Os relatos bíblicos quase sempre nos colocam à mesa com Jesus e seus seguidores e seguidoras, tanto que era acusado de ser glutão e bebedor
(Mateus 11.19). Nos tempos bíblicos “se reunir para comer” era algo importante. Ninguém comia sozinho, porque este era sempre um ato de
reunião, encontro e partilha. “Comer com” significava “fazer parte de”, por isso Jesus era questionado por comer e partilhar pão junto de pessoas com
reputação duvidosa (cobradores de impostos, pecadores e prostitutas).
Todas as vezes que Jesus sentou-se à mesa um alimento sempre esteve presente: O pão! O pão faz parte da dieta alimentar de quase todos os
povos. O pão era um dos alimentos fundamentais na árida Palestina, pois cultivava-se muito trigo na região da Ásia Menor, Norte da África e Europa
Mediterrânea. Além disso, a durabilidade do trigo, o habilitava a estar presente nos farnéis dos viajantes que atravessavam as trilhas desérticas da época.
Na Bíblia a palavra “pão” aparece aproximadamente 350 vezes!
Nos escritos originais a palavra hebraica léhhem (1 Samuel 10.4) no Antigo Testamento e a gregaártos no Novo Testamento são traduzidas por “pão” (Mateus 14.17). Ao
fabricarem pão, os hebreus, em geral, usavam farinha de trigo ou de cevada. O trigo era mais caro, de modo que as pessoas mais pobres tinham de contentar-
se com pão de cevada.
O modo de preparar o pão era muito simples: A farinha era misturada com água, e não se adicionava fermento antes de se trabalhar a massa. O pão
ázimo ou asmo era alimento essencial para a Páscoa judaica, pois rememorava a pressa de sair do Egito, não havendo tempo para esperar a
massa fermentar e crescer. Para a fabricação do pão fermentado, o método usual era tomar um pouco da massa, reservada de um anterior cozimento, e
empregá-la como agente fermentativo, desmanchando-a na água, antes de acrescentar a farinha. Tal mistura era amassada e se deixava descansar até
levedar (Gálatas 5.9).
Na Bíblia, o pão representa tudo aquilo que é essencial para viver em sentido concreto e figurado. Jesus pregava, curava e ensinava, mas também se
preocupava com a fome de seu povo. A vida de Jesus dá testemunho disso já no seu nascimento. Jesus nasce na cidade de Belém: Bet (casa) /
léhhem(pão), ou seja, na “casa do pão”. Em duas ocasiões, Jesus multiplicou pães para alimentar grandes multidões famintas, logo após ter lhes pregado
sobre o Reino de Deus (Mateus 14.13-21; 15.32-37). Jesus ordena que deem de comer à filha de Jairo após tê-la ressuscitado (Lucas 8.55). Jesus era
reconhecido por sua maneira de dar graças e partir o pão (Lucas 24.30-31). Na Oração do Pai Nosso, Jesus instrui que, seus seguidores e seguidoras orem
pelo “pão nosso de cada dia”. Portanto, oramos pedindo o pão não de forma individualista e egoísta, “pão meu”, mas o alimento coletivo imprescindível para
as necessidades concretas do presente.
O pão extrapola a dimensão concreta do trigo, quando o próprio Cristo afirma sobre si dizendo: “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome,
e quem crê em mim nunca terá sede” (João 6.35) ou quando afirma que “não só de pão viverá o ser humano, mas de toda palavra que procede da boca de
Deus” (Mateus 4.4). Jesus reconhece a nossa necessidade de comida, por outro lado, nos ensina que o ser humano precisa de muito mais do que comida
no estômago. Jesus se importa com cada pessoa e não deseja que ninguém passe fome fisicamente e/ou espiritualmente.
Quando Jesus se apresenta como o pão da vida, ele quer ser o equilíbrio entre a falta de pão e o seu acúmulo. Jesus quer saciar a fome que brota do interior
de cada pessoa por isso tornar-se pão e vinho a cada vez que cristãos e cristãs celebram a Santa Ceia, como ele mesmo ordenou (Marcos 14. 22-26).
Na mesa da comunhão quem crê é alimentado e nutrido pelo pão da vida em toda a sua complexidade: material e espiritual. Quem é alimentado pelo “pão da
vida” deseja e ora: Dá, Senhor, pão aos que tem fome; e fome de justiça aos que tem pão.
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