Juliana Scarini
O mês de agosto é conhecido pelas fortes correntes de vento que atingem o país. Pensando nesse fator climático, os friburguenses já começam a se preocupar com as diversas árvores espalhadas pela cidade que apresentam risco de queda. Mensalmente, a Defesa Civil e a Prefeitura recebem pedidos de vistoria de árvores. Porém, ainda há muita dúvida do que fazer em caso de árvores em risco.
Segundo o coronel João Paulo Mori, coordenador da Defesa Civil (DC) de Nova Friburgo, a DC só pode realizar vistoria de árvores em via pública. “No caso de árvores em risco quem vai fazer a vistoria somos nós que temos os bombeiros, tenentes experientes. Quando há algum caso de dúvida pedimos apoio do engenheiro florestal. Mas, em 99% dos casos, o risco é visível e identificamos facilmente”, declarou.
Após identificado o risco é encaminhado um laudo para a Secretaria de Serviços Públicos que executará o serviço, desde que seja em via pública. Wantuil Cler Wenderoscky, encarregado do Departamento de Parques e Jardins (DPJ), diz que a secretaria tem uma equipe de quatro homens, sendo um motorista, dois que fazem o corte e um para ajudar. No entanto, o trabalho é feito apenas com uma escada que, segundo Wantuil, não é seguro. “E tem outra questão. Eu não quero colocar em risco a vida das pessoas que trabalham comigo. Existem casos que a árvore está em contato com a rede elétrica, então tem que solicitar à Energisa para desligar a rede elétrica. Quando tem essa situação, eu já aviso que não vou fazer o serviço. Então, é feito um ofício que é enviado para a Energisa e nós ficamos aguardando a resposta”, explicou, ponderando que o DPJ não pode simplesmente cortar uma árvore porque o cidadão acha que ela oferece risco. É preciso ter respaldo legal para realizar o corte.
Roberto Torres, secretário de Serviços Públicos, disse que a Prefeitura já está providenciando a aquisição de um veículo com cabine para corte que irá facilitar o trabalho e dar mais segurança aos funcionários.
“Eu tenho uma pilha de processos para serem feitos, mas nós procuramos ver a prioridade. Tem muita gente que entra com um processo de corte de árvore por capricho, porque está enfeando a fachada da casa. Nós não vamos dar prioridade a isso. Geralmente, nós vamos ao local e fazemos uma análise da situação e separamos por prioridade, os que oferecem risco”, revelou Wantuil, lembrando que, em alguns casos, o Corpo de Bombeiros é parceiro do DPJ, pois apesar de não ser responsável pelo corte de árvores, é responsável por vidas.
E se a árvore estiver em terreno particular?
Quando árvore em propriedade particular que apresenta risco deve ser solicitado corte na Secretaria de Meio Ambiente, que encaminha um engenheiro florestal até o local e, se identificada a necessidade de corte, o dono do terreno deve contratar uma empresa para realizar o serviço. Mas nem sempre é assim que ocorre. Na edição de A VOZ DA SERRA do dia 19 de julho, por exemplo, foi publicada notícia da queda de uma árvore em Catarcione. Os moradores da Rua Eugênio Nideck levaram um grande susto com a queda da árvore sobre um Kadett estacionado em frente ao número 529. A árvore também quebrou parte do telhado de uma confecção que funciona no local e danificou as calhas. Segundo os moradores, desde 2009 a árvore é motivo de preocupação entre a comunidade, que fez vários apelos pedindo providências à Prefeitura. As queixas não impediram o acidente, causando indignação geral. “Na semana passada técnicos da Defesa Civil estiveram aqui vistoriando a árvore e garantiram que não havia risco”, denunciou a moradora de uma residência vizinha quando o fato ocorreu. No entanto, em laudo apresentado à reportagem de A VOZ DA SERRA, a Defesa Civil informa que o pedido de vistoria feito na referida rua, ocorreu no dia 4 de junho e aconteceu nos seguintes pontos: ao lado do bloco de Carnaval Bola Branca, ao lado da residência número 440 e ao lado da loja “Comércio de Rações”.
No laudo foi identificada a necessidade de corte de arbustos que ofereciam risco ao galpão do bloco Bola Branca, sendo notificada a efetuação do corte. Com relação ao número 440, o laudo informa que o terreno “é coberto por mata nativa com algumas espécies arbóreas de grande tamanho, causando risco ao imóvel 440 e também aos usuários da própria rua. Ninguém conhece o proprietário do terreno”. O processo foi encaminhado à Secretaria de Fazenda para a identificação do proprietário do terreno descrito no relatório. João Paulo Mori afirmou que a árvore que caiu na mesma rua não foi vistoriada pela Defesa Civil. “Nós fazemos vistoria onde tem pedido”, afirmou, alegando que a árvore em questão não teve solicitação de vistoria.
