Ao mestre Eloir Perdigão, com carinho

A despedida do jornalista de A Voz da Serra‭, que se aposenta após 30 anos de casa
terça-feira, 29 de dezembro de 2015
por Ana Borges
(Foto: Amanda Tinoco)
(Foto: Amanda Tinoco)

Trinta anos se passaram desde que o jornalista Eloir Perdigão bateu na porta do jornal A VOZ DA SERRA,‭ ‬atrás de trabalho.‭ ‬O diretor Laercio Ventura atendeu seu pedido,‭ ‬e desde então ele consolidou sua carreira,‭ ‬fez muitos amigos e construiu uma história da qual se orgulha.‭ ‬Na época,‭ ‬meados dos anos‭ ‬1980,‭ ‬sem experiência,‭ ‬mas já um‭ ‬‘bom divulgador de notícias‭’‬,‭ ‬como ele mesmo se define,‭ ‬teve o privilégio de contar com o melhor professor de jornalismo que poderia ter:‭ ‬Reginaldo Miranda,‭ ‬então chefe de redação do jornal,‭ ‬a quem rende homenagens sempre que tem a oportunidade.

Nascido em Cordeiro,‭ ‬ainda pré-adolescente veio com a família para Nova Friburgo.‭ ‬Desde a infância demonstrava gosto pelas letras.‭ ‬Era tão bom em redação,‭ ‬que aos‭ ‬12‭ ‬anos um de seus trabalhos foi comentado até em outras escolas,‭ ‬como exemplo de um bom texto.‭ “‬Eu estudava no Colégio Modelo e lá a gente era incentivado a escrever.‭ ‬Eu tinha uma facilidade natural para desenvolver qualquer tema e ficava orgulhoso quando meus colegas pediam pra‭ ‬ler o que eu tinha escrito‭”‬,‭ ‬lembra Eloir.‭

Foi o professor José Augusto Siqueira,‭ ‬no primeiro ano do antigo ginasial,‭ ‬em Cordeiro,‭ ‬que despertou o seu interesse pela notícia.‭ “‬Antes de começar a aula,‭ ‬ele sempre pedia,‭ ‬a uns cinco alunos,‭ ‬para comentar alguma notícia que tivéssemos lido numa revista,‭ ‬jornal,‭ ‬ou ouvido no rádio.‭ ‬Isso acabou se tornando um hábito pra mim,‭ ‬e desde então passei a ter curiosidade sobre o que estava acontecendo aqui ou em qualquer outro lugar.‭ ‬Eu repassava o que ouvia no rádio,‭ ‬que era o principal veículo de informação que todos tínhamos‭”‬,‭ ‬conta.‭

Quer dizer,‭ ‬a comunicação na vida dele começou pelo rádio,‭ ‬como um entre milhões de ouvintes.‭ ‬Antes de enveredar pelo jornalismo,‭ ‬Eloir estudou contabilidade,‭ ‬trabalhou em escritórios,‭ ‬fez curso de ajustador mecânico no Senai,‭ ‬tudo isso em busca de uma profissão.‭ ‬Precisava se preparar para o mercado de trabalho.‭ “‬Eu precisava me formar para arrumar emprego.‭ ‬Quando saí do Senai fui trabalhar na indústria Indaço‭ (‬onde hoje funciona o Sesc‭)‬,‭ ‬depois no supermercado ABC‭ (‬atual Extra‭)‬,‭ ‬no banco Real‭ (‬atual Santander‭)‬,‭ ‬na revendedora Chevrolet,‭ ‬enfim,‭ ‬estava sempre buscando um rumo profissional.‭ ‬Aí o jornal‭ (‬A Voz da Serra‭) ‬publicou um anúncio de emprego para repórter.‭ ‬Não pensei duas vezes:‭ ‬me candidatei à vaga,‭ ‬e Laercio‭ (‬Ventura,‭ ‬o diretor‭) ‬me abriu as portas‭”‬,‭ ‬recorda-se.‭

