E agora, tanto tempo depois, coube a mim, como diretora, comemorar os 70 anos de existência de A VOZ DA SERRA.
"Esse é um daqueles momentos da vida em que se celebra o presente, festejando o passado. Brindando a vida e lembrando dos que já não estão entre nós. O grande paradoxo: vida e morte, aqui juntas. Não poderia ser diferente. Meu avô dirigiu o jornal por 20 anos, e meu pai, por 40. O jornal está impregnado da presença deles. Eu cresci entre máquinas no quintal da casa do meu avô, onde o jornal era feito, literalmente, em casa. De vez em quando exagerávamos nas brincadeiras, eu e minhas primas, e levávamos umas broncas por atrapalhar o trabalho deles com nossas brincadeiras e gritaria de criança. Letra a letra, de trás pra frente, os linotipistas reproduziam os textos escritos por meu avô e seus amigos, em uma empreitada que levava dias. E agora, tanto tempo depois, coube a mim, como diretora, comemorar os 70 anos de existência de A VOZ DA SERRA. Com apenas dois anos à frente do jornal, aqui estou, digamos, com a parte boa... de comemorar, fazer a festa! Mas, eu não mereço celebrar esse marco sozinha. Essa festa é deles. Do vovô Ventura e do meu pai Laercio, o Lelé, como era chamado pelos amigos, dos quais muitos aqui estão nesta noite. Se vivo meu pai estivesse, eu teria que rebolar um bocado, brigar muito para fazer essa festa. Ele era um homem simples, discreto e comedido em seus gastos. Sempre dizia que nunca ficaria rico vendendo jornal e notícias. Acho que por isso jogava na Loto, na Sena, toda semana. Tinha tanta esperança de ganhar uns milhões... já sabendo que não viriam desse negócio. Em um domingo de manhã, na comemoração dos 68 anos, apenas com funcionários, convidei todos os presentes para festejar os 70 anos. Ali, reafirmei para mim mesma a intenção de continuar o trabalho do meu pai. E esse dia chegou, e é hoje. De dois anos para cá começamos a implementar algumas mudanças, as mais urgentes, necessárias para o nosso projeto. Mas, antes de tudo, urgia botar a mão, literalmente, na bagunça. Quem conhecia meu pai e o visitava em sua sala vai entender: comecei arrumando a sua mesa de trabalho. No meio de tantos jornais e papéis, ingressei naquele universo tão pessoal, onde ninguém podia mexer e, pasmem, ele encontrava tudo. Ele era um acumulador, como se diz agora. Um acumulador também de memórias, de histórias, que tanta falta nos faz. Sentar com papai e ouvi-lo contar as histórias da cidade e seus personagens nos levava a perder a noção do tempo. Muitos dos amigos que estão aqui, tenho certeza, concordam comigo. Pessoas como Laercio, ao partirem, deixam a cidade mais pobre e, certamente, com menos memória. Essa memória de quem presenciou, testemunhou, de quem participou de decisões tão importantes para a cidade. Ao partir, levou com ele essas histórias que gostaríamos de continuar ouvindo. Nossa cidade empobrece de homens de fibra, de caráter, de honradez, como Laercio. Sem falar do conhecimento da política local. Ele viu nascer e morrer muitos partidos e políticos que fizeram a diferença em nossa cidade. Bem, foi desse homem inesquecível que eu nasci. Filha mimada, do tipo que ganha presente no Dia das Crianças, no Natal, na Páscoa... só que aos 50! Por muito tempo, eu já adulta, casada e mãe, e ele preferia que eu ficasse em casa cuidando das crianças, seus netos, que ele amava profundamente. Gabriel, Isabela e Sofia.
Era avesso a elogios, como bem disse outro dia Zuenir, seu primo. Portanto, o que posso dizer é que, hoje, ele apenas se renderia ao tempo que dedico ao jornal, porque elogios, nem pensar. É preciso dizer que por muitas vezes eles pensou em vender o jornal. Não deixaria, como ele mesmo dizia, um abacaxi assim para ninguém, principalmente para um filho. E assim ficou por entre muitas negociações, mas muitos sabem que na hora H, ele voltava atrás. Tem alguma coisa nesse negócio que vicia. Trabalhou até a véspera da sua morte, decidiu e escolheu tudo, até o fim. Ultimamente, estava desanimado, cansado da luta diária que é manter um jornal. Corretíssimo em seus negócios, sempre falava da preocupação em manter a “quitanda” aberta. Mantinha seus impostos, pagamento de fornecedores, salários de seus funcionários, rigorosamente em dia. E isso, agora posso dizer, somente é possível com muito trabalho e determinação. Ele não queria deixar essa herança pra mim. Um jornal sobrevive de notícias e anunciantes. Isso, todos nós aqui sabemos. Em uma cidade como Nova Friburgo, uma empresa de comunicação se faz ainda mais necessária. Nosso negócio não é de primeira necessidade. Não vendemos comida. Mas, alimentamos de informação vocês e suas famílias, sobre tudo o que acontece em nossa comunidade. Diariamente. Não vendemos material de construção, mas construímos uma cidade com o que ela pode ter de melhor, seus cidadãos, empresários, trabalhadores. Promovemos discussões que levam a cidade a se repensar e, portanto, reconstruir seu caminho. Não fabricamos cadeados como a empresa que tanto nos orgulha, mas somos a chave para o conhecimento, para a informação, para o friburguense que precisa escolher, opinar e exercer a sua cidadania. E por isso, antes de qualquer coisa, queria agradecer a muitos dos parceiros, os anunciantes que sempre nos apoiaram.
