Alunos do Samba, mestres por tradição

terça-feira, 28 de outubro de 2014
por Dayane Emrich
Alunos do Samba, mestres por tradição
Alunos do Samba, mestres por tradição

O carnaval é uma festa de longa data. No Brasil, remonta aos tempos de colonização, e em cada região é expressado de um jeito próprio, seja nos desfiles das escolas de samba, como no Rio de Janeiro e São Paulo, seja com o frevo e os bonecos gigantes de Pernambuco ou os trio-elétricos da Bahia ou mesmo com os blocos de rua, comuns em diversas cidades do país. E é exatamente por sua importância e dimensão cultural que o carnaval é considerado a maior festa nacional e uma das maiores do mundo. 

Em Nova Friburgo, a história não é diferente. O carnaval da cidade é caracterizado pelos desfiles das escolas de samba e dos blocos de rua, os quais atraem diversos turistas, aquecem a economia e animam os foliões durante os quatro dias oficiais da festa.  

A mais antiga agremiação da cidade, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Alunos do Samba, de Conselheiro Paulino, símbolo cultural do distrito, é sinônimo de tradição. Uma das principais escolas de samba do município, a Alunos do Samba está prestes a completar 69 anos de muita alegria e emoção, que sempre encantaram o público na Avenida Alberto Braune. 

A história da "Alunão” teve início em 2 de fevereiro de 1946, quando a agremiação foi fundada com o nome de "O Fluminense”. Nessa época, os ensaios eram realizados próximo ao local onde hoje está localizado o Instituto de Educação de Nova Friburgo (Ienf), no Centro. Somente entre 1975 e 1976, pois não se sabe precisar a data, a escola foi transferida para o distrito de Conselheiro Paulino onde — como diz o atual presidente da escola, Felipe Guerra Borges — encontrou sua casa e foi abraçada por toda a comunidade. Os ensaios eram realizados na Praça Lafayette Bravo; depois, a escola conseguiu o terreno no qual hoje está localizada e onde funcionava um dos pontos da antiga estação Leopoldina. 

Felipe conta também que muitas pessoas criticam ou fazem troça do nome escolhido para a instituição, devido ao fato de "aluno” remeter à ideia de alguém que não tem conhecimento pleno da coisa. Contudo, ele explica que a denominação é, na verdade, uma referência aos fundadores e antigos membros da escola. "Apesar de sermos professores em samba, nós temos respeito e humildade em relação aos primeiros sambistas da escola, aos nossos mestres. A ideia é que, em matéria de samba, ninguém sabe demais”, disse ele, rindo. 

Quanto ao símbolo da escola, o primeiro foi uma águia com um pandeiro na mão. Na mudança para Conselheiro, o instrumento passou a ser o surdo. Por fim, o personagem Zé Carioca foi escolhido como escudo definitivo. A adoção do papagaio sambista como símbolo da Alunos do Samba foi uma ideia proposta pelo carnavalesco Eloy Machado em sua passagem pela escola.

Mas não foi só o brasão da Azul e Branco que sofreu a influência de Eloy. Ele, que conheceu Nova Friburgo na década de 80 e se apaixonou pela cidade já na primeira vez em que aqui esteve, trocou a Mangueira pela Alunos do Samba e foi o responsável por uma revolução na escola e em todo o carnaval friburguense. 

É o que conta Felipe, que desde criança acompanha a Alunão. "Eloy trouxe os enredos em setores, as esculturas em fibra de vidro e isopor. Ele fez três carnavais memoráveis: dois campeonatos e o carnaval de 1988, que teve resultado muito questionado”, diz ele, se referindo à escolha da Imperatriz de Olaria como campeã.

Com doze títulos no currículo — 1947, 1948, 1950, 1954, 1955, 1963, 1964, 1965, 1987, 1990 1995 e 1996 — a Alunos do Samba é peça essencial do carnaval friburguense. Quando questionado sobre o enredo mais aplaudido da escola ao longo dos 69 anos de sua fundação, apesar de considerar esta uma tarefa complicada, Felipe relembrou com muita empolgação o enredo "Alô Brasil”. "É inesquecível. O tema representou um divisor de águas. Na época, 1987, foi escandaloso ver um carro abre-alas de fibra de vidro, um índio imenso deitado no meio da floresta com duas mulatas na mão balançando a cabeça”, contou ele, acrescentando: "Dali para frente, ou as escolas se adequavam a este tipo de carnaval ou nunca mais ganhariam da Alunos do Samba”. 

