Bispo d.Rafael completa 50 anos de sacerdócio

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Bispo da Diocese de Nova Friburgo desde 20 de junho de 2004, dom Rafael Llano Cifuentes completa neste dia 20 50 anos de vida sacerdotal (Jubileu de Ouro). Nascido na cidade do México em 18 de fevereiro de 1933 e ordenado sacerdote em 20 de dezembro de 1959, ele se transferiu para o Brasil em 1960 e foi eleito bispo em 4 de abril de 1990, sagrado na Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 29 de junho do mesmo ano, ficando como auxiliar até 2004.

Dom Rafael é um homem de ação dentro da igreja. Alegre, escritor de primeira grandeza, tanto que possui mais de 47 livros editados e este ano foi empossado na Academia Brasileira de Filosofia e Academia Friburguense de Letras, é formado em Direito Civil pela Universidade de Salamanca, com doutorado em Direito Canônico pela Universidade Pontifícia de São Tomás, em Roma.

Como padre dispensa comentários e como bispo tem um maravilhoso trabalho pastoral, sempre mantendo o carinho pelos jovens e a família. Atuou no Movimento de Renovação Carismática Católica, criou o Movimento Pró-Vida, criou os encontros Jovem Rio, que antecedem a cada dois anos em união com o papa as Jornadas Mundiais da Juventude, e criou também, em 1992, o Instituto Pró-Família da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Em 2000 foi eleito vice-presidente do Regional Leste I da CNBB, do qual hoje é o atual presidente.

No momento em que comemora 50 anos de vida sacerdotal, dom Rafael receberá o povo de Deus, familiares, amigos e bispos do Brasil e de vários países em missa solene neste sábado, 19, às 10h, no ginásio do Colégio Anchieta.

À reportagem de A VOZ DA SERRA dom Rafael Cifuentes concedeu entrevista exclusiva, abordando vários assuntos.

A VOZ DA SERRA - Como o senhor descobriu a sua vocação sacerdotal?

D.RAFAEL: Na verdade não descobri a minha vocação sacerdotal, ela saiu do meu encontro, para minha surpresa. Eu não queria ser sacerdote, mas a coisa me foi apresentada de tal maneira que me senti como se o Senhor me chamasse, então, a muito custo e coragem, tomei a minha determinação e a partir daquele momento não tive nenhuma sombra de dúvidas sobre a vida religiosa.

AVS: Que tipo de dificuldade o senhor encontrou enquanto seminarista?

D. RAFAEL: Não encontrei nenhuma dificuldade.

AVS: Qual o perfil do padre de sua época comparado ao padre de hoje?

D. RAFAEL: São muitos aspectos, facetas, mas eu ressaltaria algumas: uma profunda vida espiritual; sintonia perfeita com o magistério pontifício; abertura a todos os problemas sociais políticos da nossa época. O padre não é alguém que está retirado do mundo, mas que vive inserido no fermento da paz.

AVS: Além de fé e dedicação à igreja, o que não pode faltar a um padre?

D. RAFAEL: Não pode faltar um grande amor ao nosso povo, especialmente aos menos favorecidos.

AVS: Existe diferença entre um padre formado na Europa para um formado na América do Sul?

D. RAFAEL: Existe, sim, mas depende muito de cada país e de cada época.

AVS: Uma frase marcou sua chegada a Nova Friburgo: “Eu aqui quero viver, eu aqui quero morrer”. Seu pensamento ainda é o mesmo?

D. RAFAEL: Graças a Deus é o mesmo pensamento! Não sei se morrerei aqui, ou na estrada, ou sei lá, mas com certeza eu aqui quero morrer e aqui quero viver. Mais ainda: já determinei o lugar onde quero ser sepultado, embaixo do altar do sacrário do Seminário Diocesano. É o lugar onde vou ficar.

AVS: Qual a análise que o senhor faz de alguns segmentos da Renovação Carismática Católica (RCC)? Seria um misto de espiritismo com igreja protestante?

D. RAFAEL: Fiz um trabalho bastante extenso sobre a RCC, que aborda muitos aspectos da RCC. Eu tenho que dizer que a RCC bem vivida não tem nada a ver com espiritismo nem com qualquer igreja protestante. É um momento de evangelização bastante profundo.

AVS: Em relação a sua chegada a Nova Friburgo, poderíamos dizer que o clero diocesano evoluiu?

D. RAFAEL: Penso que o nosso clero diocesano é muito bom. Penso também que no decorrer desses cinco anos houve um grande amadurecimento por parte de todos.

AVS: Qual o fato que mais marcou o senhor nesses cinco anos de episcopado?

D. RAFAEL: Não posso dizer qual é o fato, mas um fato muito importante é o carinho demonstrado pelo povo. Tenho encontrado nas 54 paróquias da Diocese e nos 19 municípios um carinho muito grande, às vezes, um carinho que se manifesta de uma forma plausível, radiante, com abraços, homenagens. E é uma coisa que comove. Eu tenho que agradecer ao povo, aos fiéis da nossa Diocese toda, talvez seja este o fato mais marcante.

AVS: O senhor considera que sua maior obra foi a construção do seminário?

