"Nada pode ser imposto a quem usa a cidade"
O primeiro passo é entender que a cidade é uma ferramenta, um objeto do homem moderno, assim como um eletrodoméstico ou um eletrônico. É um dispositivo que usamos para morar, trabalhar, nos divertir, trocar informações. E, portanto, deve ser eficiente, belo, acessível. Entendendo isso, o passo seguinte é reconhecer os protagonistas que são capazes de intervir e aprimorar esse instrumento.
Estamos muito acostumados a exigir e esperar que o poder público dê conta de fazer a manutenção da máquina urbana. Mas de uma forma geral, não existe vontade, recursos ou tempo hábil para que isso seja feito de forma satisfatória. A parceria público-privada é o caminho mais simples para que tal tarefa seja feita com excelência.
Enquanto o grande empresário for visto como vilão no agir público, mais e mais a cidade se engessa e a legislação passa a atender interesses de minorias na tentativa de refrear a ocupação abusiva. Às vezes, esquecemos que o fruto de um grande empreendimento imobiliário, por exemplo, não é apenas o lucro de poucos indivíduos, mas também mais oferta à demanda habitacional e, por conseguinte, mais opções e preços mais acessíveis.
Ao falar da cidade ideal, não podemos esquecer de mencionar um problema de escala global em médios e grandes centros urbanos: mobilidade. Em Nova Friburgo é um caso especialmente sensível devido à morfologia linear na qual nos encontramos. Quanto mais distante do Centro, mais os veículos se acotovelam em gargalos para chegar a seus destinos.
Em muitos lugares já é notório que há carros além do que a cidade suporta. Mas isso passa por um outro entendimento fundamental para se conseguir a cidade ideal. Nada pode ser imposto a quem usa a cidade. Para que se tire carros das ruas, não adianta impor leis de rodízios de placas ou algo que o valha. É preciso dar opções. Transportes baratos e de qualidade, meios alternativos como a bicicleta, passeios públicos com boa infraestrutura.
E, recorrendo ao primeiro entendimento da parceria público-privada, onde houver demanda real haverá oferta. Transportes coletivos em menor escala e em locais mais pontuais. Pontos de locação temporária de bicicletas que serão bem utilizadas se existirem ciclovias seguras, às quais as próprias empresas que têm interesse em fornecer o serviço, podem construir.
A Nova Friburgo ideal precisa ser construída nos locais onde já existe boa infraestrutura e investimento urbano. Permitir que se ocupe mais as áreas dentro de um raio caminhável do Centro para que mais pessoas dependam menos de carros. Trazer o olhar do investidor para essas áreas subaproveitadas e em sentido contrário aos morros que cercam a cidade sem que se esqueça de cuidar do nosso patrimônio histórico, que apesar de protegido perante o mercado imobiliário, hoje se encontra abandonado e em muitos casos em ruínas.
Entender a cidade e o que ela representa, usar a força e vontade do investidor privado em prol dos interesses públicos através de diálogo, oferecer opções de mobilidade e focar a ocupação nas áreas subaproveitadas de maneira responsável. Só assim, conseguiremos nos aproximar de uma Nova Friburgo ideal.
Bruno Schelb é arquiteto e urbanista.
Bruno Schelb
Deixe o seu comentário