Ainda os suíços - um balanço positivo

segunda-feira, 26 de outubro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Suíços foram embora, deixando marcas positivas

Autoridades anunciam que querem implantar uma Casa de Nova Friburgo na Suíça

(SECOM) Mais de cem horas, quase cinco dias e muitas atividades, entre desfiles, shows, concertos, festivais folclóricos, almoços e jantares especiais, homenagens e troca de presentes. Os 327 suíços do Canton de Fribourg foram embora, na manhã da última quarta-feira, 21, mas assim como suas presenças no município se fortaleceram nos últimos 30 anos, esta última passagem por Nova Friburgo ainda permanecerá na lembrança de muitos.

Não foi uma mera visita de turistas em busca de conhecer novas paragens. Foi, de fato, mais um reencontro de velhos amigos. “Dois povos irmanados, em um só coração” que se juntaram, agora, para mais uma missão, entre tantas, tendo como principal objetivo os dois séculos de Nova Friburgo: En route les vers 200 ans (Rumo aos 200 anos de Nova Friburgo) é a motivação que, a partir de agora, norteará, pelos próximo nove anos, o relacionamento entre as duas cidades gêmeas.

A importância dos 200 anos

Na noite do último evento da comitiva no município, um jantar de confraternização, antecedido por apresentação especial do grupo de ginasta Silvana Gym, no Country Clube, duas notícias marcaram este VI Encontro Suíço-Brasileiro, realizado em comemoração aos 30 anos da Associação Fribourg-Nova Friburgo (AFNF).

Além da doação de 14 mil francos para duas entidades locais, anunciada pelo presidente da seção suíça da entidade, Raphael Fessler, sendo 7 mil para cada uma - o Instituto de Esportes e Cultura (Inec), da professora Silvana Schwartz Noel e a Associaçâo Educacional Vale de Luz, que mantém duas escolas locais - o prefeito (síndico) de Fribourg fez o anúncio mais importante da viagem.

Segundo Alain Pierre Clément, “temos projetos também na Suíça, e como tivemos ocasião de mergulhar na história de vocês - afirmou referindo-se à excelente impressão que tiveram naquela manhã, ao conhecerem o complexo da Casa Suíça / Museu da Colonização, em Conquista - ele disse que “assim como vocês têm aqui uma Casa Suíça no Brasil, faremos também uma Casa do Brasil (de Nova Friburgo) na Suíça”.

Alain Pierre citou uma expressão que o prefeito Heródoto usara na homenagem, prestada mais cedo, na própria queijaria, aproveitando ainda para destacar a importância da preparação para os dois séculos do município: “uma das palavras mais belas que ouvimos, foi do prefeito Heródoto: ‘Na verdade, conhecer seu passado é bom, mas preparar seu futuro é melhor ainda’ ”.

Na mesma noite de terça-feira, além do show de ginastas do Inec, ressaltando toda a brasilidade, num repertório com musicas nacionais e coreografias em ritmo tropical, como não poderia deixar de faltar, tudo acabou em cima, com bateria de escola e apresentação do grupo Toque Serrano, em jantar regado a muita caipirinha.

Intercâmbio cultural também deixou marcas em Lumiar com a doação de 13 instrumentos à Euterpe Lumiarense pela banda de Treyvaux

O distrito de Lumiar recebeu, na última segunda-feira, 19, uma parte da comitiva de suíços. Além de autoridades, a Brass Band de Treyvaux se apresentou na sede da Ação Rural naquela tarde. Antes, porém, na manhã do mesmo dia, na sede da Sociedade Musical Euterpe Lumiarense - banda do quinto distrito que está sendo reativada - além da exibição de um vídeo sobre a importância da preservação ambiental e da agricultura, um grupo de jovens músicos locais se apresentou na sede da agremiação musical, que recebeu a doação de 13 instrumentos musicais “como exemplo de esforços de ações de integração entre os dois povos”, como citou o maestro da banda suíça, Nicolas Papaux, que ainda acrescentou:

“Ficamos muito impressionados ao ver as crianças tocando e também o envolvimento com a música dos professores e alunos. Na Suíça, a música é comum, mas reconhecemos os esforços que são feitos por aqui. Por isso, estamos doando esses instrumentos e partituras de músicas folclóricas suíças do Estado de Fribourg como contribuição cultural”.

Ao final de sua fala, Nicolas Papaux agradeceu “pelo acolhimento das famílias e parabenizou a população de Lumiar pela natureza que os cerca”. A visita teve exatamente o objetivo de apresentar aos visitantes, as belezas naturais e as características próprias daquela comunidade rural friburguense. Uma forte chuva, no entanto, impediu que a comitiva também conhecesse o distrito de São Pedro da Serra.

O presidente da Banda Euterpe Lumiarense, Manoel Antônio Spitz Sodré, agradeceu as doações e disse que, “ficou surpreso em ver as crianças acompanhando os músicos, e é um exemplo interessante para ser seguido. Estou muito emocionado pelos presentes. É uma imensa contribuição para a nossa cultura local”, finalizou.