Felipe diz também que as décadas de 80 e 90 foram o auge da agremiação, quando a mesma ganhou seis títulos, e destaca: "A Alunos do Samba não só foi a pioneira e revolucionária do carnaval de Friburgo, como ainda é. A escola é a única alegria que Conselheiro tem, é a única representação cultural do distrito”, afirmou. 

‘Carnaval friburguense não é só glamour’

Às vésperas do carnaval, a Alunos do Samba ainda está sem quadra para ensaiar e realizar os eventos para arrecadação de receita. O problema relatado pelo presidente da escola incide sobre a liberação do alvará provisório para a utilização do espaço, mesmo motivo pelo qual a escola não participou do carnaval 2014. 

Felipe Guerra Borges assumiu a presidência em abril deste ano e alega que, desde então, vem tentando resolver o problema junto à Prefeitura. "Eu já gastei cerca de R$ 7 mil para obter a licença da quadra e sempre surgem taxas, vistorias da Vigilância Sanitária, ou seja, estamos proibidos de fazer eventos na nossa própria quadra, o que nos impede, inclusive, de fazer o carnaval”, explicou ele. 

Para Felipe, a situação representa o desrespeito da Prefeitura para com as entidades culturais da cidade. "Eu acho uma falta de respeito absurda com uma instituição que prestou e presta inúmeros serviços à cultura popular friburguense, atrai turistas e está localizada em um dos maiores e mais populosos distritos do município. É muito descaso com Conselheiro Paulino”, acrescentou.

Para quem pouco entende de carnaval, todo os anos as quatro escolas de samba da cidade — Vilage, Saudade, Imperatriz de Olaria e Alunos do Samba — recebem, cada uma, cerca de R$ 46 mil de subvenção da Prefeitura para a realização da festa. Contudo, ainda segundo Felipe, o valor é considerado insuficiente, visto que os gastos com o desfile giram em torno de, no mínimo, R$ 150 mil. "A gente só quer o apoio do poder público. Não queremos rios de dinheiro”, disse.

E o descontentamento de Felipe vai ainda mais longe. Ele afirma que o carnaval na cidade está comprometido, pois além de não haver incentivo do poder público e nenhum tipo de ajuda da Liga das Escolas de Samba de Nova Friburgo (Liesbenf), a prática de comprar fantasias e objetos utilizados pelas escolas do Rio de Janeiro faz com que se perca toda a criatividade e originalidade dos desfiles no município. 

Outro fato destacado pelo presidente da Alunos de Samba é que, em 2012, a escola levou às ruas o enredo "A Flor de Lótus”, cujo objetivo era retratar na avenida a reconstrução da cidade após a catástrofe de janeiro de 2011, além de abordar também o que ainda deveria ser feito para melhorar a qualidade de vida da população friburguense. "Fomos muito criticados pela escolha do tema e acredito que deva realmente ter incomodado muito, pois, desde então, estamos sofrendo sanções”, contou.

O presidente explicou também que a Prefeitura exige que seja feito um tratamento acústico na quadra, mas afirma que a obra é muito cara. "Todo o projeto custa R$ 200 mil. Nós não temos dinheiro para isso. A quadra é muito grande”, disse ele. Com tantos problemas, Felipe conta, inclusive, que ainda não sabe se a escola desfilará no carnaval 2015.

Ficha Técnica:

Cores: Azul e branco

Fundação: 02/02/1946

Endereço: Rua José Ernesto Knust 7, Conselheiro Paulino

Presidente: Felipe Guerra Borges (Felipão)

Títulos: 12 (47, 48, 50, 54, 55, 63, 64, 65, 87, 90, 95, 96)

Componentes: 800

Alas: 16

Bateria: 110 ritmistas

Mestre: Arilson

Rainha: Jucieli

Carros alegóricos: 4

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