Andreotti faz balanço positivo de 2014, mas reconhece: ‘Precisamos bater na trave e entrar’

domingo, 14 de dezembro de 2014
por Jornal A Voz da Serra
Andreotti faz balanço positivo de 2014, mas reconhece: ‘Precisamos bater na trave e entrar’
Andreotti faz balanço positivo de 2014, mas reconhece: ‘Precisamos bater na trave e entrar’

Vinicius Gastin

Desde 2011, quando chegou ao Friburguense, o técnico Gerson Andreotti possui uma relação com o clube que vai além da profissional. O comandante se envolveu emocionalmente com o projeto de levar o Tricolor da Serra a um patamar mais alto no cenário do futebol nacional, e neste sonho persiste. Garantido no comando da equipe para o Carioca de 2015, Andreotti ainda carrega a frustração por não ter garantido ainda a vaga na série D do Brasileiro, o que é parte fundamental para ascensão do clube. Não só pelo lado técnico, mas também financeiro e estrutural.

E é exatamente nesta linha tênue que o treinador prepara o Friburguense para mais um estadual. A avaliação positiva do ano de 2014 é baseada no sexto lugar conquistado no Carioca e na campanha que levou o clube à semifinal da Copa Rio, mas esbarra na sensação de que poderia ter sido ainda melhor.

Em entrevista ao A VOZ DA SERRA, Gerson Andreotti faz um balanço do ano, volta a cobrar apoio da cidade ao clube e defende o campeonato carioca. O comandante do Frizão, inclusive, comemora a volta de Eurico Miranda à presidência do Vasco e ressalta a importância do dirigente para os clubes pequenos: "Ele pensa diferente, e reconhece a importância profissional e social dos times menores.”

 

A VOZ DA SERRA: O Friburguense encerra o ano com um sexto lugar no estadual, uma semifinal de Copa Rio, mas sem vaga na série. O balanço da temporada é positivo ou fica a sensação de que poderia ter sido melhor?

Gerson Andreotti: O futebol está atingindo uma circunstância onde, comercialmente, só é interessante quando se conquista benefícios financeiros. É o mundo capitalista. Isso se torna importante, e nos deixou frustrados, sobretudo na Copa Rio. Nós tínhamos condições de ganhar o título e garantir a vaga na série D. Por outro lado, não podemos misturar as coisas. Futebol é um esporte. Temos que tomar cuidado para não denegrir um bom trabalho. Temos que saber lidar com isso, porque nós trazemos muitas coisas boas para o Carioca. Ficar bem colocado entre 18 times é resultado de um bom trabalho. Fomos o sexto colocado no estadual e poderíamos tranquilamente estar entre os quatro pelo o que produzimos.


Ainda assim, dá pra dizer que está satisfeito com o Friburguense em 2014 ou fica a sensação de que é preciso algo mais?

Logo na reapresentação, reunimos os jogadores e conversamos sobre essas questões. Não podemos estar satisfeitos, pois o lado comercial é importante. Crescer como clube é fundamental, ainda mais em uma cidade como Nova Friburgo. Aqui não existe nenhum tipo de ajuda. Então, para nós, o título seria importante. Teríamos uma série D e uma perspectiva de melhora financeira. No entanto, se pensarmos, tínhamos uma equipe reestruturada do meio para frente, com jogadores que subiram da base. Existem coisas positivas nesse trabalho, e elas nos dão esperança para conquistar esse algo mais.


E esse passo a mais pode vir já no Carioca de 2015?

"Vamos trabalhar forte e temos estrutura boa. Criamos uma identidade nova dentro da Copa Rio. Foi a nossa maior conquista. Tomara que a gente consiga algo comercial já dentro do Carioca. Mas temos que ter os pés no chão, trabalhar dentro da nossa realidade. É desse jeito que a gente consegue os objetivos.


O Friburguense mudou muito entre o estadual e a Copa Rio. Você disse que buscava uma nova identidade para a equipe no segundo semestre. Conseguiu encontrá-la?

