Henrique Amorim
Embora a população diretamente afetada pelos estragos das chuvas do 12 de janeiro de 2011 critique a demora nas obras de reconstrução, como contenção de encostas, drenagens de rios, demolições de imóveis em áreas vulneráveis a novas enchentes e deslizamentos e viabilização de novos lares em locais seguros para as vítimas, é bem verdade que a Região Serrana nunca em toda sua história recebeu tantos investimentos de uma só vez. As cifras impressionam. São pelo menos R$ 387,51 milhões investidos só em Nova Friburgo pelo Estado em obras de contenção de encostas, construção de casas populares e reconstrução de pontes. Grandes obras que utilizam dos cofres públicos quase R$ 40 milhões estão em andamento e outros R$ 173 milhões serão disponibilizados para intervenções já licitadas. Serão gastos também mais R$ 71 milhões na construção de habitações populares e só para conter encostas o aporte do Estado será de R$ 100 milhões.
Os números polpudos que resultarão em investimentos na região emocionam o administrador de empresas de 52 anos Affonso Monnerat, atual chefe de gabinete da Secretaria Estadual de Governo e ex-secretário extraordinário da Região Serrana. Como ex-prefeito de Bom Jardim, ele se diz satisfeito por ter conseguido em sua gestão como secretário extraordinário dar a largada na importante frente de obras na serra e comenta o maior desafio de sua vida enfrentado após um convite do governador Sérgio Cabral. A largada repentina da Prefeitura de Bom Jardim para assumir o novo cargo rendeu frustrações, mas também muitas satisfações com os investimentos em toda a região.
A VOZ DA SERRA: Realmente não deve ter sido fácil deixar a Prefeitura de Bom Jardim de uma hora para outra após uma reeleição com mais de 70% de aprovação popular para dirigir uma pasta no Estado, criada emergencialmente para centralizar as atenções que a Serra merecia naquele primeiro momento de pós-tragédia. Houve, obviamente, reação do seu eleitorado em Bom Jardim. Como o senhor administrou isso e como se deu a ida repentina para a Secretaria Extraordinária da Região Serrana?
AFFONSO MONNERAT: Minha saída do cargo de prefeito no início não repercutiu bem como era previsto. Na verdade, deixei a Prefeitura de Bom Jardim para assumir o maior desafio da minha vida pública. E foi num acaso. O governador Sérgio Cabral visitou os seis municípios mais atingidos pela tragédia e desembarcou de helicóptero também em Bom Jardim, estarrecido com tantos estragos. No meio do encontro, ele me perguntou se eu me dava realmente com o meu vice e em seguida disse que era para o vice assumir, pois ele (Sérgio Cabral) precisava de mim no Estado para representá-lo na nova pasta a ser criada para dar toda a atenção que a Região Serrana passou a merecer.
AVS - Como foi essa experiência desafiadora? Afinal, o senhor sentiu na pele o horror vivido por seus munícipes em Bom Jardim com os deslizamentos e enchentes...
AFFONSO MONNERAT - Sem dúvida alguma foi uma grande escola. Atuei junto à Defesa Civil estadual e as municipais diretamente no desenvolvimento de uma série de projetos implementados pelo Estado com vistas a dar uma resposta imediata à população afetada. Participei diretamente também da busca por recursos federais para as obras de emergência e atuei ainda, junto a uma equipe, na fiscalização da aplicação desses recursos captados. A tragédia de 2011 acabou abrindo uma nova perspectiva para o estado. Afinal, nunca em nossa história uma região do interior recebeu um aporte tão grande de investimentos. Mudaram-se também alguns conceitos no Estado, que agora investe em ações preventivas também, como o monitoramento permanente da possibilidade de chuvas. O DRM (Departamento de Recursos Minerais) hoje mapeia riscos de acidentes geológicos e cheias em 72 municípios fluminenses. A Defesa Civil do estado está capacitada para acionar as prefeituras caso haja necessidade de evacuações de comunidades. Para tanto, essas áreas estão equipadas com sirenes de alerta-alarme. São investimentos que até então não existiam. Tudo viabilizado em conjunto com as ações da Secretaria Extraordinária da Região Serrana.