Muitas são as queixas de pessoas que temem com a queda de árvores sobre suas casas. É o caso de João Clemente Quaresma de Moura, morador do Vale dos Pinheiros, que há tempos vem se queixando de uma árvore atrás de sua casa. “É uma árvore muito bonita e infelizmente de um tempo para cá ela se tornou uma grande preocupação. Ela está no terreno do horto da Prefeitura, mas sua copa adentra nosso jardim; e ela inclusive está inclinada para o lado de cá”, reclama João. Segundo ele, só este ano, vários galhos já caíram e, da última vez, quebrou o telhado de um canil desativado que é usado como depósito em sua casa.
“Ligamos para a Defesa Civil e esta, para nossa surpresa, disse que o problema—que é de prevenção e segurança—era de atribuição da Secretaria de Meio Ambiente. Ligamos para a secretaria e o rapaz nos atendeu com muita atenção e educação e disse que membros da secretaria nos visitariam nos próximos dias. Mas isso não ocorreu; isso foi meses atrás”, contou João, temendo que algo pior aconteça durante seu percalço burocrático.
Outro problema relacionado às árvores em risco se encontra no km 78 da Rua Álvares de Azevedo. Por se tratar da RJ-116, ou seja, estrada estadual, quem deve notificar o proprietário do terreno é o Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Porta-voz de moradores do local, a editora-chefe de A Voz da Serra, Angela Pedretti, enviou solicitação ao Inea no dia 15 de abril do ano passado alertando sobre o risco de algumas árvores à beira da rodovia, porém, até o momento não obteve resposta, e o perigo continua a rondar o local, havendo espécies com as raízes já expostas, inclusive. Ela também informou que a Rota 116 foi avisada do problema, mas igualmente não tomou nenhuma providência.
Na Praça Getúlio Vargas, o medo que mais árvores caiam
Ninguém contesta a beleza da Praça Getúlio Vargas, porém, desde a queda de um dos eucaliptos centenários no dia 12 de julho cresceu a preocupação sobre o local. Pensando em discutir alternativas para a praça será realizada nesta quarta, 8, às 14h30, uma reunião do Conselho Municipal do Meio Ambiente (Commam) com membros do Conselho, engenheiros, secretários municipais e outras autoridades.
Segundo Fernando Cavalcante, presidente do Commam, o objetivo da reunião é buscar uma alternativa de responsabilidade. Ele informou que a Prefeitura pretende entrar no Ministério Público colocando a responsabilidade de vida das pessoas que passam pelo local sobre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “Há pelo menos dez anos existem projetos para a Praça Getúlio Vargas”, esclareceu Fernando, lembrando que o Iphan não deixa que nenhuma medida seja tomada no local.
A Praça Getúlio Vargas foi construída em 1880 pelo engenheiro e paisagista francês Auguste François Marrie Glaziou, também responsável pelo projeto paisagístico do Nova Friburgo Country Clube. O Iphan tombou a praça na década de 80 e, segundo o coordenador de patrimônio material e imaterial da Secretaria Municipal de Cultura, Luiz Fernando Folly, a queda de eucaliptos é normal, principalmente pela idade dessas árvores.
Um dos cartões-postais da cidade e por ser tombada como patrimônio histórico, é proibido na Praça Getúlio Vargas fazer podas, retiradas ou qualquer outra ação afim no local, que deve ter autorização do Iphan, o que vem preocupando moradores e autoridades com relação à segurança de friburguenses e turistas.
Vários eucaliptos já apresentam estado de deterioração, infestado por cupins, por exemplo. O coronel João Paulo Mori afirmou que a Defesa Civil participará da reunião e apresentará uma análise da quantidade de árvores em risco. “Estamos numa discussão interna, pois a gente acha que o risco está acima da autorização, ou não, do Iphan. O Iphan proíbe, mas e se cair na cabeça de alguém e matar uma pessoa? São árvores centenárias, porém, o Iphan ainda bate na tecla de não retirar. Nenhuma árvore é eterna, um dia elas vão cair. No dia que aquela árvore caiu, poderia ter acontecido uma tragédia. A sorte é que caiu para dentro da praça. E se caísse para o outro lado? É preciso que o Iphan seja um pouquinho mais maleável e autorize as podas e ou cortes dessas árvores”, questionou Mori.
Wantuil Cler Wenderoscky também compartilha a mesma opinião. “Existe o imprevisível. Aquelas árvores podem durar mais cem anos, assim como podem cair amanhã de manhã. Então, nós temos que tentar evitar e pensar no imprevisível. Passa muita gente por ali, temos que dar uma opção de escape, em qualquer parte da praça e ao redor, as pessoas estão correndo risco”, protestou.
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