Em entrevista ao jornal A VOZ DA SERRA sobre o problema de falta d’água que vem afetando pelo menos 16 bairros de Nova Friburgo, deixando famílias sem água às vésperas do Natal, o superintendente da concessionária Águas de Nova Friburgo, João Henrique de Sá (foto), admitiu que, em caso de chuvas que alterem os padrões da água, existe a possibilidade de novas interrupções do sistema. “Existe a possibilidade de interrupção sim, disso a gente não está livre. Se vier uma chuva forte e alterar os padrões de potabilidade da estação de tratamento de Debossan, nós não podemos distribuir a água”, informou João Henrique.
O superintendente garantiu, no entanto, que a empresa responsável pelo abastecimento de água e tratamento de esgoto da cidade colocou em prática um plano de contingência que abrange a disponibilização de 18 carros-pipa até março.
Como a ETA Debossan apresenta aumento da presença de matéria orgânica na água em períodos de chuva intensa - uma particularidade do manancial que abastece a estação, segundo a empresa - a interrupção torna-se obrigatória, uma vez que o sistema precisa atender aos padrões de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
De acordo com nota da concessionária emitida na terça-feira, 25, a interrupção do fornecimento de água pela Estação de Tratamento (ETA) de Debossan afetou os bairros Braunes, Bela Vista, Catarcione, Centro, Cordoeira, Debossan, Mury, Olaria, Paissandu, parte do Parque Imperial, Parque São Clemente, Perissê, Ponte da Saudade, Tingly, Vila Guarani e Ypu. A suspensão da operação ocorreu, de acordo com a empresa, por conta das fortes chuvas.
Como o período de chuvas está apenas começando, para evitar novos transtornos os carros-pipa estarão à disposição da população friburguense independentemente das chuvas. “Vamos manter até o final de março 18 carro-pipas, que estarão trabalhando no atendimento em casos de pedidos em função de desabastecimento, superando o pedido da prefeitura, que era de disponibilizar 15 carros como contingência”, disse o superintendente.
O fornecimento foi interrompido na última segunda-feira, 24 - embora, em vários bairros, como o Cordoeira, moradores se queixam nas redes sociais de paralisação desde muitos dias antes. A última atualização da concessionária, enviada nesta quarta-feira, 26, informa que a Estação de Tratamento de Água (ETA) Debossan voltou a operar na manhã deesta terça-feira, 25. Segundo a empresa, a previsão é que o abastecimento seja normalizado gradativamente.
Obras de modernização da ETA podem ser aceleradas
Outra iniciativa que está dentro do plano de contingência da Águas de Nova Friburgo, segundo João Henrique, é antecipar a conclusão das obras da ETA Debossan. As obras na estação foram iniciadas no fim de novembro, com previsão de execução em um ano. As intervenções têm como objetivo melhorar a capacidade de tratamento da unidade, acabando com as interrupções obrigatórias do sistema. “Estamos seguindo com todos os esforços para antecipar a data de conclusão das obras. Estamos tendo bons resultados, conseguindo manter o novo cronograma, mesmo com as chuvas. Nosso objetivo é antecipar o máximo possível”, afirmou.
De acordo com as informações da concessionária, entre as melhorias está a implantação de um sistema de floto-filtração, solução que permite o tratamento eficiente de águas superficiais quando estas atingem altos níveis de coloração (turbidez) em períodos de chuvas fortes.
Reservatório do Cordoeira: entrega de obra adiada
Em novembro, durante outra ocorrência de falta d’água no município, o superintendente da concessionária esteve em uma audiência pública na Câmara dos Vereadores de Nova Friburgo. Na ocasião, João Henrique falou sobre o plano de recuperação do reservatório do conjunto habitacional Dom Bosco, no bairro Cordoeira, que tem capacidade de 300 metros cúbicos de água e auxiliaria em casos de interrupção do fornecimento da ETA Debossan.
A previsão era que as obras ficassem prontas até o fim deste ano. Contudo, segundo o superintendente, ocorreram complicações e a nova previsão é até fevereiro de 2019. “Estamos construindo um novo reservatório, pois tivemos um contratempo com a fundação que existia no local, e ela não pôde ser aproveitada”, explicou João Henrique.
Moradores fizeram protestos por causa da falta d’água
O desabastecimento gerou revolta e provocou manifestações. No Catarcione, moradores da Rua Romualdo Machado, chegaram a interditar temporariamente a via (foto), interrompendo o tráfego de veículos na segunda-feira, 24, véspera de Natal. Em um protesto pacífico, que teve a presença da Polícia Militar, eles cobraram soluções por parte da empresa responsável pelo abastecimento.
