As múltiplas atividades de Zury Maurer

Apresentador de televisão, o engenheiro também é voluntário em associações e conselhos
quarta-feira, 17 de abril de 2013
por Jornal A Voz da Serra
As múltiplas atividades de Zury Maurer
As múltiplas atividades de Zury Maurer

 

Vinicius Gastin

A gargalhada inconfundível não é a única característica marcante de Zury Alvarez Maurer. As múltiplas participações em conselhos e associações e o comando de um programa de televisão ofuscam a verdadeira identidade profissional. “As pessoas me conhecem mais pelo trabalho voluntário e nas mídias. Só mesmo o pessoal do ramo sabe da minha militância na engenharia”, comentou.

Nascido e criado em Nova Friburgo, viveu durante a infância no distrito de Conselheiro Paulino e mudou-se para o centro da cidade quando ainda era adolescente. Aluno do Colégio Anchieta até 1977, graduou-se no curso de Engenharia Elétrica da Universidade Católica de Petrópolis sete anos mais tarde. De volta à cidade natal em 1984, conseguiu um emprego na área de formação, onde atua até hoje. Zury apostou na engenharia pela facilidade e aptidão aos números, traduzidas em boas notas na escola. “Eu sempre gostei das ciências exatas e optei por essa área, sobretudo porque a engenharia sempre me chamou a atenção. É a ciência das múltiplas soluções e conseguimos transferir isso para a nossa vida particular. Temos a possibilidade de buscar alternativas para uma solução”.

Casado com Sueli e pai de José Victor e Gislaine, o empresário é dono de uma loja de instalações elétricas e afirma estar realizado profissionalmente. A satisfação de trabalhar na área proporcionou a estabilidade e o levou a ampliar o campo de atuação. A primeira participação em trabalhos voluntários aconteceu em 1987, quando atuou como segundo secretário da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Nova Friburgo (Aeanf), instituição que presidiu por quatro mandatos, o último entre 2005 e 2007. 

“O voluntariado nos torna dependentes das causas, nos deixa refém e de certa forma nos priva da nossa atividade profissional, de momentos de lazer e com a família. No entanto, satisfaz e traz a possibilidade de resgatar a autoestima de todos aqueles que são beneficiados por esse trabalho. Nós somos privilegiados por trabalhar em nossas áreas de formação. Isto porque, a nossa família fez o sacrifício de pagar uma faculdade e, dentro desse contexto de carência de acesso à formação superior, me sinto obrigado a devolver para a sociedade o que ela me proporcionou”.

A paixão pelo voluntariado abriu novas portas: Zury participou do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-RJ) e da Federação das Associações de Engenheiros e Arquitetos (Faerj-RJ). A partir desse envolvimento o empresário foi convidado a participar do programa Cidadania, apresentado por Paulo Mafort, para discutir a canalização do Rio Bengalas, em 2002. “Participei e me senti muito bem. Percebi que seria importante para a nossa entidade ter um espaço na mídia”.

A ideia de universalizar os conhecimentos da engenharia amadureceu. Zury procurou a direção de uma emissora local e apresentou a proposta. Depois de três meses de negociações e formatação do programa, o “Hora Técnica” entrou no ar em 19 de janeiro de 2003. Zury Maurer produziu e apresentou a atração durante cinco anos, quando uma mudança na direção da emissora o levou para outro caminho. “O projeto continua até hoje, o que prova o sucesso. As raízes do programa são profundas. Em 2008 a nova diretoria da emissora promoveu mudanças e eu assumi um novo projeto.”

O desafio atendeu pelo nome de “Cidade Real”. A proposta de valorizar a história de Nova Friburgo caiu nas graças dos telespectadores e, com o passar do tempo, passou também a mostrar a realidade do município. “Hoje o programa é voltado para a utilidade pública e trata de todos os temas, sem escolha prioritária. O tema é o do momento, vai tratar daquilo que está afligindo a população. Não tenho dúvida de que só a informação permite a transformação.”

No último dia 10 de março o programa completou cinco anos no ar e, no dia 18, 500 edições ao vivo. Pelo segundo ano consecutivo foi apontado como o programa de maior audiência entre as emissoras de televisões locais na categoria “talk show”, em pesquisa de um instituto de São Paulo. O talento e a facilidade de Zury para a comunicação resultaram em dez anos na emissora, completados em 2013. “Quando eu puder e tiver condições, pretendo me formar em Jornalismo. Eu tenho a prática pelas participações em rádio, no programa “O Show do Pedro Osmar” e mais recentemente na Rádio Comércio. Eu me identifico com essa área”, revelou.

 

ATUAÇÃO NO CONSELHO DE SEGURANÇA

De fato, Zury Maurer mistura as várias funções com um só objetivo. Através da informação, os ideais de um voluntário passam a ser conhecidos pela sociedade e pelo público-alvo da entidade representada. “O diferencial é promover a melhoria através da informação. Esta é perene, nada supera o conhecimento. Qualquer outro bem material pode ser perdido”.

