Henrique Amorim
O Ministério da Educação e Cultura (MEC) pretende implantar a partir de 2016 o novo Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê a suspensão dos repasses do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) para as mais de duas mil unidades da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) em todo o Brasil. A intenção do MEC é estimular a inclusão social das crianças e jovens com necessidades especiais, assistidos pelas Apaes, inserindo-os nas escolas regulares da rede pública. O projeto ainda será apreciado pelo Senado, contudo, se depender dos familiares dos assistidos pelas Apaes, uma grande pressão popular deverá sensibilizar as autoridades a impedir que muitas Apaes país afora acabem fechando as portas por falta de recursos, já que nem todas sobrevivem somente de convênios ou doações da comunidade.
Em Nova Friburgo, a presidente da Apae, Maria das Dores Mello Pacheco, a Dorinha, tranquiliza os familiares dos cerca de 450 assistidos pela instituição na sede da Rua Ventura Spargolli, no Prado, distrito de Conselheiro Paulino, que vem sendo ampliada. "Não vamos parar nunca”, brada Dorinha. "Se não tiver convênios ou repasse, a comunidade que sempre nos ajudou não vai permitir que a Apae deixe de cuidar dessa grande família”, continua ela. Seu filho, o coordenador de eventos e divulgação da entidade, Flávio Mello Pacheco, é cético quanto à possibilidade de os recursos do Fundeb deixarem de ser repassados a muitas Apaes de todo o Brasil. "Dificilmente as escolas regulares terão condições de absorver uma demanda de alunos que requerem atenção maior e específica de profissionais especializados. Muitas escolas públicas de Nova Friburgo não dão conta de assumirem alunos com deficiência de aprendizado e os mandam para nós”, observa Flávio.
Ele afasta ainda a possibilidade de esta proposta do MEC afetar de alguma forma a Apae de Nova Friburgo, pois a instituição, com 34 anos de atividades no município, não recebe recursos do Fundeb. Todos os repasses para o setor de educação vêm do Estado, através da Fundação para a Infância e Adolescência (FIA) (R$ 22.921,59 mensais por cada grupo de cem assistidos) e mais cerca de R$ 24 mil mensais da Prefeitura de Nova Friburgo. Já os serviços de saúde são custeados através de convênios com o Sistema Único de Saúde (SUS), que garante repasses diferenciados para cada procedimento, inclusive os testes do pezinho.
Flávio e a mãe Dorinha: união e dedicação em defesa dos cerca de 450 assistidos.
Construção dos três pavilhões é um sonho que se torna realidade
O pavilhão da saúde (Centro de Reabilitação) já está pronto. A obra custou R$ 1 milhão, doados
pela Loterj no pós-tragédia 2011, quando a sede antiga foi devastada pela enchente do Bengalas
Pavilhão sendo erguido com recursos de doações
e materiais reciclados das construções de demais núcleos
Mais do que dinheiro, o que mantém a Apae é muito amor, solidariedade e dedicação
Um exemplo que os familiares dos assistidos pela Apae em Nova Friburgo tem como garantia de que a instituição está firme e forte é o ritmo acelerado das obras de ampliação do complexo da unidade no Prado. A sede, que por inúmeras vezes foi devastada pelas tradicionais enchentes do Rio Bengalas, agora se concentra em dois amplos pavilhões de concreto, construídos sobre pilotis a 3,20 metros do nível da rua. E outro pavilhão está sendo erguido. Em breve, os três estarão interligados, oferecendo total conforto, mobilidade, funcionalidade e, principalmente, muito carinho, atenção e amor às crianças e jovens que desfrutam do trabalho da Apae, prestado por 62 funcionários contratados e assalariados.
O pavilhão, que concentra o serviço de saúde, inclusive, já está pronto e funcionando a todo vapor, com salas de fonoaudiologia, psicologia, terapia ocupacional, estimulação sensorial (psicomotricidade) e fisioterapia e em breve ainda serão retomados os serviços de hidroterapia e odontologia. Tudo em espaços bem amplos, arejados e com bom acabamento. O pavilhão da saúde, denominado Centro de Reabilitação, foi erguido com R$ 1 milhão doado pela Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj) após a sede ser totalmente destruída na tragédia das chuvas de 2011.
Já o pavilhão da educação, onde os assistidos têm aulas do ensino regular, acompanhamento educacional, aulas de música e informática, educação física e ambiental, sala de leitura, arte-educação, além de teatro, judô, dança, coral e capoeira, e o pavilhão da administração e refeitório estão tornando-se realidade graças a doações da comunidade e à renda apurada com eventos diversos e bazares. "É a solidariedade e o amor que movem a Apae. É um trabalho que nos consome, mas, ao mesmo tempo, nos gratifica. Às vezes, quando consigo parar já lá pela madrugada, a única coisa que peço a Deus é que me permita descansar pelo menos por umas três horas para recarregar as forças e começar tudo de novo”, diz Dorinha, que aos 72 anos se divide entre a assistência à sua enorme família de filhos e netos na Apae e os cuidados especiais ao seu filho excepcional, Rafael, de 44 anos, o grande idealizador e motivador de toda a dedicação e amor de Dorinha à Apae.
"Pode um dia a Apae acabar? Nunca, não é?”, resume Dorinha, sorrindo como sempre, mesmo diante de tantas dificuldades. Ela lembra que qualquer tipo de doação — seja em dinheiro, móveis, utensílios e principalmente, agora, materiais de construção — é muito bem-vinda. As contribuições podem ser creditadas na conta corrente 50528-1 do Banco Itaú, agência 222. Mais informações sobre como ajudar a Apae podem ser obtidas através dos telefones 2522-7158 e 2522-8670.
No setor de educação os alunos complementam o aprendizado com atividades lúdicas
A aula no laboratório de informática na sede nova é uma das mais esperadas pelos alunos.
Ali eles também têm contato com o mundo virtual através da internet
Nas salas de aula, as crianças têm toda a atenção de professores capacitados para a
educação especial. O serviço é custeado com recursos estaduais, através da FIA
Quando a inclusão revela talentos: o aluno João Vitor, 11 anos, já se destaca
ao piano. Dom que ele começa a desenvolver também na Apae
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