Eloir Perdigão
Um posto de recolhimento de embalagens de agrotóxicos vazias funciona há dez anos ao lado do Mercado do Produtor da Região Serrana, da Ceasa, em Conquista, mantido pela Associação dos Revendedores de Embalagens de Agrotóxicos da Região Serrana Fluminense (Arasef), presidida pelo comerciante Carlos Dantas. Ele se mostra entusiasmado com o crescente número de recipientes plásticos e papelão entregues pelos produtores rurais, que assim deixam de poluir a natureza.
Organizada em 2002, a diretoria da Arasef criou o posto no ano seguinte para recolher as embalagens vazias de agrotóxicos, que até então o produtor descartava de forma errada, queimava, enterrava ou jogava em rios, córregos, açudes. Depois passaram a entregá-las no posto de recolhimento. Em 2003 foram recolhidas duas toneladas de embalagens e este ano esse número deve chegar a 50 toneladas. Isto significa que o produtor rural está bem conscientizado quanto a essa devolução, com direito a um documento que o faz estar quite com lei federal nesse sentido.
O papelão é recolhido e segue para incineração
O INÍCIO
Como o maior número de lojas que atendem aos produtores rurais está no mercado, foi mais conveniente construir o posto ali mesmo, em terreno alugado da Ceasa. A Arasef é mantida por 32 lojas, com as quais são rateadas as despesas do posto, como salários de funcionários, aluguel, encargos e outras despesas. Não há nenhuma ajuda de órgãos públicos.
Além do posto de Conquista, em Nova Friburgo, a Arasef mantém outros postos, no Mercado de Água Quente, em Teresópolis, na Ceasa de Itaocara, localidade de Ponto de Pergunta; e no horto de Cachoeiras de Macacu, estes dois últimos em fase de licenciamento ambiental. O que deu certo em Nova Friburgo está sendo levado a outras cidades. Carlos garante que atualmente 60% das embalagens vazias de agrotóxicos recolhidas no Estado do Rio são da Arasef.
O posto de Conquista funciona com licenciamento do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que é renovado a cada cinco anos. Tem também credenciamento do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias de Agrotóxicos (Inpev), além das secretarias estadual e municipal de Agricultura. Segundo Carlos, é necessário seguir uma série de regras e leis, mas vale a pena pela preservação do meio ambiente.
Carlos mostra uma big bag para acondicionar as embalagens
Embalagens vazias de agrotóxicos recolhidas no posto da Arasef
CONSCIENTIZAÇÃO
Carlos Dantas é o presidente da Arasef desde 2002 e os demais cargos da diretoria são compostos pelos demais lojistas. Dois funcionários se incumbem de receber, separar e guardar nas chamadas big bags as embalagens entregues no posto. Todo o material é transportado para Campos em três caminhões lotados por mês. As embalagens contaminadas (laminadas) e o papelão são incinerados, ora em Belford Roxo, ora em Suzano (SP), e as embalagens plásticas são recicladas.
Carlos se entusiasma com a adesão dos produtores rurais ao apelo da Arasef, que aumenta a cada ano. E diz que eles ganham de duas formas: além de evitar que esse lixo tóxico contamine sua propriedade, fica em dia com a lei. O produtor que ainda não entrega suas embalagens não precisa atender a nenhum requisito, basta levá-las ao posto. Nem é exigida nota fiscal e ele ainda recebe um documento para fins de fiscalização. Essa regra vale para os quatro postos da Arasef.
"Sem dúvida vale a pena o produtor entregar as embalagens aqui no posto. Não dá trabalho nenhum”, atesta Carlos. Ele lembra que o Estado do Rio não tem muita tradição agrícola, comparado a outros estados, mas tem um número representativo de produtores, principalmente da agricultura familiar, que há dez anos evitam que as embalagens vazias de agrotóxicos permaneçam e contaminem suas propriedades. Enquanto o recolhimento dessas embalagens cresceu 5% a 8% nos outros estados, no Estado do Rio cresceu 200%, com grande participação da Arasef.
São dez anos em que a natureza está sendo poupada da poluição. Ao longo desse período Carlos Dantas calcula que 250 toneladas de embalagens vazias de agrotóxicos deixaram de ser descartadas na natureza. "Só para se ter uma noção, uma embalagem dessas pesa uns 50 gramas. Agora imagine 250 toneladas e veja a quantidade, são milhões de embalagens vazias de agrotóxicos tiradas do meio ambiente”, exclama. Além de não poluir o meio ambiente, as propriedades, os próprios alimentos oferecidos pelos produtores são mais confiáveis, têm melhor qualidade. "É uma agricultura mais limpa, mais verde. Já que não dá para produzir sem o agrotóxico, que a gente use com consciência, o produto certo na hora certa, para a praga certa, na quantidade certa, sempre com o acompanhamento de um agrônomo, e depois, no final, as embalagens que eram um problema, hoje têm destino correto. É um bom serviço prestado pela Arasef”, finaliza Carlos Dantas.
Carlos Dantas preside a Arasef desde 2002
O posto funciona em terreno alugado da Ceasa
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