Ganhamos uma base boa e o Siqueira me ajuda muito nisso. O Sergio, o Cadão, o Bidu e o Ziquinha, além de outros com mais tempo de casa, também. Criamos algo novo, e isso não é fácil. Precisamos sempre da ajuda deles, até porque é algo cada vez mais raro. Poucos jogadores ficam tanto tempo no clube e criam essa identidade. Precisamos valorizar e utilizar. Isso nos traz essa estrutura, que não é 100%. Não existe perfeição no futebol, estamos sempre atrás dela. Temos hoje uma equipe boa para o Carioca.


A possibilidade de uma mudança no regulamento do estadual, de alguma forma, pressiona o Friburguense? Como lidar com essa situação em meio às dificuldades?

O Siqueira é muito fiel, correto, não deixa a peteca cair e tem dado o suporte profissional que nós precisamos para fazer um bom trabalho. Nós temos um grupo fechado e precisamos nos garantir. Essas mudanças podem atingir o clube. O retorno do Eurico Miranda ao Vasco foi um ganho para o futebol carioca, pois ele tem um pensamento diferente em minha opinião. Todos os clubes precisavam da volta do Eurico. Ele representa o Rio de Janeiro muito bem, e tem uma identidade com o futebol carioca que nós perdemos. Principalmente em relação aos clubes pequenos. É de onde saem os jogadores, é do interior. Não estão pensando nisso. As capitais não têm mais campo para fazer jogadores ou mesmo trabalho sociais. É muito pouco clube grande para fazer peneiras ou trabalhar socialmente. Infelizmente, Nova Friburgo não percebe isso. Poderiam dar um suporte para trabalhar com os garotos, com o foco no esporte.


Como profissional, e não só como treinador de um time de menor investimento, você é a favor do fortalecimento dos estaduais?

O estadual é necessário. O que os grandes da capital fazem agora, sem nenhum deles na Libertadores¿ Eles vão querer jogar, viajar para o exterior para fazer amistosos. É possível fazer um planejamento muito bom, e o futebol carioca é o charme. É uma base para o Brasileiro. Cada estado tem a sua particularidade, e temos que repensar. A questão do dinheiro se faz com organização. Nós temos uma Rede Globo que paga bem, coloca os clubes na mídia e devemos sim, valorizar o campeonato carioca. Diminuir a quantidade de pequenos é colocar em risco também o lado social, o trabalho com os garotos.


Esse pensamento parece ser muito claro e compreensível. Por que, em sua opinião, ainda existe essa espécie de "rejeição” aos estaduais?

O futebol dá trabalho. Sou treinador e sei disso. Às vezes não querem colocar os principais jogadores em campo, mas tem que escalar sim. Sempre na hora certa, é claro. O jogador quer jogar e não quer treinar. O técnico é ao contrário, prefere treinar que jogar para não correr riscos de perder o emprego. E dá trabalho você controlar o elenco. Mas não podemos denegrir o estadual, pois faz parte da cultura do futebol brasileiro. Cada país é de um jeito, e temos que ser fiéis às nossas particularidades. O Brasil perdeu um pouco da sua essência ao tentar copiar a Europa, e precisamos recuperá-la.


Você chega à quarta temporada como técnico do Friburguense. Nesse período, qual a conquista que considera mais importante?

"Nós subimos para a primeira divisão, e participei desse processo. Eu estou muito satisfeito com as campanhas, mas o mundo mudou. O lado comercial é mais importante. Por esse aspecto eu fico no débito, Queremos uma série C ou B de Brasileiro, e batemos sempre na trave. Por outro lado, na questão técnica, fico satisfeito. Estamos sempre chegando perto, na parte de cima da tabela. O comportamento do grupo, o comprometimento, a parte técnica e tática estão dentro do que eu quero. Uma hora a gente vai bater na trave e entrar.”

 

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