Aldeia Global

sexta-feira, 12 de agosto de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Umberto Peregrino já nos deixou há algum tempo com 92 anos.

Natalense, cantou e descreveu sua terra como poucos. Seu primoroso livro “Crônica de uma cidade chamada Natal” no-lo confirma.

Escreveu muito sobre Euclides da Cunha. Fez trabalho excelente frente à Biblioteca do Exército, a que deu nova dimensão. Na campanha do general Dutra trabalhou como poucos. E neste ponto me detenho. Mau orador, feio como tatu, sem brilho, exceto seus galões e o apoio do Getúlio Vargas, não parecia fácil fazer campanha para o Homem do Livrinho (A Constituição) “Tá no livrinho ... ??? Então eu cumpro!”. Era o seu slogan e a maior parte de sua argumentação. Umberto Peregrino, major, andava pelas feiras, mormente a de São Cristóvão, à procura de cantadores que, sem risco de apanhar, pudessem cantar os feitos e as promessas do General Dutra.

Certo dia, na feira, num bairro distante, Rio de Janeiro, Peregrino encontrou um cantador, são dos olhos, forte, chapéu de couro na cabeça e óculos escuros, soltando a voz numa cantoria, meio sem graça, em que tecia loas ao General Dutra. Peregrino tascou-lhe a pergunta: “Que história de óculos é essa, Azulão? Você não é cego, oxente”.

Veio logo o troco: “Mas seu coroné, é bom se aprevenir por que em cego ninguém bate. E se aparece a tchurma do Brigadeiro, cuma é que fica?”

Essa ouvi do próprio Umberto Peregrino numa Semana de Arte Nordestina, o Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, lá por 74, sentado o lado do grande Nunes Pereira, autor de “Moronguetá, um Decameron Indígena”. Peregrino estava perdidamente apaixonado pela literatura de cordel, de que sabia muito, bom poeta que era.

Lembro-me bem que declamou uma louvação à Câmara Cascudo que, outro dia, reencontrei em livro. Imagino que minha amiga Daliana Cascudo, neta de Luis da Camada Cascudo, a queira colocar no blog e no site de Cascudão:

“Louvo em Cascudo as grandezas de minha terra

Louvo a raça rija, louvo os oitenta.

Louvo os braços, louvo o peito, louvo a mente,

Louvo o riso ruidoso,

Louvo o coração bondoso,

Louvo o saber,

Louvo os seus livros,

Louvo o autor, esse danado,

Nas estranjas respeitado,

Louvo o pai, louvo o avô

Louvo o meu antigo professor

Louvo o homem,

Louvo o amigo,

Louvo as vivências que tem,

Como ninguém, desta terra,

E louvo o afeto que seu peito encerra .

Amém.

* 34 anos de jornalismo cultural na Folha do Sudoeste

Mais de 1.650 artigos publicados

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade