Texto: Vinicius Gastin / Fotos: Lúcio Cesar Pereira
Disputar uma Copa do Mundo em um país de dimensões continentais, como é o caso do Brasil, pode trazer consequências extracampo e influenciar no desempenho das Seleções. As viagens serão mais longas que de costume para grande parte dos jogadores habituados às pequenas distâncias na Europa, onde inclusive algumas viagens são feitas de trem. A Inglaterra, por exemplo, percorrerá 3.185 km na primeira fase, uma distância maior que o deslocamento mais longo de um jogo da Premier League (a divisão principal do futebol inglês), entre o norte e o sul do país.
Entretanto, nenhum outro time vai andar tanto quanto os EUA. O time comandado pelo alemão Jürgen Klinsmann está no grupo C e vai encarar 5.609 quilômetros em apenas dez dias. Em linha reta, são sete horas de voo de Natal a Manaus e, depois, da capital amazonense a Recife. A distância é oito vezes maior do que o percurso da Bélgica, cabeça de chave do grupo H, a mais privilegiada em termos de deslocamento. As viagens ficarão restritas à região Sudeste e, ao todo, somam 698 km (Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo), distância percorrida em 1h30 de voo. O Brasil viajará 4.055 quilômetros entre São Paulo, Fortaleza e Brasília.
Brasil opta por preparação no frio
Além das distâncias, as temperaturas nos dias de jogos também poderão ser fatores diferenciais. Os ingleses, por exemplo, usam diversas camadas de camisas durante os treinos para simular o calor que os espera em Manaus. O clima varia de acordo com a região, e de acordo com o determinado pelo sorteio, Camarões e Portugal serão submetidas às temperaturas mais altas nas três partidas da fase de grupos. Os portugueses jogam em Salvador, às 13h; Manaus, às 15h; e, por fim, Brasília, às 13h.
No caso da Seleção Brasileira, o clima úmido de São Paulo no jogo de estreia, contra a Croácia, dará lugar ao calor cearense diante do México. Na última rodada, o time de Felipão enfrentará Camarões e o clima seco de Brasília. Caso chegue às finais, jogará nas cidades de Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Curiosamente, a preparação da equipe acontece em Teresópolis, cidade de clima frio e índices pluviométricos que provocam as famosas neblinas com certa frequência. O fisiologista da Seleção, Emerson Silami, chegou a ser questionado sobre a decisão, mas garantiu que a disparidade será compensada com um trabalho de suplementação. "Além do mais, não podemos abrir mão de uma estrutura como essa da Granja Comary”, justificou.
Especialista no assunto, o fisiologista do Friburguense, Gustavo Pergentino, ressalta os fatores positivos da opção por Teresópolis — tais como a localização, a excelência dos campos, a segurança e toda a estrutura oferecida —, mas alerta para os possíveis problemas de aclimatação. "Existem muitas particularidades, o que causa estranheza quando comparamos o clima das cidades-sede ao do local de treino escolhido. Principalmente em regiões mais afastadas do litoral, onde a umidade relativa do ar costuma ser muito baixa nessa época do ano. O fator aclimatação foi ignorado e deveria ser levado em consideração, pois grande parte do elenco atua fora do país.”
Quanto a possíveis efeitos positivos ou negativos provocados pela altitude, os 1.000 metros acima do nível do mar da cidade de Teresópolis não provocam interferência alguma. "O treinamento em grandes altitudes, com a baixa pressão de oxigênio, acarreta uma série de estágios que aumentam a capacidade de transporte de oxigênio, melhorando a capacidade aeróbia do atleta. No entanto, este efeito torna-se eficaz apenas em grandes altitudes. Em Teresópolis, tais efeitos são praticamente nulos.”
As distâncias percorridas na 1ª fase:
Grupo A
Brasil – 4.055 km (São Paulo, Fortaleza e Brasília)
Croácia – 5.522 km (São Paulo, Manaus e Recife)
México – 1.064 km (Natal, Fortaleza e Recife)
Camarões – 4.697 (Natal, Manaus e Brasília)
Grupo B
Espanha – 1.884 km (Salvador, Rio de Janeiro e Curitiba)
Holanda – 3.157 km (Salvador, Porto Alegre e São Paulo)
Chile – 1.937 km (Cuiabá, Rio de Janeiro e São Paulo)
Austrália – 2.230 km (Cuiabá, Porto Alegre e Curitiba)
Grupo C
Colômbia – 1.501 km (Belo Horizonte, Brasília e Cuiabá)
Grécia – 2.270 km (Belo Horizonte, Natal e Fortaleza)
Costa do Marfim – 3.351 km (Recife, Brasília e Fortaleza)
Japão – 2.783 km (Recife, Natal e Cuiabá)
Grupo D
Uruguai – 4.698 km (Fortaleza, São Paulo e Natal)
Costa Rica – 2.273 km (Fortaleza, Recife e Belo Horizonte)
Inglaterra – 3.185 km (Manaus, São Paulo e Belo Horizonte)
Itália – 3.093 km (Manaus, Recife e Natal)
Grupo E
Suíça – 3.673 km (Brasília, Salvador e Manaus)
Equador – 1.760 km (Brasília, Curitiba e Rio de Janeiro)
França – 3.519 km (Porto Alegre, Salvador e Rio de Janeiro)
Honduras – 3.287 km (Porto Alegre, Curitiba e Manaus)
Grupo F
Argentina – 1.684 km (Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre)
Bósnia – 3.498 km (Rio de Janeiro, Cuiabá e Salvador)
Irã – 1.788 km (Curitiba, Belo Horizonte e Salvador)
Nigéria – 2.987 km (Curitiba , Cuiabá e Porto Alegre)
Grupo G
Alemanha – 1.660 km (Salvador, Fortaleza e Recife)
Portugal – 4.546 km (Salvador, Manaus e Brasília)
Gana – 2.127 km (Natal, Fortaleza e Brasília)
Estados Unidos – 5.609 km (Natal, Manaus e Recife)
Grupo H
Bélgica – 698 km (Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo)
Argélia – 1.892 km (Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba)
Rússia – 2.256 km (Cuiabá, Rio de Janeiro e Curitiba)
Coreia do Sul – 2.536 km (Cuiabá, Porto Alegre e São Paulo)
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