Ana C., uma poeta marginal

Conheça Ana Cristina Cesar, a poeta homenageada na Flip deste ano
sábado, 02 de julho de 2016
por Déborah Simões
Ana C., uma poeta marginal

 Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) de 2016 homenageia, pela segunda vez, uma mulher: a escritora Ana Cristina Cesar. Nascida em Niterói (1952), foi um grande expoente da Poesia Marginal ou Geração Mimeógrafo, movimento que esboçava a contracultura, buscando meios alternativos de divulgação e distribuição das obras produzidas. Neste sentido, seus textos detêm uma estética ímpar, emergindo o insólito do cotidiano e enfatizando as próprias experiências e (des)construções existenciais, através de um discurso, em primeira pessoa, que cultua o instante, o minuto, o momento.

Por meio da imersão que sua escrita proporciona (seja em fragmentos de diário, cartas ficcionais, linhas em prosa e, sobretudo, poemas), temos uma literatura que agride e afaga, uma delicadeza que contrasta com a energia pulsante em sua linguagem. Linguagem esta multifacetária e inesgotável, porque se distende em incontáveis possibilidades, numa espécie de “pacto” entre o eu-lírico e o leitor, produzindo uma literatura que é sempre presente, constante e de múltiplos sentidos.

Em um de seus mais conhecidos poemas, incluído no livro “Os cem melhores poemas brasileiros do século” (Editora Objetiva, 2001), percebemos como o discurso inquieto de si dialoga com o mundo, valendo-se do tom coloquial e fortemente imagético: “olho muito tempo o corpo de um poema / até perder de vista o que não seja corpo / e sentir separado dentre os dentes / um filete de sangue / nas gengivas” (Ana Cristina Cesar, “A Teus Pés”). Suas principais obras são “Cenas de Abril” (1979), “Correspondência completa”, “Luvas de pelica” (1980) e “A teus pés” (1982). Vale ressaltar que, em 2013, a Companhia das Letras publicou o livro “Poética”, uma reunião da produção literária da autora. 

Ana Cristina Cesar possuía uma sensibilidade rara e vivenciava inúmeras contradições. Sua figura era enigmática, o que despertava a atenção e conquistava a amizade de várias figuras culturais da época. Em meio a todo o turbilhão poético que a compunha, Ana sofria uma depressão constante e profunda, somada a uma atração pela morte e a um humor, por vezes, instável. Cometeu suicídio em 29 de outubro de 1983, aos 31 anos, atirando-se do apartamento de seus pais em Copacabana, no Rio de Janeiro. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: Literatura
Publicidade