Segundo a moradora Marilane Gripp Ismério, o bairro ficou cinco dias sem abastecimento: “Ficamos sem uma gota d’água, inclusive na véspera de Natal. Isso é uma falta de respeito. E o problema aqui é só na nossa rua, estamos frustrados. Fizemos uma manifestação e fechamos a via. Até esta quarta-feira, 26, a água não tinha voltado, só recebemos um carro-pipa e preciso me virar parar tentar dar uma organizada, porque minha casa está horrível, sem limpar. É uma falta de respeito com a gente, espero que eles deem desconto por esses dias sem abastecimento”, desabafa.
No Bela vista, Rafael Rodrigues, morador da rua Maranhão, colocou uma caixa d’água na frente de casa para captar água da chuva (foto). Segundo ele, a motivação foi o conhecimento de que várias pessoas estavam sem água justamente no período de Natal, quando recebem visitas e organizam o preparo da ceia: “Quem precisar de água pode trazer o balde e vir aqui pegar”, afirmou. E a iniciativa foi bem recebida, de acordo com Rafael vários vizinhos estão utilizando a água.
Na localidade, algumas ruas ainda estavam sendo abastecidas por carros-pipas nesta quarta.
O desespero dos moradores dos bairros afetados
Nesta quarta-feira, 26, Margot Leão, moradora da Rua João Heringer, no bairro Braunes fez novo contato com a A VOZ DA SERRA, através das redes sociais do jornal, para falar sobre a situação na localidade: “Aqui na Rua João Heringer o nosso prédio é pequeno, são seis famílias, mas estamos todos sem água”. Antes ela já havia questionado: “Quer dizer que não pode chover porque eles não têm condições de tratar a água? O que estão fazendo aqui, numa cidade que de outubro a março, as vezes até abril, as chuvas são predominantes?”.
E foram muitas as respostas à publicação feita pelo jornal a respeito do problema:
“Se não chove, fica sem água! Se chove também fica! Como isso é possível!”, disse Elisandra Aparecida de Paula.
“Essa empresa acha que a população é palhaço! Que eles fecharam a água todo mundo já sabe, como ocorre toda vez que chove! Só acho que pagamos um valor exorbitante por um serviço que não é prestado com qualidade! Se não tiver condições de fornecer água para a população fecha as portas e vá embora, deve existir outra empresa capaz de assumir o serviço! O superintendente sempre com a mesma historinha. Não adianta dar explicações porque Natal sem água já passamos! Devem é ter uma solução para que isso não se repita! Mas essa empresa incompetente já mostrou que não tem!”, comentou Juliana Kadu.
“Essa empresa alega não ter estrutura para tratar a água em época de chuva, então o que está fazendo aqui em uma cidade tão chuvosa. As autoridades precisam se posicionar, pois é muito descaso com a população”, cobrou Tania Rodrigues.
“Lamentável o presente de Natal que ganhamos da empresa. Ao ligar para saber o motivo da falta de água, informando a necessidade da mesma, a atendente me diz: ‘Não é só você, o abastecimento está sendo regularizado! E a água chegou para o Natal? Não.”, desabafou Maristela Monteiro Torres.
Presidente da Comissão de Defesa do Consumidor fez denúncia ao MP
O vereador Isaque Demani, que é presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara, protocolou nesta quarta-feira, 26, um pedido de abertura de processo no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPE) sobre a situação do abastecimento de água no município. Segundo ele, a solicitação foi feita em caráter de urgência e a expectativa é de que o promotor dê uma posição sobre o caso ainda essa semana: “Estou na expectativa de que essa semana ainda o MP abra o processo, já que trata-se de assunto urgente”, informou Demani.
O parlamentar protocolou também um ofício na prefeitura, cobrando do prefeito que tome as medidas necessárias: “A prefeitura é poder concedente, então estou cobrando que ela tome as medidas cabíveis. Além disso, no pedido está a solicitação de abertura de um processo administrativo para avaliar a possibilidade de ser declarada a caducidade do contrato de concessão e o serviço voltar a ser feito pelo próprio município”, afirmou Demani.
Prefeitura volta a se posicionar sobre desabastecimento
Na terça-feira, 25, a prefeitura de Nova Friburgo emitiu um comunicado que informava que o Executivo estava acompanhando o desabastecimento de água em diversos bairros da cidade e "cobrando sistematicamente da Águas de Nova Friburgo uma solução imediata para o problema". Além de dizer que as medidas cabíveis seriam tomadas.
Nesta quarta-feira, 26, a administração do município informou que foi enviado um ofício à concessionária Águas de Nova Friburgo antes mesmo da ocorrência do problema atual de fornecimento, onde determinava as medidas a serem executadas como plano de contingência em casos emergenciais.
“Neste plano, a prefeitura exige não apenas a solução dos eventuais problemas como também o suprimento das necessidades urgentes da população - como o fornecimento de caminhões pipa, por exemplo”, diz a nota.
Segundo a prefeitura, o não cumprimento das medidas prevê multa, mas não disse se já existe algum processo em andamento.
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