Um aprendizado para a vida inteira

‭‬Isso foi em fevereiro de‭ ‬1986.‭ ‬Assim começou o‭ “‬curso‭”‬ de jornalismo de Eloir Perdigão com o mestre Reginaldo Miranda,‭ ‬no tempo da máquina de escrever.‭ “‬Eu considero o Reginaldo o meu professor de jornalismo.‭ ‬Com ele aprendi tudo.‭ ‬Escrevia o texto na máquina,‭ ‬passava pro Reginaldo revisar,‭ ‬ele alterava,‭ ‬corrigia,‭ ‬rabiscava e devolvia tudo pra eu refazer.‭ ‬E assim eu‭ ‬ia aprendendo,‭ ‬praticando.‭ ‬Quando chegou a era do computador,‭ ‬eu e os colegas,‭ ‬como a Dalva Ventura,‭ ‬nos perguntávamos como a gente conseguia fazer jornalismo antes da chegada da informática.‭ ‬Agora,‭ ‬quando todo mundo é‭ “‬repórter‭”‬,‭ ‬com tantas ferramentas para reportar acontecimentos,‭ ‬a profissão mudou radicalmente‭”‬,‭ ‬avalia.

Para Eloir,‭ ‬o jornalismo é um aprendizado duradouro,‭ ‬não apenas pelo ofício em si,‭ ‬mas pelas infinitas possibilidades de conhecimento que ele oferece.‭ ‬É para a vida inteira.‭ “‬Aprendemos o tempo todo,‭ ‬seja apurando os fatos,‭ ‬aprofundando as questões,‭ ‬fazendo entrevistas com especialistas de diversos setores,‭ ‬observando o que se passa ao nosso redor.‭ ‬Ouso dizer que a gente recebe tanta informação,‭ ‬que às vezes parece que sabemos tudo.‭ ‬Não é‭ ‬bem assim,‭ ‬mas que parece,‭ ‬parece.‭ ‬Essa profissão nos faz prestar mais atenção a tudo.‭ ‬É estimulante,‭ ‬não paramos nunca de aprender‭”‬,‭ ‬conta.‭

E volta a falar do começo da carreira.‭ “‬Logo que entrei no jornal,‭ ‬o Reginaldo me perguntou se eu fazia ata,‭ ‬porque ele soube que eu vinha de um movimento de associação de moradores.‭ ‬Eu divulgava as reuniões para a imprensa.‭ ‬Também fui um dos fundadores e tesoureiro do Comamor‭ (‬Conselho Municipal das Associações de Moradores de Nova Friburgo‭)‬,‭ ‬uma entidade muito forte e atuante em Olaria.‭ ‬Naquela época tinha um programa na Rádio Friburgo AM,‭ ‬dirigido pelo Humberto Fontão,‭ ‬chamado Revista da Semana,‭ ‬transmitido aos domingos,‭ ‬entre‭ ‬11h30‭ ‬e‭ ‬12h.‭ ‬Nele eu divulgava as atividades da associação e do Comamor,‭ ‬uma vez por mês.‭  ‬Um dia o apresentador faltou e o Humberto me pediu para substituí-lo.‭ ‬Como deu certo,‭ ‬acabei ficando nos dias em que falava dos nossos trabalhos.‭ ‬Quer dizer,‭ ‬posso até considerar que,‭ ‬como divulgador de notícias,‭ ‬eu comecei mesmo foi na Rádio Friburgo AM‭”‬,‭ ‬relembra.

Também recorda que aos seis meses de jornal,‭ ‬ele deu a sua primeira notícia‭ ‬‘bombástica‭’‬:‭ ‬foi quando o Ienf‭  (‬Instituto de Educação de Nova Friburgo‭) ‬criou uma metodologia que dava muita liberdade aos alunos.‭ ‬O fato provocou reações negativas da comunidade.‭ “‬Muita gente achou que o colégio ia virar uma bagunça,‭ ‬que os alunos iam fazer o que queriam,‭ ‬ultrapassar limites de civilidade,‭ ‬desrespeitar os professores.‭ ‬Eu fazia a cobertura da Câmara Municipal,‭ ‬que ficava ali na praça,‭ ‬e ouvi o vereador Jaime Pontes Pacheco declarar:‭ '‬Aquilo parece um bordel‭!‬’,‭ ‬referindo-se ao colégio.‭

