Calote no comércio aumenta 2% em média: dívidas com cartões de crédito lideram

quinta-feira, 05 de agosto de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Henrique Amorim

O governo tem comemorado o aumento das oportunidades de emprego com carteira assinada no último semestre. Com isso, mais dinheiro passou a circular, estimulando os consumidores a irem às compras. Só que muitos deles investiram nas compras a crédito, mas não tem conseguido efetuar os pagamentos das prestações em dia. A inadimplência no mês passado cresceu aproximadamente 2% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), entidades de proteção ao crédito e associações de lojistas do estado do Rio de Janeiro. O maior percentual de devedores é dos consumidores que fizeram compras com cartões de crédito: 70,4% dos que efetuarem compras recentes têm algum débito com as operadoras de cartões.

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), feita mês passado com 17,8 mil consumidores em diversos estados brasileiros pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) apontou ainda que não são apenas os consumidores com menor renda que estão em débito com os cartões de crédito. Dos que ganham até dez mínimos por mês, 70,8% estão inadimplentes com as operadoras. Na mesma situação estão 67% dos que ganham acima desse patamar.

Em Nova Friburgo não há estatísticas sobre a inadimplência, mas muitos comerciantes já observam o aumento no calote. “Acredito que a Páscoa e o Dia das Mães estimularam muita gente a ir às compras sem fazer as contas direito. No final, as prestações não couberam no orçamento”, observa o vendedor de uma loja de eletroeletrônicos no Centro, Leandro Silva Campos.

Ele conta ainda que já recebeu nas últimas semanas a visita de clientes devedores com interesse em renegociar as dívidas e disponíveis até a aumentar o número de prestações com valores mais suaves. “O povo, em geral, não quer ficar em débito, mas sempre exagera nas compras sem contar com os gastos de emergência que surgem sempre prejudicando qualquer orçamento doméstico. Qual a família que não precisa em determinado mês ter despesas inesperadas com médicos e remédios, por exemplo”, avalia a gerente da loja, Valéria Gonzaga, que admite já ter orientado alguns clientes a refazerem as contas e não comprometerem tanto o orçamento mensal com o pagamento de prestações de produtos não tão essenciais assim. “Às vezes é melhor perder uma venda do que não conseguir receber o valor previsto”, diz.

Boom na venda de TVs antes da Copa, carnês atrasados agora

Alguns lojistas de Nova Friburgo observam também que por conta da Copa do Mundo, houve uma grande corrida às lojas de eletrônicos para compra de TVs de plasma que custam em média R$ 1,4 mil. “Todo mundo quis assistir aos jogos da seleção brasileira numa TV de tela plana e com boa definição de imagem, mas como o Brasil perdeu, teve gente que esfriou também na hora de pagar as prestações. Outro dia um cliente esteve aqui e nos ofereceu a TV de volta devido a dificuldade de pagamento e alegou que perdeu o interesse na TV nova com a derrota da seleção. Outros compraram além da conta e assumiram prestações que não cabem no bolso e agora estão devendo”, entrega o vendedor Guilherme Peçanha.

Pesquisa nacional aponta que mais da metade dos consumidores tem dívidas

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da CNC, revelou ainda que ter dívidas atualmente não é uma dor de cabeça apenas de quem exagerou nas compras nos dias das Mães, dos Namorados e recentemente no período pré-Copa. De acordo com a pesquisa, feita mês passado, 57,7% dos consumidores brasileiros possuem alguma dívida, seja com o comércio, cartões de crédito ou alguma instituição financeira. Em junho, 54% dos consumidores tinham algum débito na praça.

A pesquisa realizada anualmente revelou também que no mês passado 7,6% dos brasileiros inadimplentes tinham alguma dívida com cheques especiais; desse percentual, 6,8% tem renda inferior a dez mínimos. Quanto ao cheque pré-datado, o nível de endividamento é de 4%. O estudo apontou ainda que 4,8% dos brasileiros entrevistados tinham algum empréstimo consignado para quitar em julho.

Inadimplência é maior entre as mulheres

As instituições de proteção ao crédito de São Paulo e do Rio de Janeiro revelaram recentemente um dado curioso. Em maio as mulheres lideram o ranking da inadimplência: 76% das que efetuaram compras a crédito não estão com os carnês em dia. Outra revelação das entidades é que a maioria das dívidas se referem a compras inferiores a R$ 250. No Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), o ranking de registros de mulheres devedoras, principalmente com cartões de crédito, chega a 58% nas principais capitais brasileiras. Das mulheres devedoras, 27% delas tem entre 30 e 39 anos e 6,28% tem mais de 65 anos.

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