Carlos Emerson Junior (*)
Nove meses após a tragédia de janeiro, choveu forte em Nova Friburgo no último sábado, dia 15 de outubro. Segundo a Defesa Civil, foram 58 mm de precipitação em uma hora, com as consequências já esperadas por todos: alagamento das ruas do centro da cidade, subida rápida do nível das águas do Rio Bengalas e cachoeiras de lama descendo das encostas nuas dos morros.
Uma das características geográficas de nossa cidade é o clima tropical de altitude, típico de serras e regiões montanhosas. As temperaturas são semelhantes às do clima subtropical e o índice pluviométrico mensal é abaixo de 60 mm. Pois é, em apenas uma hora choveu o esperado para todo o mês.
Não houve nenhum alerta prévio para a população, que acabou sendo pega de surpresa. O tão propalado sistema de sirenes ainda depende da burocracia estatal e os treinamentos da Defesa Civil prosseguem de acordo com o tamanho de seu orçamento, bem escassos...
Todos os meios de comunicação deveriam ser acionados nessas emergências, até mesmo quando a chuva for intensa, mas não oferecer perigo. A população está, com toda a razão, traumatizada e precisa de tranquilidade. A falta de informação pode levar ao pânico e convém não esquecer a comoção provocada pelo episódio do suposto rompimento de uma represa que sequer existia.
O alagamento das ruas, no entanto, já era mais do que esperado. Eu mesmo ouvi uma autoridade de Nova Friburgo declarar em uma rádio local que as galerias de escoamento de águas pluviais da Rua General Osório foram completamente destruídas e não havia verba suficiente para fazer tudo de novo. Não por acaso, essa rua virou um rio de lama no sábado passado.
O Rio Bengalas, sabemos todos, não foi dragado e, para piorar, virou uma imensa lixeira ao céu aberto, cheio de pneus velhos, móveis, lixo de todo o tipo e muito assoreado. Se ele transbordar, as águas que descem dos morros enlameados não terão para onde correr e refluirão. Os prejuízos à cidade serão enormes, isso sem falar em possíveis vidas perdidas.
Tenho minhas dúvidas se há tempo de reverter ou minorar um quadro que pode ser caótico. Chegou a hora de organizarmos grupos de auxílio em ruas, bairros, condomínios ou associações de moradores, pensando em medidas básicas como o tão falado kit de sobrevivência, locais e rotas de fugas, pontos seguros para abrigos e um sistema de comunicação informal.
Em janeiro mostramos nossa força e solidariedade salvando e amparando vidas. Desta vez, a colaboração preventiva pode fazer toda a diferença se chover forte. Conversem com os seus vizinhos, amigos e parentes, exponham suas ideias, dúvidas e receios. Organizem-se. Não dá mais para esperar que a ajuda caia do céu.
As chuvas chegaram.
(*) carlosemersojnr@gmail.com
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