Na matéria de cobertura cotidiana que eu fazia,‭ ‬mantive a fala do vereador.‭ ‬Quando o Laercio veio confirmar comigo se o vereador tinha mesmo dito aquilo,‭ ‬eu confirmei.‭ ‬Daí ele concordou com a publicação da matéria sob o título‭ “‬Ienf parece um bordel‭!”‬.‭ ‬Foi uma confusão danada,‭ ‬os alunos foram protestar na porta da Câmara,‭ ‬vieram em passeata até a porta do jornal,‭ ‬formada principalmente pelas alunas do curso de formação‭ ‬de professor.‭ ‬O Laercio despachou o pessoal,‭ ‬sugerindo que fossem pra Câmara,‭ ‬que procurassem o vereador.‭ ‬Nós fizemos o nosso papel,‭ ‬que é dar a notícia.‭ ‬Quem devia dar explicações,‭ ‬esclarecer os fatos era o vereador,‭ ‬não é mesmo‭?"‬,‭ ‬argumenta o repórter.

Ao colega, nosso carinho

Assim se passaram‭ ‬30‭ ‬anos,‭ ‬numa carreira que foi evoluindo e marcando o tempo,‭ ‬deixando exemplos de vida pessoal e profissional entre os incontáveis amigos,‭ ‬colegas e leitores que conquistou ao longo de sua história.‭ ‬Seguem as impressões que seus colegas têm sobre o jeito de ser do repórter e amigo,‭ ‬como uma forma de demonstrar apreço e carinho ao jornalista que se despede hoje de A VOZ DA SERRA:‭

Adriana Ventura:‭ “‬A pontualidade do Eloir é britânica.‭ ‬A gente pode acertar o relógio pela hora em que ele chega ao jornal.‭ ‬É único‭!”‬

Karine Knust:‭ “‬Pra mim ele é o Eloir Maps.‭ ‬Quando a gente não sabe onde fica uma rua,‭ ‬o nome de um bairro,‭ ‬de uma pessoa,‭ ‬número de telefone,‭ ‬parece que ele tem tudo gravado no cérebro.‭ ‬Na dúvida ou desconhecimento,‭ ‬perguntamos ao Eloir.‭”

Henrique Amorim:‭ ‬"‘Boa tarde para todos‭!‬’ Essa exclamação dita por ele assim que chega ao jornal é sua marca registrada.‭ ‬E sempre com bom humor,‭ ‬em ótimo astral.‭ ‬Esse é o Eloir que fica pra mim‭”‬.‭

Henrique Pinheiro:‭ “‬Sinônimo de dedicação,‭ ‬uma das mais fortes características do Eloir.‭ ‬Um grande cara‭!”

Deise Maria:‭ “‘‬Acho que estou entrando numa furada‭’‬,‭ ‬disse o Eloir,‭ ‬com aquele humor típico dele,‭ ‬no dia em que fomos doar sangue no Raul Sertã.‭ ‬Deixo aqui um beijo carinhoso da amiga de trabalho e de sangue.‭”

Andréa Cristina:‭ “‬Eloir é um grande companheiro de trabalho,‭ “‬pau pra toda obra‭”‬,‭ ‬um amigo que‭ ‬mora‭ ‬em meu coração‭;‬ é‭ ‬um homem de bem,‭ ‬solidário nos momentos bons e,‭ ‬claro,‭ ‬nos ruins também‭ ‬– aí sempre tem uma palavra de conforto,‭ ‬de esperança,‭ ‬um ombro para oferecer,‭ ‬mas sem nunca perder o bom humor,‭ ‬que nos contagia e melhora o nosso dia‭! ‬Beijo grande‭!‬.‭”‬    

Cristiana Paixão:‭ “‬Eloir me lembra uma pessoa superprofissional‭! ‬É a imagem que tenho dele,‭ ‬a mais forte.‭”

Mária Ventura:‭ “‬O Eloir é um sujeito metódico.‭ ‬É organizado,‭ ‬disciplinado,‭ ‬parece um soldado.‭ ‬É interessante observar esse jeito dele.‭”

Juracy Carvalho:‭ “‬Ah,‭ ‬ele é super carinhoso,‭ ‬tá sempre dando abraço na gente,‭ ‬é uma pessoa muito querida‭!”

Márcio Madeira:‭ “‬Eloir é um exemplo sob vários aspectos.‭ ‬Caráter,‭ ‬comprometimento,‭ ‬boa vontade,‭ ‬conhecimento do ofício e por aí vai.‭ ‬Tenho certeza que daqui a alguns anos vou contar,‭ ‬envaidecido,‭ ‬que tive a honra de trabalhar com ele.‭”‬

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