveram presentes, boa parte deles pertencente à alta sociedade da época. Tanto os homens quanto as mulheres vestiram suas roupas mais luxuosas, mas o destaque foi para a Princesa Isabel, causando admiração a todos os convivas. Ela vestia uma roupa de moiré preta listada, tendo na frente um corpete alto e bordado a ouro. Nos cabelos levava um diadema de brilhantes.

O baile estava marcado para as 20h30, mas desde cedo uma multidão de curiosos se acotovelava em volta do cais Pharoux, que dá acesso à ilha, para assistirem à chegada dos ilustres convidados. Uma das seis bandas contratadas animava o povo, que ora aplaudia, ora vaiava a chegada dos convivas. Estes embarcavam em três barcaças a vapor que saíam do cais Pharoux (atual Praça XV de Novembro, no centro do Rio de Janeiro). Devido à debilidade de D. Pedro II, que sofria de diabetes, a recepção não foi feita pela família imperial. O quadro O último baile da Ilha Fiscal, de Francisco Aurélio de Figueiredo, retrata os que chegavam. Uma cópia dessa obra, feita por Robson G., está exposta na Ilha Fiscal. O original, no entanto, encontra-se no Museu Histórico Nacional (RJ). O menu servido foi o mais requintado possível. No baile foram consumidos dez mil litros de cerveja, 304 caixas de vinhos, champagne e outras bebidas. Os casais dançavam em seis salões, na maior alegria possível. Curiosidade: o castelo não dispunha de banheiros suficientes. Por isso, para os cavalheiros a saída era desapertar-se à beira do cais e as damas tinham que fazer uso de baldes dispostos em vários cantos do castelo.

Contam que, após a chegada da família real, D. Pedro II desequilibrou-se ao entrar no salão do baile, exclamando: “O monarca escorregou, mas a monarquia não caiu !”.

Triste engano. A alegria do baile durou pouco. Abandonado pelos seus aliados, a maioria ricos fazendeiros, D. Pedro II não teve como enfrentar seus opositores e, seis dias depois, em 15 de novembro de 1889, foi proclamada a república no Brasil. Toda a família imperial seguiu para o exílio na Europa na madrugada de 17 de novembro daquele ano.

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