Dalva Brust, que ficou responsável em coordenar a recepção aos visitantes na localidade, disse que o envolvimento entre alunos e professores vai além da música:

“A banda Euterpe Lumiarense não é só arte e música, ela também trabalha com a conscientização da preservação ambiental e a democratização da cultura na área rural para que os jovens não precisem sair de suas casas”.

A hospitalidade não parou por aí

À tarde, os músicos da Brass Band de Treyvaux e as autoridades suíças, a exemplo dos vereadores Charles de Reyff e Madeleine Genoud-Page, participaram de um almoço no próprio distrito de Lumiar, oferecido pela Associação Fribourg-Nova Friburgo, que teve ainda as presenças do prefeito Heródoto Bento de Mello, do secretário Geral de Governo, Braulio Rezende Filho e o de Comunicação Social, Girlan Guilland.

Em seguida, na Praça Carlos Maria Marchon, alunos da Escola Municipal Acyr Spitz fizeram homenagens ao prefeito e aos suíços cantando o Hino de Nova Friburgo e uma canção do país visitante. Logo após, mais alguns representantes do governo, como a subsecretaria de Educação, Mônica Monnerat, o assessor da secretaria de Cultura, Mário José Bastos Jorge (Marinho) e a diretora da Oficina Escola de Artes, Rose Borges, juntaram-se ao grupo no prédio da Ação Rural do distrito, e assistiram apresentações do coral dos alunos da Escola Municipal Acyr Spitz, com a regência da professora e musicista Marlene Moreira, danças folclóricas alemãs e a uma peça teatral, baseada no conto infantil da Cinderela.

Finalizando as apresentações, a Brass Band de Treyvaux mostrou um pouco de seu repertório, colocando muitos para dançar – como no caso do próprio prefeito Heródoto e da vereadora Madeleine Genoud-Page – tocando músicas tradicionais da suíça, clássicos do rock norte-americano e também, em homenagem ao Brasil, o Hino Nacional Brasileiro.

Encerrando esta apresentação, o conselheiro comunal (cargo correspondente ao de vereador) do Canton de Fribourg, Charles de Reyff, declarou: “São mais de 300 suíços que vieram conhecer descendentes de suas famílias. Por isso, muitos mandaram fortes abraços e queriam saber como vocês vivem e como são as coisas por aqui. Vimos como é Nova Friburgo, mas hoje, estamos conhecendo o jardim desta linda cidade. Lumiar lembra um pouco a região de onde viemos, olhando os rios em volta nos remete ao Canton de Fribourg. Tenho certeza que os próximos suíços que vierem, também vão querer conhecer Lumiar”.

Finalizando, Charles ainda acrescentou: “quero agradecer pela magnífica acolhida de todos que receberam esta delegação. Isto jamais será esquecido. E em português disse: “duas cidades e um só coração”.

Encontro com a família Mozer

Nem mesmo o mau tempo tirou a alegria dos visitantes. Após a chuva forte, enquanto participavam das apresentações na sede da Ação Rural, ao final da tarde, a família Mozer, uma das mais tradicionais de Lumiar, recebeu não só os visitantes estrangeiros, mas também o prefeito Heródoto e sua comitiva para um tradicional café da tarde, tendo como principal atração a broa de milho, feita na folha de bananeira, exatamente como os primeiros colonos suíços a trouxeram para a região.

A acolhida não poderia ser melhor. Os Mozer ofereceram vários tipos de bolos, broas, guloseimas e bebidas, feitos com produtos típicos da região, além de frutas e - como não poderia faltar - a disputada cachaça, quase sempre acompanhada com limão, na apreciada caipirinha que os suíços nunca rejeitam.

Localizada na estrada entre Lumiar e São Pedro, a Vila Mozer é de propriedade da família de mesmo nome. Unidos, irmãos e irmãs são conhecidos na localidade por sua receptividade, principalmente em função da festa julina que promovem anualmente e que já se tornou uma atração turística para friburguenses e visitantes.

Mesmo com chuva, os suíços puderem comprovar um pouco desta hospitalidade tão própria do povo local, que mescla um pouco da tradição desses dois povos que, a cada dia mais, fortalecem os laços de amizade, união e intercâmbio.

Celebração dos 30 anos da Associação Fribourg-Nova Friburgo destaca importância da Casa Suíça e Memorial do Colonizador

As programação da visita da comitiva de um dos principais povos colonizadores do município continuou na manhã da última terça-feira, 20, nas instalações da Queijaria Suíça, em Conquista. O evento foi o que, de fato, celebrou os 30 anos da fundação da Associação Fribourg-Nova Friburgo.

O local foi escolhido exatamente por seu, ao longo dessas três décadas, um dos principais marcos da reaproximação entre os dois povos. Além disso, o evento serviu ainda para o relançamento cultural da Casa Suíça, que passa a ter um animador cultural: o friburguense Maurício Pinheiro, que morou seis anos em Berna, retornou à cidade brasileira, com esta importante missão. Bastante empolgado, Maurício falou que entre seus principais planos, está o de transformar o local num centro de integração daquela região rural.

