Breve esclarecimento

quinta-feira, 13 de setembro de 2012
por Jornal A Voz da Serra

Nelson A. Bohrer (Guguti)

Durante quase quatro anos utilizei as páginas desse jornal para levar ao conhecimento da população de Nova Friburgo os trabalhos realizados pela equipe do Arquivo Pró-Memória. Por diversas vezes escrevemos sobre os projetos em curso, com especial atenção para os trabalhos de digitalização do acervo de documentos mais antigos e mais preciosos. Informamos sobre cada uma de nossas realizações, nossas conquistas, a começar pela própria criação da Fundação D. João VI de Nova Friburgo, suas responsabilidades, suas ações: o Projeto do Bicentenário, lançado no início de 2011; o Guia do Patrimônio Histórico dos Sertões do Macacu, em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado, através do Inepac; a candidatura ao Certificado de Memória do Mundo, concedido pela Unesco; a parceria com o Cederj; e tantas outras iniciativas, cujo entusiasmo proporcionado sempre procuramos dividir com todos.
Da mesma forma, sempre demos conhecimento ao público de nossas dificuldades, dos poucos recursos disponíveis (ou mesmo nenhum), da falta de espaço e da infraestrutura necessária, enfim da falta de atenção e interesse. Repetidas vezes os recursos foram os meus próprios e também de um ou de outro amigo mais preocupado com as questões do Pró-Memória. Os parceiros foram muitos e não tenho o que reclamar, apenas agradecer.
Nos últimos meses nossa situação se agravou, pois ficamos à mercê de decisões impensadas e autoritárias, e colhemos apenas prejuízos. Foi-nos retirado o espaço destinado ao estacionamento de veículos, frontal ao Salão Azul, útil e necessário na movimentação de documentos muito comum em nosso dia a dia de trabalho. Foi-nos retirados os dois melhores computadores, utilizados nos trabalhos de digitalização, atividade interrompida desde então. Finalmente, fomos obrigados a proceder uma nova mudança de endereço, sem o planejamento necessário, e reinstalar o arquivo em um espaço insuficiente para o seu correto funcionamento. Fomos contrários a essa decisão, manifestando, por escrito, o nosso descontentamento e alertando para os possíveis riscos ao acervo. Ainda assim, apesar de todas as dificuldades e preocupados com a segurança do arquivo, fizemos o que nos restava a fazer, ou seja, reinstalamos e reorganizamos tudo novamente. O Arquivo Pró-Memória está em ordem, ainda que o espaço que lhe é agora destinado não seja, tecnicamente, o mais apropriado. Quanto à digitalização, se não fizemos tudo, fizemos a parte mais urgente e necessária. Muito ainda resta fazer.
Durante esses quase quatro anos de trabalho levamos o Pró-Memória muito além das fronteiras de Nova Friburgo e fomos manchete nos jornais mais importantes do país. Chamamos a atenção de instituições como Fundação Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional, Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, Real Gabinete Português de Leitura, British Library, Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Tribunal Marítimo, Câmara Brasil Portugal de Exportação, colecionando cartas de apoio e elogio, realizando importantes parcerias para troca de experiências. Definitivamente, o Pró-Memória não é mais o mesmo e o fato de estar sob a responsabilidade de uma fundação impõe à todos o respeito mais do que justo e legal. Uma fundação que, apesar de pública e hierarquicamente subordinada à prefeitura municipal, é autônoma, regida por um Conselho de Administração, e a ele, somente a ele, deve obediência. Saibamos, ainda, que esse conselho, constituído por sete membros, é presidido pelo prefeito em exercício, que deve deliberar tão somente a partir de uma Assembleia Geral, regimentada sob as cláusulas ditas no Estatuto, e amparadas pela lei que instituiu a Fundação D. João VI de Nova Friburgo. Não sendo dessa forma é autoritarismo injustificado e absurdo. Uma democracia só se constrói com o devido respeito às suas instituições, que são o seu alicerce.
Muitas vezes, quando aqui nesse mesmo jornal, nos pronunciamos a favor do Pró-Memória, afirmamos enfaticamente que esse arquivo é o bem patrimonial mais valioso de Nova Friburgo. Protegê-lo em favor das gerações ainda muito distantes, não é uma tarefa simples. Trabalho que não pode estar a cargo de um ou outro indivíduo. Somente através de uma instituição, que seja pública, autônoma e com competência técnica, será possível atingir esse objetivo, que é de longuíssimo prazo e vai muito além de nosso próprio tempo, tempo que a vida concede a cada um de nós. Pois então, é essa a responsabilidade da Fundação D. João VI de Nova Friburgo. Para ela, todo o tempo do mundo é o que desejamos. Nós passaremos, as instituições permanecerão. A fundação deve seguir e com ela o nosso Pró-Memória. Espero que assim seja!
Hoje, essa coluna não traz a logomarca da fundação como sempre foi feito, pois não estando mais à frente dessa instituição, não tenho mais esse direito. Também não traz no texto o entusiasmo de sempre, apenas um breve esclarecimento. Fui exonerado do cargo no dia 6 de setembro último, através de um comunicado da Secretaria de Administração, sem qualquer justificativa. Interrompe-se, assim, um trabalho de quase quatro anos, comprometendo a continuidade de todos os projetos em execução e parcerias, e diga-se logo, de grande importância para todos nós. Um prejuízo enorme considerando tudo o que foi realizado, todo tempo que foi investido, recursos e tudo mais. Não foi pouco o que fizemos. Exatamente, por tudo isso, perguntamos: por quê?
Agradeço aos amigos e parceiros do Pró-Memória pelo apoio, participação e por acreditarem que era possível ser feito. Obrigado a todos.

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