A tarde da última terça-feira foi de surpresa e desespero para muitos brasileiros. Ninguém — exceto, talvez, um brasileiro que ganhou um bolão apostando no resultado que até então parecia ser o mais improvável da história — esperava tamanha elasticidade no placar entre Alemanha e Brasil. Depois dos primeiros dez minutos de jogo, o que já era considerado uma disputa difícil se tornou um verdadeiro massacre impossível de ser revertido e duro de ser assistido.
Mas a situação de alguns alemães também não foi fácil, pelo menos não para muitos que vivem em Nova Friburgo, afinal, o coração estava dividido: de um lado, a pátria de origem, do outro, o país que se tornou o novo lar.
Dalva Brust, presidente do Centro Cultural Teuto-Friburguense (CCTF), acredita que apesar de a Alemanha ter ganhado a disputa, o gostinho de vitória não é tão glorioso como pensam os brasileiros: "Ficamos muito divididos ao assistir o jogo e acabamos comemorando os gols de ambos os times. Mas para os alemães, não existe esse sabor de goleada. Essa questão de humilhar o adversário não faz parte do estilo e da cultura alemã e isso a gente pode constatar ao ver a postura que os jogadores da Alemanha tiveram após o jogo. Até porque, não tinha motivo para isso. O time foi muito bem recepcionado em todos os lugares que ficou no Brasil e continuou conquistando o respeito e a admiração da torcida brasileira depois de terça-feira. Mas mais importante do que a goleada foi mostrar aos brasileiros que é preciso ter ética dentro e fora de campo. Agora é torcer pelo terceiro lugar do Brasil e pela vitória da Alemanha”.
Na série especial "Duas pátrias: para quem torcer?”, A VOZ DA SERRA entrevistou diversos imigrantes que escolheram Nova Friburgo como lar e tinham a difícil missão de preparar os corações para as disputas do Mundial. Um de nossos entrevistados foi Lutz Richard, um alemão de 74 anos que vive há 37 no Brasil. Na ocasião, ele afirmou já se sentir meio brasileiro, meio alemão, mas caso houvesse o encontro dos dois times em campo a tendência europeia ia falar mais alto. Mas, e agora, depois da goleada? "O jogo foi esquisito. O time brasileiro sempre foi muito bom, mas eu acho que com a goleada eles entenderam que não são os melhores como pensavam. Durante a Copa muitos outros times, que ninguém esperava, se destacaram. Foi uma Copa muito diferente”, diz ele, opinando sobre a final da seleção de seu país com a Argentina. "Eu acho que Alemanha tem condição de vencer, sim. Acredito num 3 a 1. A técnica deles é muito boa, a equipe joga muito bem, é só lembrar de como jogaram terça-feira”, afirma.
Sobre a disputa do terceiro lugar, Lutz acredita que, apesar de ter sofrido a goleada, o Brasil vai endurecer a partida: "Não vai ser fácil, mas o Brasil pode vencer. Nesta situação é difícil dar uma opinião”.
Agora não há mais o que fazer, a única alternativa é aceitar a vexatória derrota, tentar erguer a cabeça depois desse humilhante 7 a 1 e correr atrás do prejuízo, buscando ao menos o terceiro lugar no Mundial. Com o apoio dos teuto-friburguenses.
Texto escrito por Karine Knust sob supervisão da chefia de redação.
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