Alunos desocupam o Colégio Jamil El-Jaick

Movimento em apoio à greve dos professores durou 56 dias; Sepe diz que paralisação continua
quarta-feira, 15 de junho de 2016
por Karine Knust
(Foto: Lúcio Cesar Pereira)
(Foto: Lúcio Cesar Pereira)

Chegou ao fim na segunda-feira, 13, a ocupação do Colégio Estadual Jamil El-Jaick. O movimento em apoio à greve dos professores da rede era organizado por alunos da unidade e contava com apoio dos docentes. Com grupos articulados, além de realizar discussões sobre reivindicações internas, nestes 56 dias a ocupação também abriu espaço para diversas atividades culturais, pedagógicas e esportivas, como oficinas de grafite, curso pré-vestibular, entre outros.

De acordo com um dos professores grevistas da unidade, Diogo Coelho, a decisão foi tomada após assembleia estudantil: “Os alunos resolveram desocupar o prédio porque a pauta de negociações com a coordenadoria regional está sendo atendida. Dos 33 pontos citados como reivindicação dos estudantes, dez são responsabilidades diretas da Seeduc. Houve um entendimento dos alunos de que, com a resolução das questões, seria o momento de desocupar”.

Dentre as ações realizadas pela Coordenadoria estão a substituição de extintores com validade vencida por outros novos, reforma da quadra de esportes e entrega de alguns mobiliários novos para as salas de aula. Com a desocupação, os professores que não aderiram à greve podem voltar a lecionar normalmente.

Em nota, a Secretaria Estadual de Educação informou que o governo do estado continuará mantendo a pauta de discussão dos pleitos dos alunos em reuniões realizadas pela Defensoria Pública e Ministério Público, conforme o estabelecido pela juíza da 2ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso. Ainda segundo a pasta, “apenas duas unidades escolares, que funcionam no mesmo prédio, e a sede da Seeduc permanecem ocupadas”.

Assembleia nesta quinta pode definir rumos da greve

No último fim de semana, a greve dos professores da rede estadual completou 100 dias e, até agora, poucas reivindicações foram atendidas. Com relação as pautas financeiras, nada mudou. De acordo com o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) até agora o estado ainda não apresentou contraproposta para as reivindicações que constam da pauta econômica entregue pelo Sepe ao governador em exercício, Francisco Dornelles, e ao secretário de Educação, Wagner Victer. A categoria reivindica reajuste salarial de 30% e o fim dos atrasos nos salários (pagos no 10º dia útil do mês).

Na manhã desta quarta-feira, 15, os representantes do Sepe em Nova Friburgo realizaram coletiva de imprensa para esclarecer alguns pontos da paralisação. “Queremos uma explicação para a justificativa da crise. O governo deu isenções fiscais a diversas empresas que ultrapassam R$ 140 bilhões. Alguém é o responsável por essa crise e ela não pode ficar na nossas mãos”, afirmou a professora Fátima Cristina Ayrola de Carvalho.

“O governo não pode tomar a decisão de parcelar salários, não efetuar reajuste anual, não cumprir a lei de um terço da carga horária para planejamento. Estamos pautados pela Constituição. Quem não está cumprindo a lei é o próprio governo”, acrescentou o professor Angelo César Jachelli.

Nesta terça-feira, 14, o Tribunal de Justiça derrubou um mandado de segurança solicitado pelo Sepe em março, que impedia o corte de ponto dos professores que aderiram à greve. A decisão veio ao encontro de outra resolução do Órgão Especial de Justiça, que considerou a greve abusiva e aumentou a multa diária imposta ao sindicato de R$ 50 mil para R$ 100 mil devido ao fato de não estar sendo cumprido o mínimo de 70% dos professores em atividade nas escolas.

Em nota, o Sepe informou que irá “recorrer destas decisões, mas lembra que o mérito da questão ainda não foi julgado e, portanto, a Justiça ainda não julgou se a greve da categoria é ilegal ou não”.

"Mesmo com o corte de ponto, acredito que o movimento ainda resista porque se transformou em uma questão de necessidade urgente. A categoria está firme. Não é hora de recuar. Estamos lidando agora com uma questão de dignidade. Mesmo se o governo realizar os reajustes solicitados ainda teremos problemas para voltar às aulas. Isso porque, as escolas estão sem porteiros, sem funcionários de limpeza. Não temos condições dignas de trabalho, também não há condições dignas de estudo. O governo precisa dar soluções a esses problemas”, reivindicou a professora Keli Moraes de Abreu.

“A greve é o último recurso do trabalhador, queremos respostas às nossas pautas. Nada disso precisaria estar acontecendo se o governo não estivesse administrando de forma tão temerária as finanças do estado. Não fazemos greve porque gostamos, os pais dos alunos e os estudantes precisam ter essa compreensão. Nossa luta é para que as escolas voltem a adquirir os padrões mínimos de qualidade”, finalizou Sidney de Moura, também professor sindicalista.

Em nota enviada à redação de A VOZ DA SERRA, a Secretaria Estadual de Educação informou que vem constantemente recebendo a coordenação do Sepe, juntamente com o governo do estado, e “na última reunião apresentou contraproposta com uma série de avanços”.

Nesta quinta-feira, 16, os profissionais de educação das escolas estaduais, em greve desde o dia 2 de março, realizam assembleia geral no Rio de Janeiro. No encontro, que acontece a partir das 10h, os professores e funcionários das escolas estaduais discutirão os rumos da greve, avaliando o andamento das negociações da direção do sindicato com o governo estadual.

Depois da assembleia, os profissionais de educação participarão de um ato conjunto que integra as atividades do Dia Nacional de Luta pela Educação, na Candelária, a partir das 15h. Depois do ato, está prevista uma passeata da Candelária até a Central do Brasil, onde profissionais das redes estadual, municipal do Rio e das escolas que compõem a rede Faetec, universidades estaduais e colégios de aplicação, farão panfletagem para denunciar as precárias condições da educação pública no Rio de Janeiro e no Brasil.

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TAGS: Ocupação | Educação
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