Trinta anos se passaram desde que o jornalista Eloir Perdigão bateu na porta do jornal A VOZ DA SERRA, atrás de trabalho. O diretor Laercio Ventura atendeu seu pedido, e desde então ele consolidou sua carreira, fez muitos amigos e construiu uma história da qual se orgulha. Na época, meados dos anos 1980, sem experiência, mas já um ‘bom divulgador de notícias’, como ele mesmo se define, teve o privilégio de contar com o melhor professor de jornalismo que poderia ter: Reginaldo Miranda, então chefe de redação do jornal, a quem rende homenagens sempre que tem a oportunidade.
Nascido em Cordeiro, ainda pré-adolescente veio com a família para Nova Friburgo. Desde a infância demonstrava gosto pelas letras. Era tão bom em redação, que aos 12 anos um de seus trabalhos foi comentado até em outras escolas, como exemplo de um bom texto. “Eu estudava no Colégio Modelo e lá a gente era incentivado a escrever. Eu tinha uma facilidade natural para desenvolver qualquer tema e ficava orgulhoso quando meus colegas pediam pra ler o que eu tinha escrito”, lembra Eloir.
Foi o professor José Augusto Siqueira, no primeiro ano do antigo ginasial, em Cordeiro, que despertou o seu interesse pela notícia. “Antes de começar a aula, ele sempre pedia, a uns cinco alunos, para comentar alguma notícia que tivéssemos lido numa revista, jornal, ou ouvido no rádio. Isso acabou se tornando um hábito pra mim, e desde então passei a ter curiosidade sobre o que estava acontecendo aqui ou em qualquer outro lugar. Eu repassava o que ouvia no rádio, que era o principal veículo de informação que todos tínhamos”, conta.
Quer dizer, a comunicação na vida dele começou pelo rádio, como um entre milhões de ouvintes. Antes de enveredar pelo jornalismo, Eloir estudou contabilidade, trabalhou em escritórios, fez curso de ajustador mecânico no Senai, tudo isso em busca de uma profissão. Precisava se preparar para o mercado de trabalho. “Eu precisava me formar para arrumar emprego. Quando saí do Senai fui trabalhar na indústria Indaço (onde hoje funciona o Sesc), depois no supermercado ABC (atual Extra), no banco Real (atual Santander), na revendedora Chevrolet, enfim, estava sempre buscando um rumo profissional. Aí o jornal (A Voz da Serra) publicou um anúncio de emprego para repórter. Não pensei duas vezes: me candidatei à vaga, e Laercio (Ventura, o diretor) me abriu as portas”, recorda-se.
Um aprendizado para a vida inteira
Isso foi em fevereiro de 1986. Assim começou o “curso” de jornalismo de Eloir Perdigão com o mestre Reginaldo Miranda, no tempo da máquina de escrever. “Eu considero o Reginaldo o meu professor de jornalismo. Com ele aprendi tudo. Escrevia o texto na máquina, passava pro Reginaldo revisar, ele alterava, corrigia, rabiscava e devolvia tudo pra eu refazer. E assim eu ia aprendendo, praticando. Quando chegou a era do computador, eu e os colegas, como a Dalva Ventura, nos perguntávamos como a gente conseguia fazer jornalismo antes da chegada da informática. Agora, quando todo mundo é “repórter”, com tantas ferramentas para reportar acontecimentos, a profissão mudou radicalmente”, avalia.
Para Eloir, o jornalismo é um aprendizado duradouro, não apenas pelo ofício em si, mas pelas infinitas possibilidades de conhecimento que ele oferece. É para a vida inteira. “Aprendemos o tempo todo, seja apurando os fatos, aprofundando as questões, fazendo entrevistas com especialistas de diversos setores, observando o que se passa ao nosso redor. Ouso dizer que a gente recebe tanta informação, que às vezes parece que sabemos tudo. Não é bem assim, mas que parece, parece. Essa profissão nos faz prestar mais atenção a tudo. É estimulante, não paramos nunca de aprender”, conta.
