Banco de leite da Maternidade é motivo de orgulho para a cidade

sexta-feira, 15 de junho de 2012
por Jornal A Voz da Serra
Banco de leite da Maternidade é motivo de orgulho para a cidade
Banco de leite da Maternidade é motivo de orgulho para a cidade

Dalva Ventura

Doar leite? Eu? Como assim? Esta é a pergunta que muitas mães se fazem quando uma pediatra ou mesmo uma enfermeira sugerem que doe seu leite para o banco de leite humano da maternidade. Em princípio quase todas estranham a ideia, temendo que, ao doar, o leite que produzem seja insuficiente para seu bebê.

Nada disso. A verdade é que toda mulher é capaz de ter leite de sobra, mais que suficiente para alimentar seu próprio filho. Por que não contribuir para salvar uma vida doando o excesso de leite produzido para prematuros e de alto risco internados em UTI neonatais, que precisam desesperadamente deste alimento para sobreviver?

Sim, o mecanismo da produção de leite é algo fantástico, que muitas pessoas ainda não compreendem. E, se compreendem, não acreditam nisso.

Na verdade, o tal mecanismo é algo muito simples e segue a famosa lei da oferta e da procura. Ou seja, quanto mais o bebê suga, mais o peito é estimulado e mais leite a mãe vai produzir. Ao contrário, quando a mãe acha que está com pouco leite e começa a complementar as mamadas com leite artificial, o bebê vai sugar menos e a produção de leite materno vai diminuir.

Não há, portanto, motivo algum para as mães se preocuparem, achando que ao doar deixam de ter leite suficiente para seu bebê. Thayla Agnello Lompreta, mãe de Arthur, com 20 dias, é uma prova disso. Ela amamentou a filha Laryssa durante um ano e agora, depois do nascimento de Arthur, está se revelando uma doadora de primeira. Thayla procurou o Banco de Leite da maternidade em busca de orientação, porque estava produzindo muito leite e ficou com medo de ele empedrar. Lá foi incentivada a doar o excesso de leite que estava produzindo e recebeu toda a orientação para retirar seu leite e doá-lo ao Banco de Leite. “Até então, nunca tinha pensado em ser doadora não, mas fiquei sabendo que o neonatal estava lotado de recém-nascidos de risco e que meu leite ajudaria a salvá-los. Naquele dia mesmo comecei a tirar o excesso de leite e estocar, do jeito que elas me ensinaram”, afirmou.

Em poucos dias Thayla já tinha enchido três vidros de 300 ml de leite e de lá para cá vem tirando semanalmente esta mesma quantidade em média. Para tanto, conta com o auxílio precioso do marido, que dá a maior força e até ajuda a tirar o leite quando está em casa. Só não conseguiu se ajeitar bem com a chamada “ordenha manual”, técnica recomendada pelo banco, e prefere mesmo a bombinha. Devidamente esterilizada, claro, como todos os apetrechos usados para estocar o leite.

“Confesso que no começo senti um pouco de medo de faltar leite para o meu bebê, mas logo vi que era bobagem, como a médica da maternidade me explicou”, diz. Thayla tem comprovado este fato diariamente, não só pela quantidade de leite que continuou produzindo, como pelo desenvolvimento do pequeno Arthur, que ganhou 800g em 18 dias. Com a satisfação de estar contribuindo para salvar vidas que precisam tanto deste alimento para sobreviver.

Difícil é convencer as mães deste fato, embora esteja mais do que comprovado. Até porque, como se sabe, mesmo sendo capaz de produzir leite normalmente, se a mãe estiver tensa, nervosa, o reflexo de descida de leite fica bloqueado. Por isso mesmo nos primeiros dias ela precisa tanto de apoio. À medida que vai ficando mais segura, então, seu organismo naturalmente passa a produzir leite para doar.

Vale lembrar que o leite materno é um alimento completo, que contém todos os nutrientes necessários ao desenvolvimento dos recém-nascidos, protegendo-os contra infecções, em especial problemas gastrointestinais e respiratórios e também contra alergias e diabetes, além de aumentar a imunidade do bebê. E, se este leite é importante para qualquer criança, para um bebê de alto risco pode representar a diferença entre a vida e a morte.

Um banco destinado a salvar vidas

Há dez anos as pediatras Eunice Amaral e Rosane Siqueira se jogaram de cabeça num projeto que já vinham acalentando há anos. A criação de um banco de leite humano, que suprisse o município deste alimento insubstituível e salvador de vidas. Graças a seu empenho, o Hospital Maternidade Nova Friburgo passou a ter condições de oferecer leite materno pasteurizado aos bebês prematuros que, até aquele momento, recebiam leite de vaca (através de fórmulas modificadas) na falta de leite da própria mãe.

