A igualdade de gênero ainda não aconteceu, seja em qualquer segmento social ou profissional, e, em relação ao mercado de trabalho no cinema, não é diferente. Chega a ser pior, por mais que tenha acontecido um pequeno aumento. O percentual de mulheres que dirigiram filmes lançados no Brasil aumentou de 14,7% em 2015 para 20,3% em 2016, segundo a Agência Nacional de Cinema (Ancine). Dos 142 filmes produzidos em 2016 apenas 29 foram dirigidos por mulheres estreantes e veteranas no setor, entre longas-metragens, documentários e curtas.
O momento crucial para a discussão e ações sobre igualdade de gênero aconteceu no ano de 1917: aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, último Imperador da Rússia, devido às más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra. Um protesto conhecido como "Pão e Paz" ocorrido no dia 8 de março (23 de fevereiro no calendário Juliano, adotado pela Rússia até então), a data consagrou-se, embora tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher apenas em 1921.
As mulheres começaram a obter êxito de direitos civis e caminham rumo à igualdade, só que, até os dias de hoje, a igualdade nunca chegou, por mais que muitos direitos tenham sido conquistados. Como por exemplo no Brasil, o direito ao voto, em 1932, durante a ditadura do governo Getúlio Vargas.
A participação majoritária masculina no audiovisual é histórica, segundo dados do Boletim Gemaa 2: Raça e Gênero no Cinema Brasileiro (1970-2016), do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Verificou-se que a porcentagem de filmes dirigidos e escritos por homens é de, nessa ordem, 98% e 90%.
Segundo a Ancine, a direção de arte é o setor em que as mulheres foram maioria em 2016 (53%); apenas 17% assumiram a cadeira de diretora, e 21% foram roteirizadas por mulheres. Nas outras funções pesquisadas a participação feminina foi minoritária. As mulheres têm conseguido ocupar cargos na área de produção, direção de arte e figurino, mas sempre em filmes de baixo orçamento ou curta-metragem. A pesquisa partiu dos dados de gênero por função técnica das obras que tiveram emissão do Certificado de Produto Brasileiro (CPB), um registro obrigatório para obras audiovisuais.
Em relação às mulheres negras os números são alarmantes: nenhuma delas dirigiu ou escreveu um dos 142 longas-metragens brasileiros lançados nas salas brasileiras em 2016, de acordo com o primeiro levantamento da Agência Nacional do Cinema (Ancine) a contemplar dados sobre raça.
No último dia 4 de março aconteceu a cerimônia do Oscar, mais uma premiação que lidou com as questões de gênero, haja vista o discurso poderoso da atriz Frances McDormand. Um momento para que possamos refletir sobre as questões de gênero, dado que, em 90 anos de Oscar, só uma mulher ganhou o prêmio de melhor direção e apenas outras quatro foram indicadas, incluindo a concorrente neste ano, Greta Gerwig, por Lady Bird: A Hora de Voar (2017).
A única mulher vencedora ficou por conta de Kathryn Bigelow com o seu Guerra ao Terror (2008). Mas foi preciso esperar 48 edições do Oscar desde que a primeira mulher foi indicada ao prêmio de direção, em 1977, com Lina Wertmüller, por “Pasqualino Sete Belezas” (1975). As outras duas foram Jane Campion, por “O Piano” (1993) e Sofia Coppola, por “Encontros e Desencontros” (2003).
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