Campanha Setembro Amarelo: precisamos falar sobre o suicídio

Abordar o tema abertamente é a forma mais eficaz de prevenção. Saiba como proceder em Nova Friburgo para ajudar quem precisa
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
por Ana Blue
(Foto: George Hodan)
(Foto: George Hodan)

Doenças, limitações físicas ou financeiras, depressão, solidão, traumas: o que leva uma pessoa a decidir pôr fim à própria vida? As estatísticas são assustadoras: a cada 40 segundos, uma pessoa se suicida no mundo, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). O estudo aponta ainda que os homens cometem suicídio com frequência até três vezes maior que as mulheres—principalmente nos países mais ricos. Sobre as causas, o relatório afirma que a relação do suicídio com desordens mentais provocadas especialmente por abuso de drogas e álcool está entre as principais causas, assim como o estresse e problemas financeiros. Outras causas comuns são os traumas—histórico de violência, desastres naturais, perdas—abusos e isolamento social. Entretanto, segundo o psicólogo clínico Mario Teixeira Dias, não existe um perfil específico que possa antecipar em uma pessoa a tendência ao suicídio.

No Brasil, todos os dias, 28 pessoas se suicidam—e, para cada morte, há entre 10 e 20 tentativas. Ainda mais alarmante é a taxa de mortalidade entre os mais jovens: nos últimos dez anos, aumentou em 40% o número de mortes de crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, e 33% entre aqueles com idades entre 15 e 19 anos, de acordo com o Mapa da Violência 2014. Em quase todos os casos, um dos seguintes fatores está associado ao desfecho trágico: depressão e/ou transtornos mentais e psicológicos, alcoolismo e uso de drogas, bem como as idiossincrasias típicas dos jovens, que muitas vezes são negligenciadas. “Este período deve ser observado com atenção, pois persistindo os sintomas de afastamento social e demais características depressivas (como diminuição da volição, higiene e apetite), a família deve se precaver e buscar ajuda”, ressalta o psicólogo. O Brasil é o 8º na lista dos países com maior número de casos de suicídio, ficando atrás apenas de Paquistão, Coreia do Sul, Japão, Rússia, Estados Unidos, China e Índia, que lidera o ranking. 

“A ideia do suicídio é uma grande consolação: ajuda a suportar muitas noites más.” (Nietzsche)

Ou seja, o suicídio, de modo geral, não é algo específico de determinada classe ou etnia e tampouco depende do nível de escolaridade do indivíduo. Mas, ainda assim, para os profissionais que trabalham na área da saúde, tratar do assunto ainda é um tabu para a sociedade—o que dificulta a prevenção. Por este motivo, em uma tentativa de reduzir as taxas de suicídio no mundo—a meta é diminuir em 10% até 2020—, a Associação Internacional de Prevenção ao Suicídio criou a campanha Setembro Amarelo, e estabeleceu o dia 10 de setembro como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, com o intuito de divulgar ações preventivas e amenizar o estigma que cerca o assunto, a fim de que ele seja amplamente debatido.

Como ajudar?

Existe um comportamento recorrente e preocupante que pode indicar uma tendência ao suicídio. Via de regra, antes de efetivamente cometê-lo, a pessoa chega a falar sobre o assunto, usando frases como “não aguento mais”, “eu queria sumir desse mundo” e até mesmo afirma que preferiria morrer a enfrentar as adversidades que a atormentam. Como um pedido de ajuda.

Nem todo deprimido vai baixar de vez as próprias cortinas, mas a depressão continua sendo o maior estopim. Por esse motivo, é preciso estar atento ao menor sinal—desinteresse pela vida, indiferença ao que antes proporcionava prazer, desleixo com a própria aparência e saúde. Aliás, até uma melhora súbita no quadro pode ser um indicador de alarme: em muitos casos, a pessoa simula a própria recuperação, a fim de escapar dos olhos dos outros. Segundo Mario Dias, geralmente o suicídio ocorre na fase da melhora. “Uma pessoa depressiva não tem força o bastante para agir. Mas a depressão é cíclica: alterna o período de prostração absoluta com uma fase de recuperação. E é justamente nesse momento que a pessoa tem energia para optar pelo suicídio”, complementa.

O ideal é falar abertamente com a pessoa—na verdade, ouvi-la mais que falar—e não deixá-la sozinha. E, claro, buscar junto a ela a orientação de um profissional. Restringir o acesso a ferramentas destrutivas—álcool, drogas, remédios, venenos, armas—é outra medida que pode ser eficaz.

O papel das instituições

O atendimento ao paciente que tenta suicídio deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, que envolve psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, entre outros. Em Nova Friburgo, a Secretaria Municipal de Saúde possui um Protocolo de Tentativa de Suicídio, que funciona da seguinte forma: inicialmente o paciente é encaminhado pelo serviço de emergência (se houver necessidade) até o Hospital Municipal Raul Sertã para avaliação clínica e preenchimento de formulário de controle de suicídio e lá recebe acompanhamento psiquiátrico e psicológico de acordo com a necessidade. Após alta do hospital, o paciente é encaminhado à rede de assistência psicológica. Assim, poderá ser realizado o acompanhamento efetivo por psicólogos e/ou psiquiatras no ambulatório, além da equipe de acompanhamento em dependência química, quando é o caso. Os ambulatórios e o Caps também recebem pacientes que tentaram suicídio mas não tiveram danos clínicos pela tentativa. Desta maneira é iniciado o acompanhamento ambulatorial sem necessitar passar pelo hospital.

Outra ferramenta de apoio às pessoas que se encontram vulneráveis e propensas ao suicídio é o CVV (Centro de Valorização da Vida), um serviço gratuito e realizado exclusivamente por voluntários desde a sua fundação, há mais de 50 anos. A instituição oferece apoio emocional àqueles que desejarem conversar sobre seus problemas através do telefone 141, Skype, chat, e-mail, carta ou até mesmo pessoalmente. São mais de 2.000 voluntários, divididos nos 68 postos de atendimento em todo o Brasil, que realizam cerca de 1 milhão de atendimentos ao ano. Para conhecer o CVV, acesse http://www.cvv.org.br.

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