Amâncio Azevedo Um nome que ficou impresso para sempre na história de Friburgo

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra
Amâncio Azevedo Um nome que ficou impresso para sempre na história de Friburgo
Amâncio Azevedo Um nome que ficou impresso para sempre na história de Friburgo

Se vivo fosse, Amâncio Mário de Azevedo, uma das personalidades mais importantes da história de Nova Friburgo, estaria completando 92 anos hoje, 19 de dezembro. No entanto, a população da cidade ficou órfã muito cedo daquele que foi seu anjo da guarda durante décadas. Aos 62 anos, depois de muito lutar contra um câncer, lá se foi o doutor Amâncio.

Já se vão 30 anos, mas até hoje a população da cidade nunca o esqueceu e, invariavelmente, deposita flores em sua estátua na Praça Dermeval Barbosa Moreira e em seu túmulo, no Cemitério São João Batista. Não sem motivos, doutor Amâncio nunca perdeu uma eleição, mesmo não tendo o dom da oratória e sendo suas campanhas sempre muito modestas. Mas ele tinha um trunfo valioso nas mãos, um amor genuíno e incondicional ao município e ao povo friburguense.

Sua aparência frágil, magra e simples escondia uma figura ímpar, com voz firme, gestos decididos e um sorriso aberto e contagiante. Todos que o conheceram se lembram da bondade que irradiava e de sua pureza de alma. Ele conquistava todo mundo com seu sorriso, seu carinho e seu carisma.

Outra característica marcante de doutor Amâncio era sua enorme capacidade de trabalho. Graças a ela, conseguia conciliar perfeitamente a vida de homem público com a de médico. Jamais fechou as portas de seu consultório e muitas vezes atendia nas próprias casas de seus pacientes. Ele praticamente encerrou o ciclo dos chamados “médicos do povo”, título que dividia com Dermeval Barbosa Moreira e Waldir Costa, homens para os quais a medicina era, realmente, um sacerdócio. Sua clínica, enorme, era formada, em grande parte, por pessoas humildes e só quem podia pagava pela consulta. Muitas vezes, lembram os que o conheceram, doutor Amâncio dava dinheiro do próprio bolso para a pessoa comprar os remédios necessários.

O “prefeito calçador”

Sua carreira política começou em 1947, quando se elegeu vereador. Sete anos depois foi eleito vice-prefeito, em dobradinha com Feliciano Costa, ocupando este cargo de 1954 a 1958. Assumiu a prefeitura pela primeira vez aos 41 anos, tendo permanecido no cargo de 1958 a 1962. Em seguida, foi eleito deputado estadual, mas permaneceu na Assembleia apenas por dois anos - de 1963 a 1964 - quando a revolução fechou a assembleia e o congresso. Foi prefeito novamente por mais duas vezes, de 1967 a 1970 e de 1973 a 1976. Em 1978, já bastante doente, elege-se deputado federal pelo PP, partido que abraçou devido à admiração que nutria por Tancredo Neves.

Como prefeito, realizou, literalmente, centenas de obras. Não apenas saneou e urbanizou o município, como pavimentou a maioria dos bairros populares de Friburgo. Foi ele também quem revestiu com pisos de concreto a Praça Getúlio Vargas e a Avenida Alberto Braune. Não sem razão, tornou-se conhecido como “o prefeito calçador”. Basta dizer que só em sua primeira gestão calçou nada menos que 106 ruas (aproximadamente 190 mil metros quadrados de calçamento).

E mais: fazia questão de acompanhar de perto cada obra, cobrando resultados dos responsáveis, que ficavam atônitos com seus questionamentos. Queria saber tudo, não aceitava explicações superficiais e, muito menos, evasivas. Aos domingos, gostava de pegar seu fusquinha e dar uma volta pela cidade, para ver o que estava sendo feito e o que ainda estava por fazer.

Entre suas obras destaca-se a construção da adutora do rio Grande de Cima, que foi concluída por Heródoto Bento de Mello e até hoje é responsável por grande parte do abastecimento de água da cidade.

Foi ele também quem construiu o prédio da Academia Friburguense de Letras e transformou a antiga cadeia pública no Centro de Arte, na Praça Getúlio Vargas. Foi também em sua gestão que o município comprou a antiga Estação da Leopoldina que depois de reformada, tornou-se o Palácio Barão de Nova Friburgo, sede do governo municipal.

