Nova Friburgo, 6 de maio de 2009. Quarta-feira. Meu filho de dez anos está em casa! Os filhos de muitas famílias desta cidade estão em casa. Sem aula! Como e por que isso está acontecendo?
Bom, tentar explicar o inexplicável é difícil, mas estou certa de que é absolutamente necessário que alguém o faça. Não sou autoridade para falar de um assunto tão complexo, com nuances legais, estruturais e políticas. Sou mãe. Sou cidadã.
A mãe/cidadã Deidi hoje acompanhou seu filho à escola Cecília Meireles e lá, juntamente com outros pais atônitos, recebeu a notícia de que seu filho vai voltar para casa, com sua rotina totalmente alterada, sem entender por que - não sendo feriado ou período de férias - não terá aula, não mostrará a lição feita em casa, não fará as lições em sala, não brincará com seus amigos, não ouvirá a história tão carinhosamente contada por sua professora, porque ela, a professora, não estará lá para recebê-lo como em outros dias normais.
E a grande maioria vai lamentar algo ainda mais doloroso: não almoçará na escola e nem em lugar algum, porque não tem mesmo, porque a mãe saiu cedo para fazer o almoço da patroa, porque o pai está na fábrica que não paga há um ano o salário justo dos trabalhadores, ou está na fila do hospital esperando atendimento, porque a essa altura já não tem saúde. É ou não uma calamidade?
Crianças de todas as idades fora da escola. O que estarão fazendo longe das vistas de seus pais os maiores? O que será das menores, cujas mães são impedidas de levar filhos ao seu local de trabalho? O que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente sobre crianças fora da escola? O que estará passando pelo coração de uma mãe que não garantirá o alimento do seu filho pelo menos na escola?
E por que eu, que posso ter meu filho em escola particular, estou nessa situação? Porque a escola que escolhi para meu filho aplica a pedagogia Waldorf. Se ela fosse particular, meu filho estaria lá. Acontece que em Nova Friburgo, as duas escolas Waldorf’s têm contado com a sensibilidade e a participação dos representantes da administração municipal, numa parceria fundamental para que as crianças de nossa comunidade tenham um ensino diferenciado e de qualidade. Precisamos manter esse olhar para todas as escolas da rede pública. Na verdade, precisamos manter um olhar mais cuidadoso para o ensino em geral. Temos muitas discussões que urgem!
Nesse momento, o foco é o aluninho de todas as idades fora da escola. Por um equívoco, ou vários, de adultos que deveriam assegurar o contrário.
Só estou tentando olhar através dos olhos de todo mundo. Alguém errou muito lá atrás e as pessoas que estão hoje empenhadas em resolver esse erro não estão aqui em julgamento. Quero que me ajudem a entender a situação e tomar uma posição imediata, porque os professores estão sem trabalho e as crianças sem aula. Porque o hospital não está em diferentes condições e os doentes somos todos nós. Todo o serviço público municipal está comprometido, porque tudo depende de um concurso feito há dez anos e que está sendo questionado judicialmente.
Mas em dez anos o município teve que andar, fazer, desfazer, contratar, gerir e administrar de maneira a manter o básico. As pessoas trabalharam, investiram em especializações, empregaram tempo e suor nas suas tarefas.
Crianças fora da escola é uma responsabilidade tão grande, que os pais não podem ficar sozinhos para decidir o que fazer. Os prejuízos são incalculáveis. Sofre a criança, em primeiro lugar. Sofrem os pais, a escola, o bairro, a cidade, o país e o mundo. É muito sério, isso!
Não dá para pedir aos diretores, professores e demais funcionários que sejam amigos da escola, nos moldes em que se propõe. Nós não temos esse direito.
Ser amigo da escola é lindo, mas fica bem na Globo, na figura de Tony Ramos. Estamos falando de um professor que tem muito amor pela escola e pelos seus alunos, mas não vai ter salário, que não tem vale transporte, que tem contas a pagar e está desempregado.
Todas as escolas públicas do município de Nova Friburgo estão sem o número de professores necessários para dar aula àqueles que amanhã poderão ser o prefeito, o professor, o médico o comerciante, o advogado, o ministro, o vereador...
Você não precisa ser mãe de aluno da escola pública, você pode até ser dono de uma escola particular. Isso nos nos diz respeito a todos.s Ajude-nos a entender e, compreendendo o que está acontecendo em nossa cidade, ajudemo-nos a buscar soluções para o dia de ontem!
Deidi Lucia Rocha
Mãe de aluno
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