Ao ler as próximas linhas e parágrafos vocês talvez possam sentir, por empatia, um pouco do que senti ao chegar em Nova Friburgo para participar da Flinf há pouco mais de uma semana.
Ao entrar na cidade já fui vendo as indicações do festival das artes e letras. Não foi a minha primeira feira literária, já participei de algumas importantes feiras do país, mas essa seria especial. Afinal, tratava-se da cidade que testemunhou a minha entrada no mundo mágico da adolescência nos verões e invernos nela passados, cidade que presenciou a minha rápida metamorfose para o mundo adulto e o início da minha missão de ser mãe. Tudo registrado pelos ares altos e mais frios.
Pois o clima estava ameno quando cheguei. Diria que o calor do evento aqueceu a todos com suas espontaneidades e simpatias. Não havia excesso de protocolos, formalismos ou planejamentos, mas, sim, uma enorme vontade de todos de fazer acontecer e acontecer bonito.
Em meio ao caos de nosso estado empobrecido de corpo e de alma, em meio à descrença de tudo e todos, ela está lá, forte e sorridente mostrando que pode sonhar e realizar o sonho - a cidade de Nova Friburgo.
O dia da minha mesa era domingo - dia de fechamento do evento. Vi muitos indo embora da cidade e já não sabia quem veria o que tinha a dizer. Falaria sobre o envelhecer, o sentir-se idoso, a parte final de nosso ciclo. E falei.
O desafio foi grande. O auditório estava cheio e vi, em cada olhar ali esperando começar, uma curiosidade qualquer em saber o que exatamente três mulheres falariam de alentador ou positivo, de novo ou prático para ajudá-los. Falar do inevitável: envelhecer.
Ouvi participações incríveis do público presente. Recebi mais do que dei, com toda a certeza.
Envelhecer é vencer o jogo onde perder é não completar a corrida.
Envelhecer é sentir-se desafiado a achar alegria, humor e (por que não?) felicidade nos grandes e pequenos acontecimentos.
Levei ao conhecimento da plateia uma pesquisa que muito me tocou: um psicólogo americano chamado Howard Friedman, que toca uma pesquisa chamada "O Projeto Longevidade", revelou dados por poucos imaginados. Um deles é o de que, o que vemos como fator de estresse como um trabalho demandante, a preocupação ou o foco obsessivo em resultados, por exemplo, leva à longevidade. E a receita do comportamento feliz e despreocupado diante da adversidade não se associa a uma vida mais longa.
Não, eu não quis fazer apologia ao fim da aposentadoria digna ou ao trabalho sem fim. Longe de mim entrar nesse campo minado da Previdência no Brasil ou no mundo.
O que tentei dizer é que acredito piamente que, se há uma receita para uma velhice com significado e estímulo de continuarmos tocando o nossos barco, ela com toda a certeza tem desafios, inserção, inclusão e interatividade.
Estar vivo em qualquer idade é ainda ter desejos, ser despertado por vontades e ser alimentado por autoestima.
Ouvi de um participante que o que se quer depois dos 60 é se sentir indispensável de alguma forma.
Ele tem razão. É a percepção de utilidade, de podermos ajudar e contribuir que nos faz querer levantar da cama em qualquer idade.
Terminamos o debate ouvindo de outro participante algo que eu já havia citado e que considero o oxigênio para que a idade aumente sem que nos envelheça a alma: a internet. Ele me disse que há 2 fatores que o fazem querer continuar vivo: os netos e a internet.
Bingo! O idoso de hoje assistiu a essa monstruosa revolução causada pela internet e muitos mergulharam nela sem medo. Resultado: interagem mais, aprendem sem parar, conhecem lugares, projetos, sabem de eventos, estudam e fazem amigos.
Além da idade cronológica, biológica ou psicológica, temos hoje a idade digital. E aqueles da terceira idade que se mantêm conectados se manterão logicamente mais jovens quase como um Benjamin Burton. Pode apostar.
Obrigada por me proporcionar tanta troca rica, Nova Friburgo e sua Flinf.
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