Geraldo Hamilton de Menezes (*)
Sou ecologista há mais de trinta anos. Não por modismo da época, mas porque tenho consciência de que o desequilíbrio ambiental é uma realidade. A culpa é da desenfreada intervenção humana nos ambientes naturais. O lema atual, pelo menos aqui, é desmatar e poluir. E não digam os inimigos da ecologia que o pecado é do crescimento populacional, ou do progresso tecnológico. Esses fatores são conciliáveis com a preservação da vida no ecossistema.
O cerrado, rica e exuberante mata xerófila dos planaltos, composta de abundante vegetação herbácea, dá os últimos suspiros de sobrevivência. Indiferentes às espécies nobres de que era povoado nesta região, sobretudo pequizeiros, mangabeiras e muitas outras frutíferas naturais, carvoeiros gananciosos e ignorantes devastaram-no. Foi-se com o barulho de motosserras, e o repicar dos machados, a fonte de alimentos de muitos animais silvestres.
Agora, não é preciso sobrevoar os municípios de Pompéu e vizinhança, em Minas Gerais, para inundar a visão com espetáculo deprimente: imensos canaviais para o fabrico de etanol e gigantescas plantações de eucaliptos. Nos canaviais, regados a agrotóxicos poderosos, aviões agrícolas semeiam a morte para pássaros, borboletas, mangangavas etc., responsáveis pela polinização de varias espécies vegetais. Na “queima” da palha da cana em pé, para facilitar o corte, são “assados ou fritados” lobos, raposas, tatus, guaribas, pacas e muitos outros. Tudo acontece impunemente, “nas barbas” de servidores de órgãos públicos criados à custa do dinheiro nosso, contribuintes, para a defesa do meio ambiente. Em uma mata de eucalipto, por sua vez, nenhum animal silvestre permanece; nem as cobras ficam. Afinal comer o quê? .. Não são “coalas”. E há um gravame, apesar de negado até pelo Instituto Estadual de Florestas, por conveniência própria: o eucalipto é o terror das nascentes; é sedento de água. Há muito exemplo disso por aqui!
Agricultura intensiva, como a de cana-de-açúcar, causa desertificação. A terra, suscetível à erosão, perde a camada superficial rica em nutrientes e sementes; o solo fica improdutivo. É desolador assistir, sem forças para impedir, a degradação do pouco que restara do cerrado após os desmates, ora substituídos por monocultura que, com o tempo, deixará o solo estéril.
A Terra é um organismo vivo, como os vegetais e animais. São claros e evidentes os sinais de que o planeta está doente, perecendo aos poucos com a morte do seu ecossistema. Não é mais o ambiente perfeito para a evolução da espécie humana, que deve respirar oxigênio puro. Sua reação é inevitável e a vingança virá contra o homem. Os exemplos não faltam. Furacões devastadores, como o Katrina e outros estão por aí. O Brasil está na rota dessas catástrofes; não duvide disso, caro leitor. O Catarina, em 2004, surpreendeu o sul do país, levando a destruição por onde passou. Agora, em 2010, avultam no sul e nordeste do Brasil ventanias e tempestades violentas que no continente americano só eram comuns na América Central e na Flórida.
Tempos piores virão, com certeza, se o ser humano não substituir a ganância desenfreada de lucros por uma verdadeira consciência ecológica, indispensável à preservação do planeta Terra, nossa morada.
(*) – escritor, acadêmico, ecologista,
juiz de direito (aposentado)
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