Devemos ver a terra como um tecido orgânico vivo, igual ao tecido da pele humana"
O zootecnista e especialista em manejo de solos Selmo de Oliveira Santos esclarece algumas questões sobre fertilidade, cultivo da terra, aração, bois e tratores. Ele lembra que a parte superior do solo possui uma camada fértil (até 80 centímetros) e a parte abaixo desta possui uma camada com baixa fertilidade, embora as terras friburguenses possuam boa fertilidade. O problema é a forma como é feito o seu manejo. “É preocupante, assim como as diversas maneiras equivocadas de seu uso. Todas elas comprometem a sua qualidade, baixando a produtividade, diminuindo a renda familiar, que pode levar a sérias consequências no futuro”, comenta.
Selmo ressalta que devido à necessidade de se abastecer a cidade do Rio, segundo maior mercado consumidor do país, a forma de exploração do solo tem ocorrido de forma predatória, onde as adubações e correções em geral são falhas. A falta de conhecimento, a assistência técnica ineficiente e a não utilização de análises de solo periódicas, são agravantes nesse setor tão sensível às práticas equivocadas.
“O solo, por si só, não é determinante para este ou aquele produto, pois depende também do clima. É a combinação desses dois fatores que vai indicar o que vai dar certo naquela terra”, explica. A combinação ideal junta a terra boa e o clima perfeito. “Tem que haver uma correlação direta entre solo e clima. Por exemplo, para a produção de maçã, além da terra certa, é necessário que os dias sejam mais longos, haja muita luminosidade e clima frio”, explica.
Importância do arado e as erosões
Na base do solo há uma camada infértil que, arada por uma pessoa despreparada pode até inviabilizar o terreno destinado para plantio. A camada de cima pode descer e a de baixo subir provocando uma mistura que vai destruir o ordenamento natural de cada camada. Uma vai se misturar com a outra e interferir completamente no desenvolvimento da plantação. Isso é comum acontecer quando se usa o trator para aração. “Nas mãos erradas, esse veículo vai fazer um estrago tremendo”, alerta Selmo, comparando: “Devemos ver a terra como um tecido orgânico vivo, igual ao tecido da pele humana”.
“Quando um cirurgião faz um corte errado no seu paciente, ele põe em risco o sucesso da intervenção. Da mesma forma, quando um agricultor ara um terreno sem o devido conhecimento do ofício, ele pode provocar “cicatrizes” terríveis que resultarão em sua desertificação (cicatrizes), simplesmente porque ele retirou a camada fértil (a pele que protege). Às vezes, esse horizonte “A”, como chamamos, que corresponde a 40 centímetros de solo (primeira camada), desce até os rios ou estradas. Em vez de penetrar na terra, essa camada, que é preciosa, vai escorrer morro abaixo, produzindo uns buracos conhecidos popularmente como “voçorocas”, comuns em Cachoeiras de Macacu, por exemplo. Em consequência, o agricultor tem que trabalhar com o que restou, que é a parte infértil e que vai exigir muito mais adubação”, observa Selmo.
Resumindo, a forma de arar, por pessoa habilitada, faz a diferença entre uma aração adequada e a inadequada (a de morro abaixo, por exemplo) sem as práticas do uso da curva de nível que contribuem para o aumento significativo das erosões dos solos que destroem a sua fertilidade e assoreiam as várzeas, córregos e rios. De acordo com Selmo, o quadro ainda se agrava mais, devido ao alto índice pluviométrico do município.
Nova Friburgo está passando por esse problema, o da deterioração do solo, que começou com o uso indiscriminado de máquinas pesadas, como os tratores. Selmo lembra que antigamente o arado era feito com bois, que aravam na horizontal, a forma ideal, que não abria “feridas” na terra. “Agora, com o uso indevido dos tratores - compare-se o peso de um boi com a de um trator -, a aração é feita no sentido vertical, quer dizer, ele penetra na terra, provoca desmoronamentos, desestabilização das camadas do solo. O estrago pode se tornar irreversível", adverte.
Selmo de Oliveira Santos
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