Um jornal é feito dessa parceria entre sociedade, setor privado e público. Nas pesquisas que fizemos, muitos de vocês já anunciavam conosco há 20 anos. Comemoramos os nossos 50 anos juntos. Essa constatação nos eleva a autoestima. Hoje, algumas dessas empresas têm novos diretores, e seus filhos, herdeiros como eu, assumiram o negócio dos pais. É a lei da vida, é a renovação necessária. Mas, precisamos de suporte político também. Já tivemos em nossa cidade SEIS jornais na década de 80. Hoje, restamos apenas nós. E outros tantos que de vez em quando aparecem, desaparecem com a mesma rapidez. Esse negócio não dá dinheiro, e isso leva a maioria a desistir. Somos uma empresa friburguense, geramos empregos, pagamos nossos impostos em dia, e apesar de nossa idoneidade, e dos serviços de excelência prestados por anos, precisamos nos reafirmar todos os dias. Então, temos ou não temos de comemorar a chegada dos 70 anos? É claro que sim! Precisamos, todos nós, friburguenses, valorizar nossos tesouros, nossos talentos, e manter o que ainda podemos chamar de NOSSO. A VOZ DA SERRA é o jornal de Friburgo. A VOZ DA SERRA é patrimônio dos friburguenses e assim deve ser tratada. A VOZ DA SERRA é a voz de todos. Sem distinção. O grande desafio de um jornal impresso é informar melhor que outras fontes de consulta para consumidores de notícias. A nosso favor está a rapidez com que se publicam notícias sem nenhum critério e comprovação, o que torna esse tipo de abordagem superficial e incompleta. Por outro lado, fugimos do jornalismo sensacionalista, por mais que saibamos que ele venda. Mas, desde que assumi o jornal, buscamos não dar destaque a notícias policiais, fazer delas nossa manchete. Esse é o papel de um jornal. Informar com qualidade, isenção, fornecendo dados para o leitor ter sua própria opinião. Somos ainda uma empresa familiar. Das boas, com direito a brigas, pedidos de desculpas e abraços. Quero ressaltar o trabalho do Gabriel, o sangue novo de nossa empresa. Ele trabalhou em nosso site nos últimos meses para lançar um dos mais modernos de Friburgo. Um dos grandes desafios de um jornal impresso é informar mais e melhor que outras fontes de consulta. Recentemente, tive a felicidade de ler uma matéria que me revigorou. Foi uma entrevista n’O Globo, com Nizan Guanaes, um dos mais bem-sucedidos publicitários do país. Ele destacou, de forma inequívoca, a importância da mídia impressa. Disse que não conhece ninguém, que seja importante e influente, em todo o mundo, que não leia, no mínimo, DOIS jornais por dia. Essa matéria me deu um ânimo ainda maior, vocês nem imaginam. Pois não se trata da minha opinião, em minha própria defesa, quando tentamos mais um anunciante, falando da importância de anunciar em jornal. Quem disse isso foi um dos maiores publicitários do Brasil. Para quem não o conhece, ele é sócio-proprietário do grupo empresarial ABC, com sede em São Paulo, e da África, uma agência mundialmente reconhecida. Ele falou do desenvolvimento das mídias digitais, sem deixar de reconhecer a importância da mídia impressa, entre jornais e revistas. Nizan terminou assim sua entrevista (para minha felicididade): “Eu anuncio em jornal, porque jornal funciona”. Então, meus queridos amigos, presentes nesta festa dos 70 anos de A VOZ DA SERRA: acreditem, a mídia impressa é importante, é melhor assimilada pelo leitor, e vai sobreviver! Nossos dias não estão contados. Creiam nisso, e valorizem o trabalho de tanta gente, que nas primeiras horas da manhã começam a batalhar pelo jornal que vocês vão ler no dia seguinte. Agradeço a todos os profissionais que trabalham no A VOZ DA SERRA, aos que já trabalharam e a todos que acreditaram em nós e se alegram hoje com nossa vitória. Agradeço a Deus por estar aqui comemorando esse dia, com a minha família e toda a minha equipe. Viva A VOZ DA SERRA, que avança para o futuro, mas revisita e reverencia o seu passado."
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