Não é exagero afirmar que Nova Friburgo não está preparada para pessoas com algum tipo de dificuldade de locomoção. Só no Centro da cidade, onde seguramente circulam dezenas de milhares de pessoas todos os dias, nossa equipe acompanhou o jornalista e editorialista da VOZ DA SERRA, Antonio Fernando de Carvalho Silva, em sua saga para realizar um simples deslocamento entre o Suspiro e a Praça Getúlio Vargas.
Há quatro anos, ele foi operado por conta de um aneurisma na aorta e, durante a cirurgia, teve complicações e passou dois meses em coma. Como sequela da operação, ele agora necessita de uma cadeira de rodas. O jornalista é um entre muitos friburguenses que dependem de boas condições nas calçadas, rampas de acessibilidade e espaço razoável nas calçadas, entre outras normas de segurança que o possibilitem de exercer o direito de ir e vir.
Saindo de sua casa, perto do Clube do Xadrez, Antonio logo de cara se depara com o primeiro de um dos obstáculos mais comuns na cidade: a falta de rampas de acessibilidade nos dois lados da calçada. Para atravessar de um lado para outro, na calçada da igreja Batista para a Praça do Suspiro não há rampas. A ajudante de Antônio Fernando precisa fazer um esforço ainda maior para vencer o peso da cadeira, do jornalista e a altura do meio-fio. Isso tudo em meio aos carros. “Vocês percebem a minha dificuldade? É todo dia assim. O meu trajeto não é dos mais fáceis, eu encontro muitos obstáculos pela frente, tanto de pessoas quanto de deficiência de calçamento”, conta Antonio.
Ao chegarmos à Praça Getúlio Vargas, erroneamente pensamos que a situação poderia melhorar e que o jornalista pudesse se locomover com mais facilidade e em segurança. Antonio Fernando explica que o piso de cimento da praça em blocos hexagonais faz com que a cadeira trepide bastante, o que torna a viagem incômoda e em certos momentos, perigosa. “Não tem um local onde se possa andar livremente. O piso é muito pior. Para o cadeirante é extremamente incômodo. A cadeira balança toda hora e corre o risco de quebrar por conta dessas trepidações. A praça é prejudicial ao cadeirante e ao seu ajudante. Temos sempre que fazer uma pausa porque é muito cansativo”, conta o jornalista.
Outro ponto considerado ruim para a travessia de cadeirantes e também pessoas com limitações físicas é a calçada em frente ao Friburgo Shopping. “O piso é completamente diferente e prejudica a gente. Ele é grosso, alto e trepida mais do que na praça”, reclama ele. As rampas de acessibilidade no entorno do centro da cidade, além de estarem em grande parte danificadas e desniveladas, muitas vezes se mostram ineficazes. Isso porque em muitas esquinas não existe a continuação de rampas que permitam ao deficiente físico atravessar de uma calçada para a outra. Outro grave problema é a inclinação, muitas vezes com grau elevado demais para que o deficiente tenha condições de subir. Deve ser levado em conta que o cadeirante tem que ter autonomia para poder subir e descer a calçada sem precisar de ajuda de outra pessoa.
“As rampas quando não estão quebradas ou estão com uma inclinação fora do padrão ou não existem. Passar pela calçada em frente ao INSS então é um martírio. O calçamento está completamente deteriorado. Tenho sempre que passar por fora da calçada para poder chegar ao outro lado”, diz o jornalista.
“Eu sempre tive uma posição muito crítica quanto ao calçamento da Praça Getúlio Vargas, mesmo antes de fazer uso da cadeira de rodas. Eu me coloco no lugar das pessoas e já imaginava o quanto era difícil se locomover aqui. Levando em conta a minha situação atual meus pensamentos não mudaram em nada. Continuo com a mesma opinião”, conta.
Situação igual em bairros periféricos
A situação não é muito diferente quando se sai do Centro. Em bairros como Olaria, Cônego e o distrito de Conselheiro Paulino, onde Antonio Fernando precisa ir com frequência, as dificuldades são maiores. “As calçadas nesses bairros são menores e estreitas. Parte delas tem o piso muito liso e fora do padrão. Parte das calçadas é de terra batida e quando chove se transforma em lama. É tudo muito complicado”, diz.
Segundo o jornalista, a situação piora quando chove. Além de disputar o espaço com muitas pessoas que se amontoam para se proteger, existem aqueles que usam o guarda chuva sob as marquises deixando pingar gotas sobre os cadeirantes, sem contar os entraves do congestionamento de pedestres. “Eu não tenho como segurar um guarda-chuva, então acabo levando desvantagem nessa ‘disputa”, conta.
Perguntado sobre a possibilidade de usar uma cadeira a motor para facilitar sua locomoção, Antonio Fernando é pontual ao dizer que o problema não é do equipamento, e sim da estrutura urbana. “Com uma cadeira elétrica eu teria os mesmos problemas, talvez até pior porque certamente em alguns trechos em que tenho que andar pela pista, além de ser perigoso dividir o espaço com os carros. Usar uma cadeira dessas sobre paralelepípedos é bem pior. É bastante complicado não ter uma estrutura adequada”, lamenta.
As críticas são fortes, mas não exageradas. Somente passando pelas dificuldades diárias é que se pode mensurar o tamanho do desafio para exercer uma simples atividade, como atravessar de uma rua para outra. “Uma cidade só é civilizada quando o cadeirante e pessoas com deficiência podem ir e vir sem dificuldades. Quando todas as pessoas podem andar em segurança, aí sim podemos dizer que essa cidade funciona. Até o momento eu posso dizer que Friburgo não é lugar para deficiente físico. O meu desejo é que as autoridades se sensibilizem com a nossa situação e que ajudem a melhorar as condições para que possamos circular com mais tranquilidade”, finalizou o jornalista a espera que o projeto de padronização das calçadas previsto pela prefeitura seja colocado em prática o mais rapidamente possível.
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