No mês dedicado ao combate do câncer da próstata, o Novembro Azul, especialistas aproveitam a campanha para alertar os homens para o câncer de pênis, uma doença rara, porém extremamente agressiva e devastadora, que afeta profundamente a saúde dos pacientes, ocasionando danos físicos e psicológicos.
Segundo o urologista André Lopes Salazar, trata-se de um tumor raro com baixa incidência em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, dados do National Cancer Institute (NCI) estimam em 2015 cerca de 1.570 novos casos, com 0.1 a 0.9 casos por 100.000 homens por ano. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) definiu a incidência de 4.637 casos de câncer de pênis em 2009 e 295 mortes em 2007. O câncer de pênis acomete homens com média de idade entre 50-70 anos, entretanto 19% com menos de 40 anos. A porcentagem de homens afetados pode variar de acordo com a região, sendo cinco vezes mais prevalente nas regiões Norte e Nordeste em comparação com as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste, provavelmente relacionado também pelo desenvolvimento de cada região.
“Os principais fatores de risco relacionados ao câncer de pênis são a presença da fimose (quando não se consegue expor a glande do pênis), tabagismo e hábitos de baixa higiene. Outros fatores de risco incluem inflamações no pênis de longa data e sem tratamento adequado como balanopostites (inflamações na glande), líquen plano e contaminação pelo vírus HPV. O HPV ou Vírus Papiloma Humano, em português, é um patógeno causador de verrugas ou hamartomas. Existem mais de 200 tipos de HPV, e alguns têm afinidade pela região genital. O papel do HPV como causador do câncer de pênis ainda não está esclarecido, porém vários trabalhos relataram a presença deste vírus em câncer de pênis bem como a presença do vírus em linfonodos metastáticos, com predomínio dos subtipos 16 e 18”, esclareceu o especialista.
Um problema de saúde pública
De acordo com ele, o principal tipo de tumor no câncer de pênis é o carcinoma de células escamosas, comumente conhecido como CCE, representando cerca de 95% dos casos. O CCE é um câncer conhecido por sua agressividade local, mas com baixo potencial de enviar a doença para outros locais mais distantes do corpo. O diagnóstico dos pacientes com câncer de pênis geralmente é tardio, devido a vários fatores como a desinformação, baixo nível socioeconômico, a dificuldade de acesso a um médico especialista e, principalmente, ao tabu acerca do órgão sexual masculino.
“A lesão peniana é ressecada de acordo com o seu tamanho: lesões pequenas e iniciais podem ser curadas com tratamentos tópicos ou ressecções locais, porém lesões maiores e mais avançadas podem necessitar de amputação do pênis, que algumas vezes pode ser total. O tratamento da lesão no pênis tem como principal objetivo ressecar este tumor antes que ele dissemine para os linfonodos inguinais. O principal fator prognóstico ou o fator que pode indicar a chance de cura do paciente é a presença de acometimento destes linfonodos, e isto sempre deve ser avaliado durante o tratamento”, explicou Salazar.
Ao atender um paciente com câncer de pênis, o urologista sempre examina a região inguinal, local de metástases, para tentar identificar esta presença. O grande desafio desta fase do exame se baseia na dificuldade da correta avaliação, uma vez que o aumento suspeito dos linfonodos pode indicar somente inflamação e linfonodos normais podem apresentar tumor em até 25% dos pacientes.
A cirurgia para retirada dos linfonodos inguinais se chama linfadenectomia inguinal, e esta deve ser feita bilateralmente uma vez que o acometimento apresenta disseminação cruzada. É uma cirurgia agressiva com taxas de complicações entre 24 a 87% e uma taxa de mortalidade em torno de 3%. Porém não se pode retardar esta cirurgia, pois a linfadenectomia inguinal precoce melhora significativamente o prognóstico dos pacientes com micro metástases (aquelas que ainda não são detectadas com a palpação).
Dada a grande importância da avaliação dos linfonodos inguinais e seu impacto na cura do paciente, somado ao fato da avaliação clínica apresentar altos índices de falsos positivos (pacientes com linfonodos palpáveis, mas sem doença) tornam-se necessários métodos de avaliação mais avançados.
Uma nova ferramenta que está sendo utilizada como uma tentativa em aumentar a eficácia do diagnóstico de prováveis metástases linfonodais ocultas e evitar cirurgias desnecessárias é a tomografia com PET (PET-TC), que significa uma tomografia que detecta a atividade metabólica da doença — nos tumores de pênis utilizamos o metabolismo da glicose ou açúcar como alvo de pesquisa. Nos casos de PET-TC positiva, ocorre um aumento da detecção de linfonodos positivos, bem como maior precisão na localização das metástases com até 86,3% de acurácia em pacientes com região inguinal sem alterações.
“O câncer de pênis é uma doença de grande impacto para a saúde dos homens que ela acomete e apresenta ocorrência elevada em países subdesenvolvidos. Infelizmente a sua etiopatogênese (origem) é pouco estudada e uma melhor avaliação do acometimento dos nódulos inguinais é necessária para evitar o super tratamento. Novos estudos sobre como a doença progride são ferramentas importantes para um melhor conhecimento e melhor tratamento dos pacientes”.
(Fonte: André Lopes Salazar, urologista)
Câncer de próstata em 2015
A última estimativa mundial apontou o câncer de próstata como sendo o segundo tipo mais frequente em homens. Aproximadamente 70% dos casos diagnosticados no mundo ocorrem em países desenvolvidos, sendo que o único fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento do câncer de próstata é a idade. Aproximadamente 62% dos casos diagnosticados no mundo ocorrem em homens com 65 anos ou mais.
Com o aumento mundial da expectativa de vida, é esperado que o número de casos novos de câncer de próstata aumente cerca de 60% até este ano. Além disso, a etnia e a história familiar da doença também são consideradas fatores de risco. O câncer de próstata é aproximadamente duas vezes mais comum em homens negros se comparados aos brancos. Os estadunidenses, jamaicanos e caribenhos, com ascendência africana, apresentam as mais altas taxas de incidência do câncer de próstata do mundo, o que pode ser atribuído, em parte, à hereditariedade (cerca de 5% a 10%). Apesar disso, é possível que essa diferença entre negros e brancos se dê em razão do estilo de vida ou de fatores associados à detecção da doença.
(Fonte: Charles Rosenblatt, urologista)
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