Uma de suas maiores obras, porém, foi a criação da Faculdade de Odontologia, no antigo Palácio do Barão de Duas Barras, que até então era a residência de verão do governador. Foi também em sua gestão que Friburgo ganhou seu teleférico, que até hoje atrai tantos turistas a Friburgo. Outra marca de seu governo foi a criação dos Jogos Florais, movimento pioneiro no país.

Amâncio também teve um cuidado muito especial com a saúde, a educação e o esporte. Transformou toda a rede municipal de ensino, criando dezenas de escolas de primeiro e segundo graus no município. Em seu governo foi criada a secretaria municipal de Educação e Cultura, o programa de merenda escolar e a primeira creche municipal, a Emilio Melhorance, em Olaria. Foi doutor Amâncio que implantou o Estatuto do Magistério.

Graças a um convênio com a Associação Brasileira de Municípios, Amâncio fez um curso de Administração Pública na Alemanha, em sua segunda gestão como prefeito (1968), que o ajudou muito na elaboração da primeira reforma administrativa da prefeitura.

Como não podia deixar de ser, a saúde mereceu um cuidado especial por parte de doutor Amâncio, criando vários serviços complementares na Unidade Tunney Kassuga, como o de prevenção do câncer.

No curto período em que foi deputado estadual, Amâncio conseguiu muita coisa para Friburgo, como o asfaltamento da estrada de Friburgo a Riograndina e o trecho de Cachoeiras de Macacu a Venda das Pedras. Até então, para ir de Friburgo a Niterói, era preciso passar por todo este trecho em estrada de chão ou ir até o Rio de Janeiro pela Parada Modelo, atravessando a baía de barca ou de balsa.

A fama de Amâncio Azevedo ultrapassou as barreiras do município e a prova é que quando se candidatou a deputado federal, foi votado em todos os municípios, totalizando 27.404 votos. Ele teve, por exemplo, 516 votos em São Gonçalo e 1780 votos no Rio de Janeiro (capital), uma quantidade de votos que hoje em dia, os nossos candidatos não conseguem obter nestes locais.

Nesta época, porém, ele já estava com câncer, que contraiu em consequência de uma radiodermite causada por exposição aos raios X. Mas apesar das operações a que se submeteu e que culminaram com a amputação de seu braço esquerdo, ele exerceu regularmente seu mandato na Câmara dos Deputados, em Brasília, durante cerca de um ano, inclusive como membro da Comissão de Educação e Cultura e suplente da Comissão de Saúde. Mas não conseguiu terminar seu mandato, morrendo um ano depois que tomou posse.

Amâncio Azevedo foi casado com a professora Didi Sampaio de Azevedo e deixou dois filhos, ambos médicos, Rogério Sampaio de Azevedo e Rosali de Azevedo Künzel. Homem direito, era desprovido de vaidades, nunca teve apego a dinheiro e não aceitava nada errado. Morreu pobre, no dia 13 de dezembro de 1979, sendo até hoje lembrado com extremo carinho pela população da cidade, que até hoje ainda reverencia sua memória.

A paixão pelo futebol

Nascido no Rio de Janeiro, Amâncio veio para Friburgo ainda criança com os pais, o vidraceiro Jeronymo Mario de Azevedo e Lucinda Rocha de Azevedo, ambos portugueses. Criado na despreocupação da rua Baronesa, o garoto tinha verdadeira paixão pelo futebol e era vascaíno doente.

Contam os mais velhos que ele foi um grande centroavante. Jogou no Esperança Futebol Club e quando era estudante de medicina, no Byron Futebol Club, de Niterói, tendo jogado, inclusive, ao lado do famoso Zizinho. Amâncio abandonou a carreira de jogador pela medicina, mas nunca abandonou de verdade o esporte.

Quando voltou para Friburgo, depois de formado, ocupou diversos cargos na diretoria do Esperança, seu time de coração e foi presidente do clube em várias gestões. Também foi graças, em grande parte, a seu empenho, que Friburgo foi escolhida para sediar os treinamentos da seleção para a Copa de 1954.

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