Anchieta presenteia pais e professores com palestra da educadora Tania Zagury

quinta-feira, 24 de setembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra
Anchieta presenteia pais e professores com palestra da educadora Tania Zagury
Anchieta presenteia pais e professores com palestra da educadora Tania Zagury

Com 40 anos de magistério, 15 dos quais atuando como conferencista, a professora de psicologia da Educação, Tania Zagury, esteve em Friburgo na semana passada dando uma palestra para pais e professores no Colégio Anchieta. O objetivo foi reciclar o corpo docente e trazer para os pais novas ideias de como proceder com os filhos em importantes questões que envolvem o dia a dia das famílias no que diz respeito à disciplina, limites, uso de internet, sexualidade, entre outros temas.

Autora de 17 livros sobre educação, Tania Zagury deu uma verdadeira aula. Primeiro para os professores, quando falou sobre os desafios da educação no país e das políticas educacionais muitas vezes equivocadas que acabam aumentando ainda mais as dificuldades enfrentadas pelos professores em sala de aula.

Na palestra, ela ressaltou que, além de todas as suas responsabilidades, os professores ainda estão sendo impelidos pelos próprios pais a dar limites a seus filhos. “Os professores estão pressionados pela família, pela sociedade. Os alunos, por sua vez, estão desmotivados e indisciplinados, por não estarem recebendo os limites que deveriam e por viver numa sociedade que não valoriza o saber”, declarou.

A palestra dirigida aos pais reuniu mais de 400 pessoas, o que não chegou a ser uma surpresa. Autora de diversos best-sellers, Tania Zagury foi pioneira ao alertar pais e professores sobre a necessidade de se priorizar a ética na educação, defendendo este princípio básico como forma de prevenir a marginalização de jovens.

Na palestra, ela abordou principalmente a questão dos limites, tema recorrente em sua obra. Tania ousou contestar a teoria da liberdade total na educação já em seu primeiro livro, Sem padecer no paraíso: em defesa dos pais sobre a tirania dos filhos, em que alertava para as consequências sociais da liberdade excessiva e da falta de autoridade de pais e professores. Neste livro, ela já preconizava o incremento assustador do envolvimento de adolescentes de classes média e alta, de boas escolas e família estruturada, em atos de violência, falta de civilidade e agressões.

Outro livro de Tania que deu o que falar foi Limites sem trauma, já em sua 86ª edição. Na época, o livro causou uma grande polêmica e gerou uma verdadeira reviravolta nos debates sobre educação no país. “O principal papel dos pais e também dos professores é formar pessoas éticas e capazes de transformar a sociedade. Isso é fundamental para evitar a marginalização dos jovens”, declarou a educadora.

“Vivemos hoje uma situação-limite: violência crescente, glamorização e abuso do uso de drogas, aumento de casos de suicídio e depressão entre jovens, desemprego, estímulo ao consumo desenfreado e ao imediatismo, crise ética. As vítimas preferenciais desse processo destrutivo são os adolescentes”, afirmou durante a palestra. Para enfrentar estes problemas e, melhor ainda, para evitá-los, a única saída é formar em nossos filhos valores tão firmemente internalizados que se tornem parte deles mesmos.

Para tanto, ressaltou, os pais precisam exigir que seus direitos sejam respeitados, libertando-se dos sentimentos de culpa e da insegurança que tanto os afligem.

Porque fracassa o ensino no Brasil

O novo livro de Tania Zagury é uma verdadeira radiografia do ensino e da profissão no país. Para fazer o livro, ela ouviu mais de mil professores. O resultado é alarmante. “O professor se tornou refém das condições em que trabalha. As mudanças ocorridas na sociedade, na família e as sucessivas mudanças no sistema educacional no país e que não são acompanhadas das condições necessárias à sua execução, mudaram a realidade mas não a sala de aula”, declara na abertura do livro.

As novas relações familiares, a falta de limites das crianças, assim como o despreparo dos professores frente a esta nova situação e exigências foram minando sua autoridade. Pior, isso aconteceu justamente quando mais se esperava e se necessitava que a escola assumisse atribuições ainda mais complexas, antes tradicionalmente desenvolvidas pela família, como a questão dos limites, da autoridade e até da moral e da ética.

Tania Zagury tachou de equivocadas algumas medidas que vêm sendo tomadas em educação a nível de governo. “Não sou contra o sistema de ciclos com progressão continuada, que se tornou conhecido como aprovação automática, em que a criança vai progredindo automaticamente, sem reprovação, mas sou contra a maneira como ele foi implantado”, diz. Logo de cara, ela criticou o modo como o sistema se tornou conhecido entre os leigos. “Em tese, é uma teoria maravilhosa, pois os alunos podem progredir de acordo com as suas possibilidades. Em termos práticos, porém, para as famílias e para os alunos significou que não havia mais necessidade de estudar”, continuou, garantindo que sua implantação de nada adiantou, já que o sistema de ensino só fez piorar.

Outra medida criticada por ela é a informatização do ensino que está sendo levada a cabo em todo o país. “Com o dinheiro que está sendo gasto no Rio de Janeiro, por exemplo, poderíamos ter contratado todos os professores que estão faltando na rede”, declarou, lembrando que só no estado do Rio, 32 professores estão abandonando o magistério por dia

Segundo ela, o professor não está abandonando o magistério só por causa do salário. “Não é aumentando o salário que o governo resolveria o problema da qualidade da educação e sim, dando condições do professor se programar. O que não se pode fazer é mudar toda hora a metodologia, como tem sido feito amiúde”, declarou.

A seu ver, as prioridades estão sendo desviadas. “As medidas não têm continuidade. Muda o governo, mudam as prioridades. É preciso ver a educação de uma forma mais científica e só mudar o que está dando errado”, afirmou.

Não é à toa, concluiu, que o Brasil, infelizmente, está atrás de muitos outros países. Nos últimos estudos internacionais em qualidade de ensino, nosso país figura em 37º lugar entre os 40 piores países em qualidade de ensino. É mole ou quer mais?

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