Eloir Perdigão
O bispo da Diocese de Nova Friburgo, Dom Edney Gouvêa Mattoso, se surpreendeu com a notícia da renúncia do papa na semana passada. Ele esteve com Bento XVI em duas ocasiões e se diz triste com sua renúncia. Mas admite que quando um homem de Deus não tem mais forças para servir, pode pedir para se retirar.
O bispo diocesano comentou também que há cardeais latino-americanos candidatos à sucessão, inclusive cinco brasileiros, com chances reais de um deles vir a ser eleito. Confira a entrevista.
AVS – Como o senhor recebeu a notícia da renúncia do papa Bento XVI?
D. Edney – A princípio uma reação de surpresa. Evidentemente não é comum um papa renunciar, embora tenhamos na história da Igreja três outros papas que renunciaram, o último, me parece, há 600 anos. Porém o Santo Padre dá as razões da sua renúncia. Ele, um homem da Igreja, percebe que suas forças diminuem, devido à idade; percebe também a velocidade dos acontecimentos do mundo, dos desafios de cada tempo, e diante de Deus e da sua consciência vê que não tem mais condições de governar a Igreja como ela precisa ser governada. Uma atitude extremamente corajosa e que deixa para todos nós um grande testemunho: ele, com este gesto, nos mostra que entendeu perfeitamente a mensagem de Jesus. Na Igreja, a autoridade, o poder, tudo é serviço. E quando percebe que não tem mais força para servir como gostaria ou deveria, ele humildemente pede para se retirar.
AVS – Baseado nos encontros anteriores com Bento XVI, como o senhor o vê de saída?
D. Edney – Eu tive duas oportunidades de estar com o papa Bento XVI: uma assim que fui nomeado bispo—fui recebido por ele em Roma e ele me presenteou com uma linda cruz peitoral—e a segunda foi na visita ad limina, quando tive uma audiência privada com ele. Nas duas situações tive o sentimento de estar diante de um verdadeiro homem de Deus, simples, que ouve muito, que emite suas opiniões de uma forma muito clara, muito concisa, um homem que ama profundamente a Igreja. E deu provas disso ultimamente.
AVS – No início do seu pontificado, Bento XVI demonstrava ser um pouco durão, inclusive exigiu que alguns padres brasileiros que cantavam e dançavam se contivessem. Como o senhor vê isto agora?
D. Edney – Eu não chamo isto de durão. Não se trata de coibir isto ou aquilo, mas apontar qual o caminho por onde nós devemos caminhar. Isto é o dever do papa. Se o papa não faz isto, quem vai fazer? Ele sempre foi extremamente amável, coisa que ele é de fato, outra coisa é a imagem que fizeram dele. Isto é diferente. Mas o Santo Padre sempre foi um homem de extrema cordialidade, de uma bondade, de uma delicadeza sem igual. Esta é a experiência que eu tenho dele.
AVS – Como está o senhor hoje, como o senhor vê toda esta situação?
D. Edney – Em princípio, triste, porque nós amamos o Papa. Mas, por outro lado, como o próprio Bento XVI deixa para nós isto, por escrito, confiantes que a Igreja é de Cristo. E que Jesus saberá, pela ação do Espírito Santo, indicar aquele que deverá governar a Igreja. Isto não significa que Bento XVI será esquecido. Um homem da envergadura dele jamais será esquecido por nenhum de nós, que devemos estar agora unidos em oração, rezando pelo futuro papa que virá. E será amado igualmente por todos nós.
AVS – Muda alguma coisa na Diocese de Nova Friburgo?
D. Edney – Não muda nada, a não ser a intensificação das nossas orações—que eu já tenho pedido que sejam feitas—não só pelo papa atual, para que ele tenha sempre a presença materna de Maria em seu coração, que ele seja sempre amparado por Deus em todos os momentos de sua vida, e também a oração pelo futuro papa.
Os cardeais brasileiros candidatos são D. Raimundo Damasceno, arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB; D. Odilo Pedro Scherer, de São Paulo; D. Cláudio Humes, emérito de São Paulo; D. Geraldo Magela, emérito de Salvador; e D. João Brás de Avis, prefeito da Sagrada Congregação dos Religiosos em Roma
AVS – Bento XVI fica até o dia 28. A eleição se dá antes ou depois dessa data?
D. Edney – Dia 28 ele oficializa a renúncia com ato solene. A partir daí a sede de Pedro está vacante. Ou seja, não temos papa. Os cardeais, então, deverão se reunir em conclave, para a escolha de um novo pontífice.
AVS – Há candidatos latino-americanos, inclusive brasileiros, ou não?
D. Edney – Temos cardeais latino-americanos, e brasileiros, sim, candidatos. O número de cardeais votantes, me parece, somam a 117, do mundo inteiro. Um deles será o papa.
AVS – Após o anúncio do novo papa, o senhor terá algum compromisso com ele, terá de viajar até ele ou não?
D. Edney – Os bispos são compromissados com o papa sempre. Pelo vínculo da comunhão e da unidade que nos faz todos um corpo só. De cinco em cinco anos estamos todos em Roma para estar com ele colocando as nossas realizações, nossos desafios, ouvindo dele orientações. Minha próxima visita oficial a Roma, para a visita ad limina, deve acontecer daí a uns três ou quatro anos. Com o novo papa, sem dúvida alguma. Mas certamente nos encontraremos com ele aqui no Brasil para a Jornada Mundial da Juventude.
AVS – Esta deverá ser provavelmente a primeira visita internacional do novo papa...
D. Edney – O papa virá ao Brasil. Nós só não sabemos o nome dele atualmente. Eu não sei a agenda do papa, mas certamente será uma de suas primeiras visitas a um país estrangeiro.
AVS – Isto deverá dar um caráter todo especial a essa visita...
D. Edney – Sem dúvida alguma. Esperamos que haja uma acolhida muito boa ao Santo Padre. E certamente haverá.
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