O erotismo tem um quê de perverso. Normalmente mais cede ao desejo do que ao ato, mais fala à destruição que ao equilíbrio. Essa violência tão típica, tão arrebatadora, desde os textos produzidos pelo libertário Marquês De Sade, se faz presente entre as metáforas que tomamos como certas em vista dos atos eróticos – repletos, nos dias de hoje, de uma sexualidade mecânica, sem paixão ou intuição. Esta opção pelas temáticas padronizadas, condicionamentos refletidos na construção e elaboração de ensaios eróticos, é questionada nos oito anos de trabalho desenvolvido pelo fotógrafo Maurício Porão.
Primo de quinto grau do sambista Bezerra da Silva, Maurício preferiu por adotar como sobrenome o apelido que lhe foi dado enquanto pertenceu ao movimento punk, do qual, aliás, nunca saiu efetivamente. E não foi apenas no nome da banda de João Gordo que o fotógrafo buscou inspiração para seu trabalho.
O clima sentido no trabalho de Porão reflete muito de sua trajetória particular, seja como um sensível e profundo conhecedor de música, mochileiro, e ex-motorista de táxi, policial civil, bancário e repórter fotográfico. De tudo isso destaca-se sempre a paixão do artista pelo instante capturado, o estranhamento típico do submundo, o modo como o “uso incomum da grande-angular induz à metáfora do distanciamento, num reino de sombras absolutas”, como definiu sua amiga e também fotógrafa Lisiane Ramos.
Normalmente com modelos não profissionais, algumas delas resvalando na marginalidade – travestis, garotas de programa, damas da noite, as fotos de Porão revelam, sempre com luz natural, estranhos pontos de vista, angulações extremas que começaram a tomar forma no site Minimal Devotion, que mantinha com amigos durante o período em que foi “cana”, como gosta de se referir à antiga profissão, para a qual pretende voltar um dia.
Por enquanto, de passagem por Nova Friburgo Porão se dedica a conhecer o universo underground de que é composto a cidade. E, embora sua arte seja obviamente erótica, há que se reconhecer que a busca de Maurício por um caminho fora dos padrões também o coloca na situação de ir além dos padrões estabelecidos pela grande indústria do erotismo.
As fotos de Maurício transpiram e respiram a descoberta, a anatomia envolta em sombras e luzes, cores e um certo glamour do acaso, do descaso, da jornada em meio a destroços de casarões que lhe servem de cenário, recheado de angústias que se convertem em beleza. O trabalho de Porão, que é estimado entre fotógrafos de diversas esferas, até internacionais, pode ser conferido em alguns dos diversos blogs que ele mantém no ar, como o devoti onmagazine.blogspot.com, acerolaglitter.blogspot.com, mauricioporao.blogspot.com e a shinemagazinne.blogspot.com, além de expor, praticamente em caráter permanente, no sebo de discos Plano B, na Lapa. “A Plano B é um dos poucos recantos oitentistas que ainda restam na Lapa, que hoje se tornou um antro de pela-sacos”, diz o fotógrafo, deixando claro sua personalidade forte que, felizmente, está impressa em cada fotograma de seu trabalho.
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