E volta a falar do começo da carreira. “Logo que entrei no jornal, o Reginaldo me perguntou se eu fazia ata, porque ele soube que eu vinha de um movimento de associação de moradores. Eu divulgava as reuniões para a imprensa. Também fui um dos fundadores e tesoureiro do Comamor (Conselho Municipal das Associações de Moradores de Nova Friburgo), uma entidade muito forte e atuante em Olaria. Naquela época tinha um programa na Rádio Friburgo AM, dirigido pelo Humberto Fontão, chamado Revista da Semana, transmitido aos domingos, entre 11h30 e 12h. Nele eu divulgava as atividades da associação e do Comamor, uma vez por mês. Um dia o apresentador faltou e o Humberto me pediu para substituí-lo. Como deu certo, acabei ficando nos dias em que falava dos nossos trabalhos. Quer dizer, posso até considerar que, como divulgador de notícias, eu comecei mesmo foi na Rádio Friburgo AM”, relembra.
Também recorda que aos seis meses de jornal, ele deu a sua primeira notícia ‘bombástica’: foi quando o Ienf (Instituto de Educação de Nova Friburgo) criou uma metodologia que dava muita liberdade aos alunos. O fato provocou reações negativas da comunidade. “Muita gente achou que o colégio ia virar uma bagunça, que os alunos iam fazer o que queriam, ultrapassar limites de civilidade, desrespeitar os professores. Eu fazia a cobertura da Câmara Municipal, que ficava ali na praça, e ouvi o vereador Jaime Pontes Pacheco declarar: 'Aquilo parece um bordel!’, referindo-se ao colégio.
Na matéria de cobertura cotidiana que eu fazia, mantive a fala do vereador. Quando o Laercio veio confirmar comigo se o vereador tinha mesmo dito aquilo, eu confirmei. Daí ele concordou com a publicação da matéria sob o título “Ienf parece um bordel!”. Foi uma confusão danada, os alunos foram protestar na porta da Câmara, vieram em passeata até a porta do jornal, formada principalmente pelas alunas do curso de formação de professor. O Laercio despachou o pessoal, sugerindo que fossem pra Câmara, que procurassem o vereador. Nós fizemos o nosso papel, que é dar a notícia. Quem devia dar explicações, esclarecer os fatos era o vereador, não é mesmo?", argumenta o repórter.
Ao colega, nosso carinho
Assim se passaram 30 anos, numa carreira que foi evoluindo e marcando o tempo, deixando exemplos de vida pessoal e profissional entre os incontáveis amigos, colegas e leitores que conquistou ao longo de sua história. Seguem as impressões que seus colegas têm sobre o jeito de ser do repórter e amigo, como uma forma de demonstrar apreço e carinho ao jornalista que se despede hoje de A VOZ DA SERRA:
Adriana Ventura: “A pontualidade do Eloir é britânica. A gente pode acertar o relógio pela hora em que ele chega ao jornal. É único!”
Karine Knust: “Pra mim ele é o Eloir Maps. Quando a gente não sabe onde fica uma rua, o nome de um bairro, de uma pessoa, número de telefone, parece que ele tem tudo gravado no cérebro. Na dúvida ou desconhecimento, perguntamos ao Eloir.”
Henrique Amorim: "‘Boa tarde para todos!’ Essa exclamação dita por ele assim que chega ao jornal é sua marca registrada. E sempre com bom humor, em ótimo astral. Esse é o Eloir que fica pra mim”.
Henrique Pinheiro: “Sinônimo de dedicação, uma das mais fortes características do Eloir. Um grande cara!”
Deise Maria: “‘Acho que estou entrando numa furada’, disse o Eloir, com aquele humor típico dele, no dia em que fomos doar sangue no Raul Sertã. Deixo aqui um beijo carinhoso da amiga de trabalho e de sangue.”
Andréa Cristina: “Eloir é um grande companheiro de trabalho, “pau pra toda obra”, um amigo que mora em meu coração; é um homem de bem, solidário nos momentos bons e, claro, nos ruins também – aí sempre tem uma palavra de conforto, de esperança, um ombro para oferecer, mas sem nunca perder o bom humor, que nos contagia e melhora o nosso dia! Beijo grande!.”
Cristiana Paixão: “Eloir me lembra uma pessoa superprofissional! É a imagem que tenho dele, a mais forte.”
Mária Ventura: “O Eloir é um sujeito metódico. É organizado, disciplinado, parece um soldado. É interessante observar esse jeito dele.”
Juracy Carvalho: “Ah, ele é super carinhoso, tá sempre dando abraço na gente, é uma pessoa muito querida!”
Márcio Madeira: “Eloir é um exemplo sob vários aspectos. Caráter, comprometimento, boa vontade, conhecimento do ofício e por aí vai. Tenho certeza que daqui a alguns anos vou contar, envaidecido, que tive a honra de trabalhar com ele.”
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