Além de suprir a demanda da própria maternidade, o Banco de Leite também fornece leite materno aos demais hospitais da cidade quando necessitam deste alimento para alimentar bebês prematuros ali internados. Esta semana, por exemplo, a Unimed havia solicitado 300 ml de leite para um casal de gêmeos prematuros lá internados, cuja mãe ainda não tinha a quantidade de leite necessária.

Um desafio e tanto, pois o banco de leite nunca conseguiu ter um estoque suficiente para as necessidades do município. De vez em quando é preciso apelar para o banco-chefe, ao qual o Banco de Leite local é vinculado, o Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz, no Rio, que, por sua vez, também tem dificuldades de conseguir doadoras e nem sempre tem leite para ceder.

“Passamos um sufoco”, afirma Eunice. O ideal, diz ela, é que o Banco de Leite tivesse um estoque de pelo menos uns dez litros. No dia que visitamos o local, por exemplo, o freezer do Banco de Leite estava quase vazio, isto é, continha apenas três frascos de 300 ml cada. Para atender à solicitação da Unimed, o jeito foi pedir ao IFF. “Já tivemos fases melhores, mas em geral é mais ou menos assim”, continua.

Nem por isso se pode dizer que o Banco de Leite Humano da Maternidade não funciona. Muito pelo contrário. Graças à participação da comunidade e ao empenho das médicas e demais profissionais da maternidade, nenhum recém-nascido de risco parido em Nova Friburgo fica sem o leite que precisa para sobreviver.

Nova Friburgo é mesmo uma cidade privilegiada. Além de contar com um Banco de Leite Humano—algo que poucos municípios podem se orgulhar de ter—todas as maternidades fazem um trabalho de incentivo ao aleitamento materno. As doações são flutuantes, sim, mas sempre pingam. A maioria das mães doa até o filho ter cerca de seis meses, mas algumas vão além. É o caso da mãe que entrevistamos para esta reportagem.

“Quanto mais leite estocado tivermos, melhor”, reitera a doutora Eunice. “Hoje, só a maternidade está precisando de dois litros por dia, pois o neonatal está lotado. Amanhã podemos precisar de bem menos ou mais. Por isso mesmo o ideal é termos um estoque”, diz.

Toda mãe pode ser uma doadora

O Banco de Leite conta com uma salinha onde as mães podem colher seu leite e também para atender mães que estiverem com alguma dificuldade. Mas a maioria prefere mesmo retirar leite em suas próprias casas. A não ser no caso das mães de prematuros, que permanecem internados depois que elas próprias tiveram alta. Neste caso, ela recebe toda a orientação de como retirar e estocar o leite, além de todo o material necessário, como um gorro para cobrir os cabelos, máscara e um vidro esterilizado para ir guardando o leite no decorrer da semana. Estes cuidados são necessários para evitar a contaminação, o que obrigaria o banco a desprezar o leite, e seria uma pena.

Importante esclarecer que não é necessário encher o vidro de leite para doar. Se tirar apenas três dedinhos de leite num dia, não tem problema. A mãe vai marcar a data e a hora da primeira retirada e colocando no vidro ao longo da semana, guardando-o no congelador. Quando o vidro estiver cheio, é só levar no banco ou mandar buscar.

Sim, o Banco de Leite disponibiliza um carro que busca em casa o leite das doadoras às terças e sextas-feiras. Para tanto, dispõe da ajuda da Unimed, que uma vez por semana cede um carro para este serviço. A Unimed tem sido, aliás, uma parceira e tanto do Banco de Leite, assim como o Rotary e alguns empresários da cidade que fazem questão de permanecer anônimos.

O Banco de Leite da Maternidade é, com toda a certeza, um motivo de orgulho para todo friburguense. Mais que um banco de leite, ele promove e incentiva a amamentação, colaborando para a redução dos índices de mortalidade infantil no município, dando assistência à gestante durante o pré-natal e orientando as mães com dúvidas sobre amamentação.

Não sem razão, as mães doadoras do Banco de Leite e também suas fundadoras acabam de ser homenageadas em solenidade realizada na Assembleia Legislativa. O evento comemorou a criação da Semana Estadual de Doação de Leite Materno, que acontecerá sempre no mês de maio. O objetivo nem precisa dizer. Incentivar as mães a não desperdiçar este alimento tão precioso. E, ao mesmo tempo, oferecer a elas a gratificação de ver seu próprio bebê se desenvolver com toda saúde, sendo alimentado com o melhor leite do mundo.

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