Capa: Flores que valem ouro!

Graças a Nova Friburgo, Rio de Janeiro consegue suprir a demanda de flores
sexta-feira, 23 de maio de 2008
por Jornal A Voz da Serra
Capa: Flores que valem ouro!
Capa: Flores que valem ouro!

Muito utilizado em arranjos para decoração, o crisântemo e a palma, produzidos no território fluminense, já atendem a cem por cento da demanda destas espécies no estado. A avaliação é dos próprios produtores, que anteriormente dividiam esse mercado com os produtos vindos principalmente de São Paulo. É da localidade de Vargem Alta, distrito de São Pedro da Serra, em Nova Friburgo, que saem mensalmente 60 mil mocas de crisântemos (maços com cerca de 1 ½ kg, formado por dez a 20 hastes, com dez flores cada uma), para serem comercializadas, em sua maioria, no Centro de Abastecimento da Guanabara (Cadeg), em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. O preço de venda da moca sofre alterações de acordo com a variedade e época do ano. Atualmente são vendidas na faixa de R$ 5 a R$ 8 cada.

Antigamente, o forte da região era a produção agrícola, mas, devido ao plantio de flores obter maior produtividade em menor espaço de terra, 80% dos produtores trocaram o tipo de plantação. Em Nova Friburgo, dos cerca de 220 agricultores familiares que produzem flores de corte de clima temperado, com propriedades de um a dois hectares em média, cem respondem por praticamente toda a produção de crisântemos que abastece o mercado fluminense. De acordo com Nazaré Dias, coordenadora do programa Florescer – para incentivo à produção de flores e plantas ornamentais – da Secretaria Estadual de Agricultura, o crescimento da produção desta espécie se deu nos últimos cinco anos, a partir do momento em que a floricultura no estado passou a ser vista como uma atividade do agronegócio e a contar com políticas públicas específicas para o segmento. “Houve capacitação e treinamento de produtores, que passaram a conhecer as demandas e exigências do mercado. Aqueles que anteriormente cultivavam várias espécies passaram a focar a sua produção para direcionar o abastecimento. Embora seja um produto que não alcance grandes cotações de preço, a rentabilidade do produtor se dá em função do volume comercializado”, explica Nazaré.

Cooperativismo: estratégia para ganhar o mercado

É uma pena que os produtores encontrem tantas dificuldades para conseguir o financiamento do programa. Desde que teve início, apenas dois produtores de Vargem Alta conseguiram ser beneficiados até agora. O produtor rural Manoel Vadite Chaboudet, que há 20 anos produz flores em Vargem Alta, destina grande parte dos 13 hectares de sua propriedade para o cultivo de crisântemos e acredita que, para que o produto da localidade obtenha melhores ganhos e competitividade no mercado, é necessário o estabelecimento de padrões de qualidade e a definição de uma marca que diferencie a flor produzida na região. “A união dos produtores neste momento é fundamental para que possamos criar infra-estrutura para consolidar nossa participação no mercado estadual e abrir novos canais de comercialização, inclusive em outros estados”, avalia Vadite, revelando os planos dos produtores da região de criar uma cooperativa para vender o produto fora do estado e até mesmo do país. Atualmente o produtor aguarda a liberação de financiamento do Florescer para investir em sua produção. Os R$ 50 mil do crédito serão usados na construção de estufas para produzir chuva-de-prata, flor de corte utilizada para composições em arranjos florais. Devido a sua sensibilidade, exige cultivo protegido para garantia de qualidade e produtividade.

A produção de crisântemos de Vargem Alta já é uma referência. Depois das rosas, é a segunda flor de corte mais comercializada, tanto no estado quanto no país. É comum a visita de produtores de outras regiões para conhecer a tecnologia utilizada pelos produtores serranos. Tecnologia que pode ser aperfeiçoada. Por isso, instrutores do Sebrae em parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura estão promovendo cursos na comunidade para orientar os plantadores de flores que desejarem se unir através do cooperativismo e, assim, padronizar e dar mais qualidade nas flores de corte produzidas na região. “Enquanto dominamos o mercado de crisântemo, por exemplo, não cultivamos flores de vaso. Todas as flores deste tipo vendidas no estado vêm de São Paulo. Esse é um mercado em que também estamos de olho, mas para isso, temos que nos modernizar e desenvolver novas técnicas. A cooperativa pode nos proporcionar este avanço de tecnologia, o que nos permitirá concorrer com São Paulo, uma vez que, padronizando nossos produtos e embalando-os de maneira a atender às exigências do mercado, concorrer com os produtores do estado vizinho”, explica Manoel Vadite.

Plantação demanda trabalho inimaginável pelo consumidor

Na produção de 14 alqueires de Vadite (o que corresponde a aproximadamente 677.600 m²), trabalham diariamente 15 pessoas. Só de crisântemos são produzidas 1.200 mocas mensais, o que ocupa 13 hectares do terreno (130.000 m²). Cada moca tem de 15 a 20 pés de flores. O crisântemo é uma planta de ciclo rápido que leva apenas 90 dias entre o plantio e a colheita. O manejo é um dos segredos que os produtores de Vargem Alta dominam para atender à demanda do mercado fluminense. Como cada planta só dá uma florada, estão sempre plantando novas mudas, tendo plantas em vários estágios de desenvolvimento. “Enquanto colhemos um canteiro, iniciamos o plantio de outro. Ao contrário da rosa, que é uma planta perene, o crisântemo só floresce uma vez. Por isso, estamos sempre plantando novas mudas”, ensina Vadite, revelando ainda que crisântemo e monsenhor são nomes do mesmo tipo de flor. Os cuidados com o pós-colheita também garantem a qualidade da planta. Depois de colhida, é necessário hidratar a flor e guardá-la em câmaras frias, os chamados frigoríficos, até serem entregues no mercado. As flores não podem permanecer por mais de sete dias nesses locais.

Para produzir com qualidade é necessário estufas e irrigação. Uma curiosidade são as lâmpadas nas estufas. O produtor Manoel Vadite conta que são necessárias lâmpadas acesas na produção durante quatro horas por noite para o crisântemo desenvolver. Já de outubro a janeiro é necessário cobrir as flores com plástico preto todos os dias, das 16h às 8h. A explicação técnica do procedimento vem da coordenadora do programa Florescer. “O crisântemo é uma planta de dias curtos, que tem fotoperíodo crítico de 13 horas. Para que ocorra seu crescimento, é necessário que a duração da luminosidade dos dias seja superior a 13 horas, por isso utilizam-se as lâmpadas. Já na época da floração, são necessários dias mais curtos. Para escurecer os canteiros e dar a falsa impressão de noite, o produtor utiliza plásticos escuros, explica Nazaré.

O crisântemo é uma planta de tradição de cultivo milenar nos países asiáticos. Em grego significa flor de ouro. É cultivada há mais de 2.500 anos na China e considerada uma das plantas nobres do país. Foi levada ao Japão pelos budistas e, por sua semelhança com o sol nascente, acabou por se tornar um símbolo do país, inclusive fazendo com que o trono do imperador ficasse conhecido como o Trono do Crisântemo.

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