A história do café na nossa região não pode ser contada sem passar por João Baptista Rodrigues Franco. Antes da chegada da corte portuguesa, ele, que era soldado, veio com o destacamento militar da coroa reprimir a exploração clandestina do ouro, por um grupo de garimpeiros liderados por Mão de Luva, que atuava na localidade onde atualmente se situa o município de Cantagalo. Foi ali que João Baptista se fixou, sendo um dos fundadores de um pequeno povoado.
Quem conta o restante da história é o tradutor Roberto Grey, um dos descendentes do soldado: "Em 1793, ele requereu ao vice-rei meia légua de terras nas chamadas Novas Minas das Cachoeiras de Macacu. Ele preenchia os requisitos impostos, que era ter escravos e dinheiro para estabelecer e povoar suas lavouras. Essa gleba às margens do Rio Grande ficava em terras que atualmente fazem parte dos municípios de Cordeiro, Macuco e Trajano de Moraes. Aí se deu a origem de um dos maiores empreendimentos cafeeiros da região. João Batista derrubou e incendiou a mata, afastando os índios coroados e goitacazes. Isso era prática comum na época”, relata Grey, acrescentando que pela voracidade e métodos empregados, João Baptista recebeu o apelido de "João Maluco”.
"Ele acabou entregando a administração de suas terras ao genro Antônio Rodrigues de Moraes, casado com sua filha Basília Rosa da Silva, minha trisavó”, conta Grey. "Com a morte de João Baptista, Basília herda as terras. O casal pede e recebe um empréstimo de Antônio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo, que já fizera fortuna fornecendo escravos para toda a região e que agora investia no café. Ele se tornou uma espécie de sócio do casal, intensificando a exploração da gleba. Mas, inesperadamente, Antônio é assassinado numa emboscada, quando era vereador em Cantagalo. Basília, que tinha filhos, se casou com o cunhado de 23 anos, João Antônio de Moraes, prática também muito comum para se manter o patrimônio em família. Ao morrer, em 1883 – com o título de Barão das Duas Barras –, João Antônio multiplicara por setenta o valor da fortuna recebida em herança pela mulher, deixando cerca de mil escravos de suas 22 fazendas, títulos e apólices no valor de mais de quatro mil contos de réis, o que o tornava um dos homens mais ricos do Império”.
Grey conta ainda que, por determinação do Barão, que controlava as alianças familiares (todos os seus descendentes deveriam se casar com familiares), a fazenda de Santa Maria do Rio Grande, que data aproximadamente de 1800 – e que deu origem a toda essas história -, deveria permanecer indivisa na família, servindo de local de reunião da mesma, e refúgio, inclusive para escravos e libertos em situação difícil. "As ordens dele resistiram parcialmente ao tempo, pois a fazenda continua na família Moraes, agora de um só dono (o próprio Grey), tendo perdido grande parte de sua área original, de cerca de quinhentos alqueires. Do enorme conjunto original de armazéns, engenho de cana, senzala, varandas e hospital, só restou a sede, a grande capela e uma tulha. O poder e a riqueza do Barão de Duas Barras e dos demais Moraes se traduziu em mais um título nobiliárquico, o do Visconde de Imbé, e deu nome a várias localidades na região, incluindo o próprio Visconde de Imbé, Manoel de Moraes e Elias de Moraes, filho de Antônio Moraes e segundo Barão de Duas Barras, cuja casa construída por ele em Nova Friburgo foi inspirada no Palácio do Catete, e que hoje é sede da Faculdade de Odontologia. O antigo município de São Francisco de Paulo também passou a homenagear a família: o atual Trajano de Moraes. Outro nome importante na família é o do ex-governador do estado, Raul de Moraes Veiga, que descendia diretamente de Antonio Rodrigues de Moraes, irmão mais velho do Barão de Duas Barras”, acrescenta Grey, ressaltando que das então prósperas fazendas de café, muitas, hoje em dia, se encontram em decadência. O "ouro verde” – como o café foi chamado ao ter uma vertiginosa valorização internacional, sendo o responsável por uma boa parte do progresso da região – foi perdendo espaço para outras atividades ou, simplesmente, suas terras foram sendo deixadas de lado. Mas o café, com sua rica trajetória e personagens fascinantes, é parte importante da nossa história.
A fazenda de Roberto Grey foi uma das muitas propriedades que receberam as plantações de café na região. A rica história do local começou em 1793, com João Baptista Rodrigues Franco
Grey conta ainda que, por determinação do Barão, que controlava as alianças familiares, a fazenda de Santa Maria do Rio Grande, que data aproximadamente de 1800, deveria permanecer indivisa na família, servindo de local de reunião da mesma, e refúgio, inclusive para escravos e libertos em situação difícil
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