D. RAFAEL: Acredito que sim. Uma obra que não sei até agora como consegui realizar, porque não tínhamos dinheiro, fizemos uma campanha em várias fases, as paróquias contribuíram, foram generosas, também conseguimos de maneira bastante providencial vender ou desapropriar alguns terrenos, conseguimos dinheiro em algumas entidades da Alemanha, pedi pessoalmente a algumas empresas e superamos esta caminhada com muita generosidade de todos. Temos que ressaltar aqui o Chico Faria, da Stam, que pagou inteiramente todas as obras da capela. Depois a dona Helena, sua esposa, agora o Rogério, seu filho, a eles temos que ter um agradecimento muito especial.

AVS: O que ainda falta na Diocese? Muita gente diz que o Vicariato Litoral é uma diocese dentro da outra, o senhor concorda com isso?

D. RAFAEL: Eu solicitei ao Núncio Apostólico que fizesse uma nova diocese, compreendendo todo o Vicariato Litoral, junto com Búzios e Cabo Frio. Ele disse que não estava na hora e que havia outras dioceses mais necessitadas, então eu pedi um bispo auxiliar e ele disse: “Isso é mais possível”. Mas a verdade é que não saiu, portanto, temos que acolher a todos.

AVS: Pastoralmente falando, o senhor conseguiu realizar todos os seus projetos?

D. RAFAEL: Todos não. Eu gostaria que tudo corresse melhor, que houvesse uma evangelização mais profunda, que a missão popular desse mais resultados, mas estou muito contente com as realizações pastorais que se deram na Diocese.

AVS: Nova Friburgo é uma cidade com 25% da população sem emprego e 9% sem alfabetização. De que forma a igreja pode ajudar neste sentido?

D. RAFAEL: A igreja pode ajudar de maneira limitada. No setor de empregos temos a Cáritas Diocesana, que tem um balcão funcionando diariamente e tem conseguido, graças a Deus, grandes benefícios. Na alfabetização todas as paróquias têm um grande trabalho e temos a catequese, que é de suma importância para a Diocese.

AVS: O senhor declarou, quando assumiu, que não queria ‘padre de aquário’, dentro de sacristia. Conseguiu fazer isso acontecer?

D. RAFAEL: Nós somos pescadores, Nosso Senhor nos disse que somos pescadores de homens e também nos disse Duc in Alto, o que é um arauto. Então é triste ver que nós nos dediquemos a fazer um trabalho de pesca dentro do aquário, das sacristias, dos salões paroquiais, evangelizando os que já estão evangelizados, quando na realidade teríamos que sair. Penso que em grande parte nós conseguimos com a missão popular. Há paróquias que têm mais de cem missionários e essa missão popular tem feito grandes progressos.

AVS: Nossa Diocese é privilegiada no que se refere à vocação sacerdotal. A que o senhor credita este sucesso, ao contrário do que ocorre em outras do estado do Rio e do Brasil?

D. RAFAEL: Realmente a nossa Diocese tem um crescimento vocacional muito bom. Eu consegui ordenar mais de 25 sacerdotes e outros diáconos, as vocações aumentam a cada dia. Penso que isso é o reflexo do impulso que temos dado à Pastoral Vocacional e também ao bom desempenho que tem o nosso seminário diocesano, tanto na parte humana, como na parte formativa. Humanamente é um grande ambiente, propicia isso, foi construído para que não parecesse um quartel e também um mosteiro. Os padres têm que compreender que são padres seculares e têm que viver na sua casa paroquial. A casa paroquial tem que ser uma projeção do seminário e o seminário uma projeção da família.

AVS: O que fazer para resgatar a família diante de um mundo que prega desunião, prostituição, violência e tudo o que gera discórdia?

D. RAFAEL: A família é tudo, o homem nasce, se sacrifica e morre numa família, a vida é uma família, então, a dissolução da família é a dissolução da célula básica da sociedade. Tem que haver em nós um grande empenho de se envolver a Pastoral Familiar, que na nossa Diocese é a prioridade. Os valores e os contravalores da sociedade constituem os valores e contravalores da nossa família. Infelizmente, os meios de comunicação social, as propagandas pornográficas e as novelas prejudicam muito, mas nós somos responsáveis para isso não acontecer.

AVS: Igreja e política combinam?

D. RAFAEL: Sim, combinam, porque o cidadão é fiel, então, quem tem que fazer a política é o próprio leigo e esse leigo, fiel da igreja, tem que ser o protagonista da ação política. É triste ver a falta de leigos católicos que realmente lutem para conseguir uma ação política considerável. O que não combina é a igreja com a política partidária. A igreja não pode optar por partidos, especialmente porque, sendo a igreja universal católica, não pode se inclinar por uma parte. O partido é parte, portanto, igreja não combina com tendência partidária.

AVS: O que o senhor gostaria de ressaltar?

D. RAFAEL: Acho que tudo foi perguntado, mas gostaria de dizer que nesses cinco anos tenho que dar muitas graças a Deus por todo carinho que recebi da sociedade como um todo, nesta cidade querida e agradável. O friburguense não é demagógico, não faz amizades facilmente, mas é fiel as suas amizades.

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