Durante a celebração, que contou com diversas apresentações artísticas, foi descerrada a placa comemorativa com os nomes das principais autoridades suíças e também os responsáveis por este encontro: a conselheira nacional, Thérèse Meyer-Kaelin, o conselheiro de Estado, Pascal Corminbouef; a chanceler de Estado, Daniele Gagnaux, os prefeitos de Fribourg, Pierre-Alain Clément e de Bellegarde, Jean-claude Schuwey; a deputada do Estado de Cugy, Nadia Savary, os vereadores de Fribourg: Charles de Reyff e Madeleine Genoud-Page e o de Bulle, Yves Sudan, o presidente do Instituto Nova Friburgo, Marcel Schuwey; o presidente da Associação Fribourg - Nova Friburgo, em Fribourg, Rafaël Fessler, o presidente da seção brasileira da entidade Roberto Wermelinger, que também é o Secretário de Agricultura do município; o prefeito Heródoto Bento de Mello e o presidente da Câmara Municipal, o vereador Sérgio Xavier.

Ainda participaram os secretários Geral de Governo/Gabinete, Bráulio Rezende, a secretária Municipal de educação, Ledir Porto; o secretário do Programa Pró-Cidade, Carlos Guimarães e o secretário de Comunicação Social, Girlan Guilland.

Demonstrações da cultura popular brasileira, como a capoeira, apresentada pelos mestres Santana e Caroço; e músicas interpretadas pelo coral da Escola Belga, foram apresentadas aos suíços visitantes. E como esta visita é sobretudo cultural, eles também mostraram um pouco de sua arte, com músicas e danças folclóricas do grupo Les Courales, exibindo suas excêntricas e interessantes trompas alpinas.

‘Uma pérola na serra’

Para o presidente da Associação Fribourg-Nova Friburgo, Marcel Schuwey, “a Casa Suíça é o orgulho da região serrana, um expressivo ponto turístico de Nova Friburgo. É a pérola da serra”, enfatizou.

Já o historiador - que deu início a esta “saga”, como ele mesmo diz – Martin Nicoulin, contou um pouco sobre como surgiu esta amizade, estes laços com a Suíça. As dificuldades, contudo, com a morte de Ariosto Bento de Mello, irmão do prefeito Heródoto, em 1980 (Ariosto foi um dos principais articuladores para a criação da Associação Fribourg - Nova Friburgo), seis meses antes da viagem dos friburguenses à Suíça, em 1981, foram relembradas por Martin, que disse ainda o quanto “é gratificante Heródoto Bento de Mello dar continuidade ao caminho mágico do irmão”. E que em 1976 recebeu o título de cidadão friburguense, e desde então “pegou uma gamação muito grande por esta cidade”.

Durante o discurso, Heródoto lembrou “que devemos pensar no futuro. Daqui a nove anos o município faz 200 anos. Esta data é importante porque marca a chegada dos amigos colonizadores suíços. É importante porque naquela época houve uma oportunidade para mais de duas mil famílias suíças ganharem a vida em outro país”. O prefeito frisou também a coragem daquele povo em deixar seus amigos e familiares.

Outro ponto destacado pelo prefeito foi a data comemorativa do estreitamento dos laços entre os dois povos:

“Estamos muito felizes por recebê-los aqui. É formidável festejar esta data extraordinária. Para que esta festa sempre aconteça, devemos nos dar as mãos!”.

E falou ainda sobre os projetos que está preparando para a cidade como a implantação do trem VLT, a reforma do hospital e a construção de um aeroporto para que, em 2018, esteja tudo funcionando. Ao final, ainda acrescentou um “até logo!”.

“O calor humano dos friburguenses é inesquecível”

Tendo vindo a Nova Friburgo pela primeira vez, em 1987, ano do 3° Encontro Comunitário Suíço-Brasileiro (La Voyage de L’Avenir), ocasião em que foi inaugurada a Queijaria Suíça (o Memorial do Colonizador com o Museu da Colonização, foi inaugurado no encontro de 1996), o músico da Brass Band de Treyvaux, o padeiro Nobert Sallin, retonrou a Nova Friburgo quatro vezes.

Segundo ele, “o povo friburguense tem um calor humano fora do comum. Todas as vezes que estive aqui foram iguais, o carinho é muito grande. Tenho certeza de que quem está aqui pela primeira vez ficou muito impressionado. É uma surpresa muito grande!”

E como não poderia ser diferente, ao final das apresentações folclóricas, antes do descerramento da placa comemorativa dos 30 anos das duas associações, seguida ainda de um queijos e vinhos, brasileiros e suíços - autoridades ou não - formaram uma grande e animada roda de samba. Os prefeitos de ambas as cidade, Fribourg e Nova Friburgo, respectivamente Alain Pierre Clément e Heródoto foram os primeiros a se juntarem ao animado grupo, entre o qual também estava marcando presença, a friburguense Gisele Márcia, ex-mulata Sargentelli.

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