Antonio Baptista Filho: “Estamos em regime de enorme austeridade”

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

O novo presidente do Country Clube, Antonio Baptista Filho, advogado e juiz federal do trabalho aposentado, concedeu entrevista exclusiva para A VOZ DA SERRA, abordando o que sócios e comunidade em geral podem esperar de sua gestão à frente do mais aristocrático clube de Nova Friburgo

A VOZ DA SERRA - O que o levou a voltar à presidência do Country, tantos anos depois e sabendo de todas as dificuldades que os clubes, de maneira geral, atravessam?

Antonio Baptista Filho - É verdade, essa volta ocorre vinte anos após o exercício do mesmo cargo, no biênio 1990/1991 quando, após cinco anos na vice-presidência jurídica do clube, fui então indicado a ocupá-lo. Por outro lado, a pergunta se torna mais interessante, em face da oposição da família e, sobretudo, da minha esposa. Acontece, porém, que aos 72 anos de idade, e tendo exercido diversas funções durante minha vida, já aposentado compulsoriamente da missão pública que exercia, vejo com muita alegria minha família, integrada por três filhos casados e seis netos, na idade, estes, dos 9 anos aos 2, sendo dois meninos e quatro meninas. Ao mesmo tempo, vejo também meus amigos, com idênticas famílias e todos nós necessitando propiciar aos familiares, sobretudo aos jovens e crianças, ambientes esportivos, culturais e sociais agradáveis, saudáveis e adequados. Essa necessidade e a circunstância de ser o clube uma das mais belas propriedades da cidade, certamente um dos mais belos clubes de que tenho conhecimento, fizeram com que minha família concordasse que assumisse eu esse compromisso e enfrentasse esse desafio. É justo ressaltar que o apoio dos meus familiares e de muitos sócios e amigos, todos com os mesmos sentimentos, incutiram a mim uma grande confiança e a certeza de que chegaremos a vencê-lo.

A VOZ DA SERRA - Nesses poucos dias de mandato já se pode ter uma ideia da real situação das finanças do Country. Há números alarmantes sobre dívidas com o fisco e outras. A verdade é tão preocupante assim?

Antonio Baptista - A verdade é deveras preocupante e ainda não temos total informação da extensão das dívidas. Algumas já são de nosso conhecimento: dez anos de atraso no recolhimento da contribuição patronal para o INSS, atraso que gera uma dívida de R$ 2.300.000,00 aproximadamente, dívida esta cuja consolidação, com descontos e abatimentos, foi requerida pela gestão anterior para pagamento em 180 meses, na forma de lei recente, estando o clube no aguardo de deferimento pela Receita Federal, ao mesmo tempo em que os executivos fiscais correspondentes ficarão suspensos; 13 meses do mesmo inadimplemento, de novembro de 2008, já que o Refis só engloba os atrasos até esse mês, até dezembro de 2009, a R$ 12.000,00 por mês, cujo montante com multa, juros de mora e correção, pode ultrapassar os R$ 200.000,00, conforme notificação da delegacia da Receita Federal recebida no último dia 30, cujo pagamento, como disse, não se enquadra no Refis vigente e estamos tentando parcelar em 60 meses; dívida de conta garantida em banco no montante de R$ 50.000,00, valor totalmente utilizado no último dia do ano; e outros diversos inadimplementos menores. Cumpre gizar como um dos maiores problemas a grande queda do número de sócios, o que, como é óbvio, diminui sobremaneira a receita para cobertura das despesas fixas e ordinárias. Cumpre observar que tomamos posse efetiva - já que nesta sexta foi a posse solene - no dia primeiro do ano e só tivemos acesso aos documentos a partir do dia 4 do corrente, razão pela qual somente após todos os levantamentos, inclusive com a assessoria de empresa contábil, poderemos submeter ao Conselho Deliberativo e ao corpo social toda a exata situação financeira, patrimonial e física do clube. Nesta operação estamos envidando todos os nossos esforços.

A VOZ DA SERRA - Há algum objetivo maior para esta nova gestão?

Antonio Baptista - O grande objetivo é o retorno do maior número de sócios egressos nos últimos anos. Forçoso esclarecer que há vinte anos o clube contava com cerca de 1.700 sócios, reduzidos hoje a pouco mais de 700. Por outro lado, dentro desse espírito de atração de novos companheiros, é política social hoje a permissão para frequência de visitantes e convidados, ao mesmo tempo em que nos colocamos inteiramente favoráveis ao aluguel das instalações do clube, bem como a parcerias com empresas, como um bom reforço de nossas receitas.

A VOZ DA SERRA - E o estado de conservação dos espaços do clube, como se encontra?

Antônio Baptista - Esse ponto se mostra nevrálgico e foco de extrema preocupação, já que muitos equipamentos do clube estão em estado deplorável, inclusive o teto da sede nova, assim chamada, com inúmeras goteiras e vazamentos, e o piso do ginásio esportivo, totalmente podre e imprestável ao uso de qualquer natureza.

A VOZ DA SERRA - Segundo soubemos, a situação do casarão é de risco de desabamento do imóvel, que parece ser tombado pelo Patrimônio Histórico. Já deu tempo de verificar e analisar o estado do casarão? Há alguma obra em curso? O que a diretoria tem a dizer a esse respeito?

Antonio Baptista - Sobre o tombamento é mister se informar estender-se ele a todo o clube, já que o decreto respectivo se refere ao lote V e à área VI, do original loteamento Parque São Clemente, áreas que totalizam os 200 mil metros quadrados de nossa propriedade. Portanto, o chamado casarão, antiga residência do Barão de Nova Friburgo, construído nos idos de 1860, palco de tantos eventos depois que se tornou patrimônio desta associação, é também tombado. Seu estado é lastimável, porém, chegando às raias de um temeroso desabamento. Não é sem razão que os forros internos, todos com afrescos semelhantes aos dos forros do Palais de Versailles, da capital da França, muito frequentada pelo barão, ministro de Pedro II, estão amparados por estacas, ao mesmo tempo em que se mostram danificados pelas imensas infiltrações, já que o telhado apresenta o madeiramento em adiantado estado de apodrecimento, com queda inclusive de vários pedaços. O imóvel está praticamente interditado pelo Patrimônio Histórico, órgão federal, que já contratou uma empresa para reforma da cobertura, trabalho já iniciado, mas ainda não concluído, terminados apenas uns 15 por cento do serviço. Após o término desse telhado restará recuperar as pinturas internas, o que se apresenta como uma tarefa acima de nossas forças. Interessante notar havermos, há vinte anos atrás, concluído uma reforma das vigas de sustentação desse mesmo telhado, com colocação de próteses nas respectivas cabeças, efetivando uma pintura geral interna e colocando todo o imóvel à disposição para o uso desejado. Como se vê, foge a nossa direção esse trabalho, mesmo porque, não dispomos de recurso financeiro para o mister. Continuamos em tratativas com o Iphan.

A VOZ DA SERRA - O que o sócio do Country pode esperar para estes dois anos de sua nova gestão?

Antonio Baptista - Não me agradam promessas sobre o que vamos fazer. Nossa obrigação, já que aceitamos a incumbência, é de reservar ao nosso trabalho toda a dedicação de que formos capazes, dentro de nossas limitações pessoais, sendo certo que agora falo por mim e pelos meus excelentes colegas de diretoria. Sou testemunha do esforço de todos, e aqui me refiro também aos empregados do clube, nestes primeiros dias. Não há tempo agora para pensarmos em novos investimentos, já que os recursos não bastam nem para as despesas ordinárias, agravadas pelas dívidas. Para nós, entretanto, se mostra prioridade o desenvolvimento de atividades que atendam aos interesses do corpo social, com projeção especial apontada para crianças, adolescentes e jovens de ambos os sexos, pelo que já temos programados os retornos da ginástica artística e do balé, bem como das escolinhas de basquete, de vôlei e de outros esportes, o que exige a recuperação urgente dos pisos das quadras, o que só podemos fazer no momento com mão de obra da casa. A parte social exige atenção também prioritária, por ser uma das finalidades estatutárias, o que começa a ser atendido com a Festa Tropical, já marcada para realização no Parque Aquático, no próximo dia 30 do corrente, com os ingressos já à venda na secretaria do clube, inclusive. Grande e inafastável preocupação da diretoria é não admitir, de modo algum, eventos deficitários, para o que contamos com a presença dos sócios, convidados e da população em geral. Gostaria, sob este enfoque, de deixar bem claro que o clube não pode ser salvo por uma pessoa, nem por um grupo de diretores. O clube é dos sócios e por estes o patrimônio comum deve ser conservado com a ajuda de todos, com a taxa de todos, já que as despesas fixas são enormes (não esqueçamos que se trata de um jardim de 200 mil metros quadrados). Ressalte-se que a diretoria também paga a taxa de conservação e quando, ou se, utiliza o clube com interesse pessoal, assume o pagamento por refeições e pelo aluguel de instalações. Já que perseguimos o equilíbrio orçamentário, estamos em regime de enorme austeridade, o que se refletiu na solenidade de posse, nesta sexta, com a ausência de coquetel.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade