Amma — Uma luz no fim do túnel

quarta-feira, 31 de dezembro de 1969
por Jornal A Voz da Serra
Amma — Uma luz no fim do túnel
Amma — Uma luz no fim do túnel

Dalva Ventura

Só quem passou pela experiência de ter câncer ou um familiar próximo com esta doença pode avaliar a angústia e as dúvidas que surgem ao se defrontar com o diagnóstico. Os problemas persistem durante e após o tratamento. Afinal, além do aspecto médico, a questão envolve também aspectos econômicos e burocráticos, pois até agora o município não dispõe de um serviço especializado em oncologia e para se tratar, a pessoa precisa se deslocar até Teresópolis ou Petrópolis, onde ficam as unidades do Inca que atendem a população de Nova Friburgo. 

Cada uma das 16 voluntárias que atuam na ONG Amma (Associação da Mulher Mastectomizada de Nova Friburgo) sofreu na pele estes problemas e, a partir daí, se dispôs a ajudar as que ainda estão lutando para vencer a doença. Não são poucas. Para se ter uma ideia, cerca de 900 mulheres já foram ajudadas pela entidade em seus 13 anos de existência. 

São muitos os exemplos que as "meninas” da Amma têm para dar. As mulheres chegam lá desesperadas, como é de se esperar. Pela doença em si e, muitas vezes, porque não têm dinheiro para pagar o tratamento. O que fazer quando é preciso passar um mês em Petrópolis fazendo radioterapia e não se tem dinheiro para bancar a passagem e a estadia? A despesa não sai por menos de R$ 1.500. Quem procura a Amma vê uma luz no fim do túnel, pois a entidade financia a despesa até que o SUS faça o repasse, o que pode acontecer meses após o tratamento. 

Outro trabalho da maior importância realizado pelas voluntárias da ONG é a venda de medicamentos fundamentais para o tratamento, a preço de custo, o que pode representar, por vezes, uma economia de até 200% ou mesmo 300%. Não é só. A Amma doa sutiãs e próteses para mulheres mastectomizadas, empresta perucas, faz visitas domiciliares, oferece tratamento fisioterápico e psicológico. O mais importante, porém, é o acolhimento às mulheres que procuram a casa rosa da Rua Mato Grosso 20 (Bela Vista), todas passando por uma situação extremamente sofrida e crítica. 


 (Foto) Maria Helena Moraes dos Santos preside a Amma

há sete anos e destaca a união da equipe

como a força motriz deste trabalho


Acalanto e cuidado 

"As mulheres chegam aqui constrangidas, desnorteadas, com muito medo da doença e do tratamento. E a gente, na nossa pequenez e humildade, recebe todas elas com o maior carinho”, diz Maria Inês Coelho Gomes, que já superou a fase crítica do tratamento e hoje em dia toma apenas um medicamento. "Tentamos acalentá-las ao máximo. Nós, que já passamos por isso, sabemos que nesta hora precisamos muito de colo”. Segundo Maria Inês, a maioria entra lá só para desabafar. E as que desejam ou estão muito mal, são encaminhadas para um psicólogo, que também faz parte da equipe de voluntários da Amma. 

Maria Helena Moraes dos Santos preside a associação há oito anos e, como a maioria, vai todos os dias na entidade. Ela também passou por todo o calvário do câncer e ficou livre da doença há 19 anos. Maria Helena se aproximou da Amma quando viu sua então presidente convocar mulheres que tivessem tido um câncer para conhecer o trabalho ali realizado. "Foi um chamado”, diz. Ela destaca que o voluntariado gratifica muito quem se entrega a ele. "Eu adoro vir para cá, este trabalho me preenche. O que mais nos recompensa é ouvir que nossa visita valeu a pena, que a gente conseguiu levantar a autoestima delas”, continua. 

Zilma da Rocha Bastos foi uma das fundadoras da Amma. Ela teve câncer há 21 anos e, em consequência da doença, fez uma mastectomia radical seguida de quimioterapia e reconstrução da mama perdida. Hoje está aposentada e se dedica com afinco à ONG, assim como as demais colegas. "Todo mundo aqui tem o mesmo objetivo. Ajudar quem está passando pelo que a gente já passou”, diz. Zilma ressalta que nenhuma integrante da Amma está lá para se distrair ou passar o tempo, e sim para ajudar as mulheres que estão com câncer. "Todas nós temos este mesmo pensamento, tanto que nunca tivemos brigas ou divisões”, ressalta. 

Telma Borges é uma das únicas que não teve câncer e trabalha ativamente pela Amma. Aproximou-se da instituição há cinco anos, desde que foi convidada a conhecer o trabalho ali realizado. Telma faz de tudo por lá. "Eu me meto até na costura, embora não entenda nada disso”, brinca. É ela também quem organiza a Caminhada Outubro Rosa, com o objetivo de chamar a atenção das mulheres para a importância de se prevenir contra o câncer de mama. 

E as histórias que marcaram a Amma? São inúmeras. Desde lutas fracassadas e sofridas para vencer a doença, que abalaram pacientes e voluntárias, até as de mulheres que chegaram desesperadas e hoje estão bem. "Teve uma moça que veio mal demais, acompanhada pela mãe, fez todo o tratamento e venceu. Neste meio-tempo, o marido a deixou, ela voltou a estudar, terminou o ensino fundamental, cursou o normal e hoje faz parte do nosso grupo”, conta Maria Helena.

"A gente acompanha tanta história incrível aqui... Às vezes nosso cotidiano é muito duro”, comenta. Por exemplo, as integrantes da Amma foram visitar algumas vezes uma jovem. Quando ela fazia quimioterapia e seu cabelo caiu, o marido raspou a cabeça e seus três filhos também. Infelizmente, ela acabou não resistindo. Histórias como estas são inúmeras. Nunca é demais lembrar que o câncer, seja ele qual for, é uma doença extremamente grave e por vezes fatal, apesar de todos os recursos médicos disponíveis atualmente. E suas vítimas precisam de ajuda psicológica, emocional e, por vezes, financeira. 

O que todos se perguntam é como a Amma consegue financiar todo este trabalho. "Nosso maior patrocinador é a comunidade”, responde Maria Helena. "A população é tudo para nós”, completa. A Amma tem uma rede de sócios contribuintes, que colaboram mensalmente com R$ 10. No mais, ela se garante com chás, bailes, rifas, bazares, desfiles, participação em festas populares. A campanha "Loucos por Lingerie” produzida pelo Sindvest e que resultou num calendário com fotos das integrantes da Amma, lançado durante a última Fevest, deu ótimos frutos para a instituição que arrecadou cerca de R$ 20 mil. Mais que o dinheiro, porém, o maior lucro aferido com a campanha foi a visibilidade que o trabalho possibilitou. "Valeu a pena. A partir daí, a Amma e a doença passaram a ser vistas de outra maneira”, ressaltou Maria Helena. 

O fato é que a Amma tem feito verdadeiros milagres, tanto que conseguiu até adquirir sede própria. Agora, vejam vocês e tirem suas próprias conclusões. Desde 2010, a entidade começou a receber uma subvenção da prefeitura que representava 25% das despesas. Este ano, porém, a Amma não viu a cor do dinheiro. O que aconteceu? Bem, até então, ela era ligada à secretaria de Assistência Social, mas houve uma reformulação interna e jogaram a Amma para a secretaria de Saúde. Daí começou o jogo de empurra. E agora? Como é que fica? A quem cabe restabelecer a subvenção? 

 

Amma (Associação da Mulher Mastectomizada) 

Tels. (22) 2526-5104 e 2526-5322 

E-mail: ammanf@hotmail.com 

Site: ammafriburgo.blogspot.com.br 

 

 

Na oficina de costura são confeccionados sutiãs e próteses para as mulheres mastectomizadas

 

Todos os anos a entidade realiza a Caminhada Outubro

Rosa para chamar a atenção das mulheres sobre a

importância de se prevenir contra o câncer de mama

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