Belas, estilosas e tatuadas: as mães que não deixam de ser quem são

sexta-feira, 06 de maio de 2016
por Ana Blue
Belas, estilosas e tatuadas: as mães que não deixam de ser quem são

Reza a lenda que o marco zero do rock and roll foi em 1954, quando um caminhoneiro de 19 anos chamado Elvis Presley entrou no Sun Studio (Memphis, Mississipi) e gravou That’s All Right (Mamma), canção que figura no 112º lugar na “Lista das 500 melhores canções de todos os tempos”, organizada pela Revista Rolling Stones em 2004. Até hoje, o cantor que arrebatou multidões de fãs ensandecidas recebe epítetos nobres como o “rei do rock” e o “pai do rock”, mas, entretanto, contudo, porém, todavia, algumas correntes defendem que o rock and roll, na verdade, tem é uma mãe — Sister Rosetta, mulher negra, de voz potente, que cometeu, nos idos anos 30, a sandice de misturar a música gospel com sons “mundanos”, como o blues e o jazz, causando um furor imediato entre os membros da comunidade religiosa que frequentava. Dizem que o próprio Elvis, quando menino, saía esbaforido da escola pra chegar em casa a tempo de ouvir o programa que Rosetta apresentava no rádio.

Furor imediato. Talvez seja esta a primeira impressão que as mulheres causam quando quebram expectativas de comportamento, rompem significantes e significados consagrados, tradições, nomenclaturas. Desde Rosetta, antes de Rosetta e até hoje. Para as mulheres, direitos sobre o próprio corpo foram negados por muito tempo — alguns continuam sendo —, seja a negação impetrada por ela mesma por conta das exigências da sociedade, seja a negação imposta por outrem por questões ditas morais, religiosas ou de “boa compostura”. Nesse contexto, vemos uma certa dose de discriminação com mulheres que mantêm (ou assumem) seus estilos próprios mesmo depois que se tornam mães. Ainda mais quando analisada a opinião sob a ótica de quem acredita piamente que o visual influi negativamente, conforme se apresenta. Há quem acredite que a individualidade acaba quando chega a maternidade. Ou que deveria acabar. 
    
That’s, all right, mamma!

À primeira vista, Marietta Lo Bianco parece ter saído das páginas de um editorial de moda. Loira bonita e cheia de sardas, toda de preto, batonzão vermelho na boca e os braços cheios de tatuagens — são 26 espalhadas pelo corpo no total —, a empresária em nada se parece com a imagem que comumente associamos às mães. A sociedade ocidental, por costume, ainda tem a tendência de associar recato a caráter, instituindo à mulher, quase sempre, a representação de uma finesse, uma delicadeza que, francamente, já não somos tantas assim dispostas a perpetuar — mas que nos exigem triplamente quando somos mães. E é isso, essa negativa do padrão que causa um bug no cérebro dos que mantêm espíritos conservadores. “Mãe? Essa mulher é mãe? Com essa tatuagem de caveira no meio da coxa? Com esse brinco de porco no meio do nariz, esse cabelo colorido?” Atire a primeira Rolling Stone a mãe diferentona que nunca ouviu algo assim.

Enquanto conversamos, reconheço em duas de suas tatuagens os nomes de seus pais, Julio e Célia. É tão discrepante que, mesmo com a popularização das tatuagens a partir da década de 90, as mães tatuadas ainda causem estranhamento. Marietta diz que curte a vida sem rótulos e que não dá ideia para o que pensam a respeito dela. “Mudar meus princípios em função da opinião dos outros? Não, obrigada”, diz. “Filho foi feito para o mundo, tento fazer com que eles sejam bem independentes e sem medo de arriscar. É isso”. 

Bom, o melhor exemplo ela já dá todos os dias, sem medo de arriscar ser quem é. Um viva às mães do rock, um brinde a quem se arrisca! 

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