CAPA: Ganhando o mundo sem sair da cidade!

Autodidata, o friburguense Guilherme Marconi marca com talento seu espaço no seleto universo dos ilustradores
sexta-feira, 27 de junho de 2008
por Jornal A Voz da Serra
CAPA: Ganhando o mundo sem sair da cidade!
CAPA: Ganhando o mundo sem sair da cidade!

Com apenas 26 anos, o friburguense Guilherme Marconi já conseguiu marcar seu nome na lista dos ilustradores mais disputados do mercado nacional. Entre seus clientes estão pesos pesados como a Nokia, Havaianas Brasil, Banco Itaú, AT&T, MTV, Sony Ericsson, Apple, ManteCorp, Camiseteria e Threadless, entre outros. No momento ele participa de uma exposição numa galeria voltada à arte digital na Romênia. Mas Guilherme Marconi ganha a vida mesmo é com publicidade. Recebe encomendas de tudo que é agência e, como se não bastasse, integra o casting de revistas editadas em países como Austrália, Argentina, Alemanha, Portugal, China, Inglaterra, Turquia, Espanha e Holanda. Recentemente, criou a embalagem da vodca sueca Absolute e uma ilustração para a propaganda de um banco norte-americano. Tudo isso sem nunca ter saído de Nova Friburgo, mais precisamente de Conselheiro Paulino, onde mora e trabalha.

Como é possível? A resposta está na ponta da língua. Guilherme tem três agentes que o representam, um em São Paulo (que foi quem o lançou no mercado), outro em Nova York e mais um, atuando em Paris e Londres. Com a internet ele consegue resolver tudo. Recebe as encomendas, os cases, manda os arquivos e até aprova as ilustrações com os diretores de arte, tudo por e-mail.

Tudo começou quando Guilherme resolveu criar um site e colocar seus desenhos pessoais na internet. Um agente paulista, que até hoje o representa, entrou por acaso na homepage e imediatamente entrou em contato, dizendo que estava em busca de novos ilustradores para a lista de profissionais de sua agência. Foi o início de uma bela e apoteótica carreira. O primeiro trabalho que fez foi, de cara, uma campanha da Nokia para a América Latina. Guilherme Marconi estava com apenas 20 anos.

Desde então, trabalho é que não falta para Guilherme e, não sem razão, está sempre enrolado. Vive na maior correria e, por isso mesmo, não consegue arrumar tempo para atender às inúmeras solicitações de clientes locais. “Juro que não é por bestice, não, é porque não dou conta mesmo”, afirma. No começo, até chegou a fazer sites de algumas confecções, mas hoje é impossível. Ele, simplesmente, não dá conta das encomendas. Nos últimos meses, só conseguiu atender a dois clientes locais, o Sushi Ban, que não conta, até porque o proprietário, Edgar, é muito amigo dele; e uma agenda para o Externato Santa Ignez, que havia sido encomendada com meses de antecedência pela Fábrica de Idéias.

Ainda assim, Guilherme Marconi é um daqueles friburguenses que se tornaram mais conhecidos lá fora do que aqui. Mas, apesar de não faltarem oportunidades de trabalho no Rio, em São Paulo ou fora do Brasil, ele nem pensa em mudar de cidade. “Gosto de morar aqui, Friburgo tem esta natureza maravilhosa, lugares fantásticos, foi onde nasci, cresci e me criei, onde vive toda a minha família, meus amigos, amo esta cidade”, diz.

“A arte digital nos libertou dos pincéis e das tintas”

Desde moleque, Guilherme sempre gostou de desenhar. Passava as tardes desenhando sem parar, até porque estudar nunca foi muito a sua praia. Isso até os 16 anos, quando teve seu primeiro contato com as ferramentas de desenvolvimento da web e ficou apaixonado por aquele mundo. Foi nesse momento que começou a se interessar e a levar o design a sério. “Com o tempo fui tendo a oportunidade de atuar em outros segmentos do design. Foi meio que acontecendo, uma coisa foi levando a outra”, conta.

Fez apenas um curso técnico de informática, assim mesmo porque foi praticamente obrigado pela mãe. Na hora de se decidir por uma faculdade, preferiu se profissionalizar e garante que o curso superior nunca lhe fez falta. “Ninguém nunca me perguntou se tenho curso superior ou não, até por causa da linha de trabalho que desenvolvo”, afirma.

Seja como for, ainda bem novinho, Guilherme começou a trabalhar como webdesigner em pequenos estúdios da cidade. Logo percebeu, porém, que não tinha muita paciência para aquilo. “Gostava do que fazia, mas achava que poderia me explorar mais se estivesse sozinho”, afirma. De lá para cá, Guilherme já teve uma marca de camisas com estampas baseadas no design experimental. Há cerca de dez anos, foi um dos organizadores da Expo Arte Digital, com obras 100% produzidas em computadores, que reuniu os principais expoentes desse novo movimento artístico aqui em Nova Friburgo.

Acredite quem quiser, mas Guilherme garante ter a maior raiva de computadores. Brincadeiras à parte, diz que “computador dá pau, trava, a gente perde um montão de coisas, mas ainda é a melhor ferramenta que se tem”. E ele usa basicamente dois aplicativos, o Corel para desenhar e o Painter, para pintar.

Mas reconhece que a arte digital libertou os artistas dos antigos pincéis, tinta, tela e lápis, inserindo-os em um novo contexto. Uma sorte para ele, que nunca se deu muito bem com nada disso, até por ser, como diz, “ansioso demais”. Já tentou usar tinta acrílica, que seca mais rápido, mas admite que, sinceramente, não sabe pintar “com aquilo”. Também já tentou desenhar com tinta a óleo, chegou até a fazer um curso de pintura, mas não deu certo. “Simplesmente não consigo esperar dias e dias até a tinta secar. Acho lindo quem pinta, mas eu não consigo esperar”, declara. Mas desenhar, lá isso ele gosta (e como gosta!), tanto para fins profissionais como experimentais.

Seja como for, Guilherme Marconi ganha a vida mesmo é com publicidade, embora não abra mão de criar só por criar. No momento, ele está, inclusive, participando de uma exposição numa galeria voltada para a arte digital na Romênia e algumas destas peças estão expostas no Sushi Ban.

Segundo o próprio artista, o grande atrativo de suas ilustrações é realmente sua preocupação com o equilíbrio das cores e os detalhes. Acredita que sua paixão pela cor venha do folclore, do clima e da cultura do Brasil. Faz questão de saber o que está em alta na moda, como o tipo de estampas, as cores e tudo mais. “Isso acaba me ajudando a criar peças que são mais facilmente aceitas pelos clientes e pelo público”, diz.

Quanto a seus trabalhos experimentais, Guilherme está sempre procurando fundir movimentos artísticos passados com os atuais e, por conta disso, acabou estudando muita gestalt, ótica, semiótica e também psicologia das cores. Em seus desenhos é clara a influência de desenhos e séries de TV como Heroes, Lost, Prison Break, Smallville, Naruto, Avatar e Stargate Atlantis, que ele não perde por nada neste mundo. Também se assume como um viciado em jogos. Além desses fatores, está sempre trocando idéias com outros designers que tenham coisas novas a mostrar.

Guilherme prefere não definir seu estilo, até porque, diz, ainda está numa fase de experimentações. “Ainda estou em busca de mim mesmo”, reconhece. Quem quiser conhecer mais sobre a obra de Guilherme Marconi é só acessar seu site: www.marconi.nu.

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