Eloir Perdigão
Adiada do domingo anterior devido às comemorações de um ano da posse de d. Edney Gouvêa Mattoso como bispo diocesano, a Campanha da Fraternidade 2011 foi aberta em Nova Friburgo na tarde de domingo, 20.
A concentração foi feita na Praça do Suspiro, seguida de caminhada pelo Centro até a Catedral São João Batista, onde d. Edney presidiu a missa, concelebrada por diversos padres das paróquias friburguenses. O tema da CF deste ano é Fraternidade e a vida no planeta, com o lema A criação geme em dores de parto.
A CONCENTRAÇÃO – Diante da Capela de Santo Antônio, parcialmente destruída pela tragédia climática de janeiro passado, havia muitas orações e cânticos, mesmo com animação sem som, devido à falta de energia elétrica. O problema foi solucionado, mais tarde, com o posicionamento do carro de som programado para a caminhada.
O professor e ambientalista Fernando Cavalcante levou os fiéis a uma reflexão sobre as reações da natureza diante de tantas agressões. Ele disse que nos últimos três séculos foi estabelecida uma forma de viver que não estava de acordo com os planos da natureza e da criação e que a natureza tem entrado com a matéria-prima e ainda suporta o lixo produzido. Cavalcante abordou a destruição das florestas em todo o mundo e a transferência da água das árvores abatidas para a atmosfera.
– E depois não queremos que chova muito? – deixou a pergunta no ar.
De acordo com Fernando Cavalcante, este sistema não é coerente com os planos da natureza e da vida e é preciso que mudemos nosso comportamento, nosso modo de consumo. “Afinal, nosso padrão de felicidade não é o mesmo do consumismo desenfreado, tem de ser o da família, de Deus”. O professor exortou a todos a agir, começando por separar o lixo orgânico, molhado, do lixo reciclável, seco, com dois cestos de lixo em casa, além de sugerir mutirões para plantio de árvores. “Nós precisamos tratar melhor nossas águas”, encerrou.
Ainda na concentração, Milton Martins Monteiro, da Associação Católica da Juventude Friburguense (ACJF), fez um histórico da Campanha da Fraternidade, iniciada em 1964, e a partir de 1984, em Nova Friburgo, passou a ter a abertura na ruas. A trovadora Elizabeth Souza Cruz também declamou algumas trovas sobre o tema da CF.
ORAÇÃO DA CF 2011 – O animador Sérgio Ladeira, também da ACJF, leu para os fiéis a Oração da CF 2011:
“Senhor Deus, nosso Pai e Criador. A beleza do universo revela a vossa grandeza, a sabedoria e o amor com que fizestes todas as coisas, e o eterno amor que tendes por todos nós. Pecadores que somos, não respeitamos a vossa obra, e o que era para ser garantia da vida está se tornando ameaça. A beleza está sendo mudada em devastação, e a morte mostra a sua presença no nosso planeta.
“Que nesta Quaresma nos convertamos e vejamos que a criação geme em dores de parto, para que possa renascer, segundo o vosso plano de amor, por meio da nossa mudança de mentalidade e de atitudes.
“E assim, como Maria, que meditava a vossa palavra e a fazia vida, também nós, movidos pelos princípios do evangelho, possamos celebrar na Páscoa do vosso filho, nosso Senhor, o ressurgimento do vosso projeto para todo o mundo. Amém”.
A CAMINHADA – Com muitos integrantes de organizações religiosas e das paróquias, com estandartes, faixas e cartazes, orações e cânticos, a caminhada saiu da Praça do Suspiro e seguiu pela Rua Francisco Miele e Praça Getúlio Vargas até a Catedral.
O bispo diocesano, d. Edney Gouvêa Mattoso, falou à reportagem de A VOZ DA SERRA sobre a coincidência da escolha do tema da Campanha da Fraternidade e a tragédia climática que se abateu sobre a cidade. Ele comentou que é preciso aprender a ler os sinais dos acontecimentos, os apelos que Deus faz ao coração de cada um de nós. Precisamos ouvir a voz da própria natureza, “que geme em dores de parto”, como cita o lema da CF.
Para d. Edney, a Quaresma é um tempo próprio para esta reflexão, para que cada um colabore para que essas situações se revertam, até mesmo na vida pessoal, para que cada um faça sua parte.
– Nós devemos ter esse espírito de fé, esse olhar atento para ver esses sinais que Deus vai nos mostrando com sua misericórdia, com seu amor, e ao mesmo tempo perceber os sinais de uma natureza que adoece e nós não estamos nos dando conta disso.
TEMPO DE REVISÃO – Na missa, celebrada na Catedral completamente lotada, d. Edney comentou que o tema da CF este ano chama a atenção para o planeta inteiro, pois a natureza está adoecida por tantos desrespeitos causados pela ganância. O bispo diocesano frisou que a Quaresma é tempo de revisão, pois quando a natureza é atingida – tanto a natureza de cada um quanto a criação – não podemos imaginar as consequências.
D. Edney agradeceu aos que participaram da abertura da CF, referindo-se ao povo de Nova Friburgo, “sofrido, mas não vencido”, e que precisamos soerguer não só a nossa cidade, mas a nós mesmos, para que cheguemos a uma verdadeira Páscoa de ressurreição. “Que Deus nos ajude a reestruturar nossas vidas neste mundo tão bonito que ele nos deu”.
Na missa, d. Edney enfatizou que os bens da natureza podem se esgotar e criticou o lucro a qualquer preço, que tem atingido a vida no planeta.
– Se ouvíssemos mais a palavra de Jesus, o seu ensinamento, certamente não estaríamos passando pela situação atual. É impossível parar um processo se não mudarmos o nosso coração. Faz-se necessária a conversão dos corações – afirmou.
D. Edney enfatizou que é preciso ter coragem para ouvir a voz de Deus, que é preciso haver mais ética na administração dos bens criados, que não devem ser simplesmente sugados. “O que nos põe em pé é a nossa fé”.
– Deus nos deu o poder de proteger e dar sustentabilidade a este planeta. Os rios, suas nascentes e margens não devem ser ocupados para atender interesses escusos.
E lembrando uma palavra de Jesus Cristo numa das leituras daquele domingo disse: “Levantai-vos e não tenhais medo”. E completou: “Cada um de nós, neste tempo propício da Quaresma, devemos ser promotores da vida”.
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