Célio Junger Vidaurre
A descrença vivida pelo eleitorado brasileiro recebeu nesta última semana mais um capítulo dessa classe política que está totalmente desmoralizada em face de suas atitudes vergonhosas no cenário de Brasília. Desta feita, o noticiário tem como figura principal o senador Demóstenes Torres, que parecia, até então, ser um parlamentar digno que, inclusive, foi relator da CPI do apagão aéreo em 2007 e já votou neste mesmo ano pela cassação do senador Renan Calheiros.
A decepção provocada pelo senador Demóstenes é de um tamanho gigante, pois, o político sempre se mostrou coerente, “aparentemente”, em suas posições, quando certa vez assim se pronunciou sobre o mensalão: “Já esgotei a capacidade de aguentar calado e a paciência se esvaiu. Vou pedir o desligamento dos membros do DEM que estão no governo do Distrito Federal. Ou saem do governo, ou do partido”.
Com essa declaração o senador cresceu mais o seu conceito junto ao povo, tudo demonstrava que se tratava de um político quase da mesma linha de um Pedro Simon ou de um Jarbas Vasconcellos. Todavia, na última participação tenebrosa junto ao contraventor Carlos Cachoeira, tudo foi por água abaixo.
A situação do senador ficou muito complicada desde que confirmou sua amizade pessoal com o contraventor que já lhe ajudou com verbas para viagens em táxi aéreo e presentes de casamento. Assim, a Procuradoria-Geral da República, através do procurador Roberto Gurgel, já pediu ao Superior Tribunal Federal-STF a abertura de inquérito para investigá-lo, tendo em vista o material coletado sobre a relação do senador com o famoso empresário de jogos de azar, com indícios robustos.
Nesse deprimente momento, Demóstenes já não descarta renunciar ao mandato em função do desprestígio junto aos seus aliados no Senado Federal. Outrora, defensor da ética no Congresso e, agora, sob o risco de ser expulso do partido do qual é o líder (DEM) e processado no Conselho de Ética do Senado por quebra de decoro parlamentar, Demóstenes foi forçado a entregar a liderança do partido e, claro, rapidamente ficará no ostracismo, sem piedade.
Só faltava essa para irritar mais a nossa gente, um ex-delegado de polícia, ex-promotor público promovendo com seu mandato no Senado essas vergonhas que deixa toda a população em êxtase, pois, já não se sabe mais em quem confiar nesse Congresso onde, excluindo, uns quatro ou cinco, no máximo, chegamos a essa situação caótica. É muito cretino fingindo representar a população para depois demonstrar o que de fato é.
Vergonha, vergonha, mil vezes vergonha.
Enfim, o senador Demóstenes Torres já tomou conhecimento que o STF abriu o inquérito pedido pela Procuradoria. Por outro lado, ainda terá que enfrentar mais enormes obstáculos. Dois de seus maiores oponentes têm nas mãos tudo para liquidá-lo. Um, o presidente da casa, José Sarney, teve meses atrás um entrevero com o acusado em que quase saíram “no tapa” dentro do próprio plenário e, Renan Calheiros, líder do PMDB, teve em 2007 quase a cassação de seu mandato consolidada com o voto do então sério Demóstenes. Agora, Sarney e Renan comandam a Comissão de Ética do Senado e, por certo, a forra está a caminho. Não se falando como a Polícia Federal atuará no caso.
Até um ano atrás ele era um, hoje é outro!
Célio Junger Vidaurre é advogado e cronista político e-mail: celiovidaurre@yahoo.com.br
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