AVS - Sua trajetória nestes quase dois anos como "secretário especial da serra”, sendo a representação do estado aqui rendeu certamente frustrações e satisfações... Como o senhor lidou com esse confronto?
AFFONSO MONNERAT - Como prefeito de Bom Jardim vi familiares e amigos sofrerem com a tragédia. Senti na pele todo aquele drama. Tive que ter um equilíbrio emocional forte para compartilhar o sofrimento das vítimas e ao mesmo tempo organizar a tragédia humana. Minha maior frustração diante disso tudo é o Brasil não dispor ainda de uma legislação adequada para enfrentar catástrofes naturais. Tudo foi uma novidade e em meio ao caos, há uma burocracia que emperra, dificulta. Na Secretaria Extraordinária, ao captar investimentos, sempre esbarrava em exigências que atrasam o resultado final que o povo quer e tem o direito de exigir. Ora, consertar os estragos de uma enchente simples não pode ter o nível de exigência de uma grande catástrofe. Veja só o exemplo do Loteamento Três Irmãos, no São Jorge: o governo federal liberou recursos para um projeto básico de contenção de encosta orçado em R$ 34 milhões. O Ministério das Cidades e a Caixa recusaram alegando que o projeto teria que ser elaborado pelo Executivo federal. O tal projeto tinha que contemplar investimentos em drenagem... Enquanto isso, a obra atrasou demais.
AVS - O que fez o senhor procurar o governador em novembro do ano passado com o propósito de entregar a Secretaria Extraordinária da Região Serrana?
AFFONSO MONNERAT - Quando assumi, conversei com o governador que aceitaria o desafio pelo prazo máximo de dois anos. Acho que era um período satisfatório para implementar esse trabalho. Aliás, trabalhei como nunca a frente dessa pasta. Por ser da Região Serrana, apanhei muito nesse período. Muita gente achou que eu não deveria ter deixado a Prefeitura de Bom Jardim. Até que, em um determinado momento, o secretário estadual de Governo, Wilson Carlos, me convidou para assumir sua chefia de gabinete com a garantia de eu poder auxiliar no acompanhamento das obras em andamento na Serra. E para o meu lugar foi nomeado um amigo e técnico exemplar, que é da região e capacitado para o cargo: o ex-chefe regional do DER (Departamento de Estradas de Rodagem), o engenheiro José Beraldo Soares. Acho que cumpri minha tarefa. A vida é assim, cheia de desafios. E eu me realizo fazendo. Vibro quando consigo fazer. Me emociono quando uma pessoa humilde que seja agradece, se emociona, com um simples investimento público em sua porta, ou sua comunidade. Só aquela pessoa pode mesmo saber o bem que aquela obra vai representar.
AVS - As obras da reconstrução serrana estão sendo realizadas e há muitas já em processo de licitação. O senhor acredita que as eleições de 2014 podem ser uma ameaça a continuidade desses investimentos?
AFFONSO MONNERAT - Posso garantir que o estado do Rio de Janeiro hoje é bem mais respeitado em Brasília do que antes. Sólidas parcerias foram estabelecidas com o governo federal, que agora vê o nosso estado de outra forma. Acredito que tudo dependerá da capacidade dos gestores em manter as parcerias vigentes que estão sendo positivas para o estado e para a população. Antes, o presidente da República vinha ao Rio e as autoridades estaduais faziam questão de nem tomar conhecimento. Com a gestão do governador Sérgio Cabral esse conceito mudou e a União se reaproximou trazendo investimentos. Cabe agora manter essa filosofia. Estamos com grandes obras em andamento de contenção de encostas no Matacão (Jardim Ouro Preto), Alameda Eduardo Guinle (Paissandu), loteamentos Floresta e Jardinlândia e na Granja do Céu. Já estão licitadas as intervenções para remoção de pedras no São Jorge, contenções no Córrego Dantas, Vila Nova, Duas Pedras, Jardim Califórnia (também com revegetação), drenagem e revitalização dos fundos do Teatro Municipal, no Suspiro.
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