Separar as múltiplas “personalidades” do apresentador, voluntário e comerciante torna-se um desafio. O histórico de participações gera novos convites e aumenta o envolvimento com as diversas causas. “Isso acontece naturalmente, sem que a gente tome a iniciativa de buscá-las. Mas temos que ter o cuidado para não assumir o mesmo nível de cargos em várias entidades”.

Atualmente o engenheiro ocupa os cargos de vice-presidente e coordenador da Câmara Técnica do Conselho de Segurança (Conseg) e acumula as funções de vice-presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo (Acianf). “Nada disso é remunerado, pelo contrário. Nós deixamos um pouco de lado nossas atividades profissionais em favor dessas causas”.

Entre elas, a segurança tornou-se o maior desafio pela complexidade da questão e a atuação no Conseg consome a maior parte do tempo de Zury Maurer. “O termo segurança é multidisciplinar e está sendo agregado ao cotidiano. Temos, por exemplo, números preocupantes em Nova Friburgo com relação ao crime passional, que corresponde a 70% dos casos. São crimes que envolvem vizinhos e amigos também”.

A exposição das ideias e opiniões nem sempre é aceita, especialmente quando a discussão gira em torno de temas polêmicos. A construção da Casa de Custódia em Nova Friburgo é um exemplo. As especulações sobre essa possibilidade cessaram nos últimos anos e o fato gera transtornos aos parentes dos detentos. “Qualquer pessoa que conversar com uma mãe que quer visitar o filho em Bangu vai se emocionar. Ela conta como é essa caminhada, desde a saída da cidade, às cinco da manhã, até o momento de encontrá-lo”, diz.

O Conseg defende a implantação da Casa de Custódia, porém em um tamanho menor, com capacidade para 250 pessoas e direcionada aos presos de Nova Friburgo. A proposta vai de encontro ao projeto apresentado pelo Estado, que prevê a lotação máxima entre 500 e mil presos. “Nós defendemos que ela seja construída em uma área que não altere o circuito turístico do município. A antiga prisão parecia uma masmorra medieval, era desumano. Mas se a Casa de Custódia for feita como o Estado planeja, vários ônibus de traficantes vão subir a serra durante a madrugada e, com eles, os familiares que se instalarão na cidade. Assim o crime organizado teria a rede firmada e isso nós não queremos”, argumenta Zury Maurer.

Entretanto, a prioridade atual do Conselho de Segurança é o combate à violência no trânsito, a principal causa de mortes em Nova Friburgo. As estatísticas mostram que, para cada seis óbitos por homicídio, dez acontecem no trânsito. Em 2012 o número de ocorrências foi 40% maior. “As vítimas do trânsito têm uma característica única: geralmente são inocentes, diferente de quem, por exemplo, foi morto por envolvimento no tráfico. O tempo de recuperação de um paciente acidentado é longo”.

 

O FUTURO DE NOVA FRIBURGO

As atuações em variadas entidades reafirmam a paixão de Zury Maurer por Nova Friburgo. Ao comentar sobre o futuro da cidade, o engenheiro alerta para o crescimento populacional sem a estrutura adequada e aponta, inclusive, para medidas enérgicas, tais como não oferecer serviços de água, luz e coleta de lixo às áreas que não podem ser ocupadas. “Nós moramos em uma área de risco permanente. As chuvas, inundações e deslizamentos continuarão acontecendo, mas não precisam matar ninguém.”

A crescente dívida ativa da cidade – que representa a metade do orçamento do município, a falta de projetos para resolver os problemas e a decadência econômica o preocupam. Zury questiona as obras de recuperação pós-tragédia por conta dos impactos, alto custo e fragilidade. “O trabalho de contenção deveria ser criativo e existem várias opções para isso. Um exemplo é um tipo de capim que cresce dois metros na superfície e as raízes se aprofundam por seis metros. O método tradicional de contenção de encosta envolve outras coisas e nem sempre resolve. As feridas estão abertas e, para cicatrizá-las, vai levar muito tempo. Temos que ser realistas. Uma década antes da tragédia já estávamos em uma decadência econômica. O equívoco é não tirar proveito estratégico disso. Temos que transformar a crise em uma oportunidade de reconstrução”, avalia.

Em meio às dificuldades de reorganização, a palavra-chave para evitar novos transtornos e retomar o caminho do crescimento é planejamento. “Eu gostaria que Nova Friburgo fosse uma cidade planejada. Se observarmos o caminho da Praça Getúlio Vargas até a Avenida Alberto Braune, todas as ruas são perpendiculares. O município foi planejado, mas cresceu de forma desordenada. Mas isso requer estudo e tempo. A diferença entre a cidade que queremos para a que teremos é muito grande. Estamos nos perdendo em discussões absolutamente improdutivas, totalmente inadequadas. Enquanto isso acontecer, não vamos nos recuperar do momento que estamos vivendo”.

Ainda assim, Zury Maurer mantém o otimismo e, com o bom humor que lhe é peculiar, revela o maior desejo para os próximos anos. “O meu sonho é que não exista nenhum desses conselhos, pois eles apontam as falhas do sistema, diferentemente das associações. Dessa forma, sobraria tempo para eu participar de outras atividades”. 

 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade