Administradora levanta orçamentos para reconstrução de prédio da Rua Cristina Ziede

Edifício Monte Carlo foi interditado após ter sido atingido por deslizamento de encosta em 2011
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
por Karine Knust
(Foto: Henrique Pinheiro)
(Foto: Henrique Pinheiro)

Após cinco anos de espera e incertezas, mais um marco da tragédia de 2011 parece dar os seus primeiros passos a caminho da reconstrução. O contemplado desta vez deverá ser o edifício Monte Carlo — localizado no início da Rua Cristina Ziede, no centro da cidade. A imagem do prédio atingido por um deslizamento de encosta que destruiu-o parcialmente ainda impressiona.

A decisão pela reconstrução se deu depois de as secretarias municipais de Defesa Civil e Meio Ambiente emitirem laudos autorizando a deliberação por parte dos proprietários sobre o que seria feito com o imóvel. No último mês de setembro, inclusive, a empresa administradora do prédio iniciou um amplo levantamento de custos para a realização da obra. 

“Fizemos uma assembleia no dia 26 de setembro em que foi deliberado a busca de orçamentos visando a reconstrução do prédio”, afirma o síndico do Monte Carlo, Luiz Henrique Ruiz. Ainda de acordo com Luiz, a decisão, no entanto, não garante que o edifício será reerguido: “É importante deixar claro que não ficou deliberado que o edifício será, de fato, reconstruído. Nós estamos buscando orçamentos para levantar os custos da obra, assim que conseguirmos, iremos convocar nova assembleia para apresentação dos valores aos condôminos para, aí sim, deliberar se haverá reconstrução ou demolição do prédio.  Mas, com certeza, a vontade de todos é pela reconstrução. Alguns estão até se preparando nesse sentido, mas vai depender, é claro, do valor que for orçada a obra”, explica ele. 

Para o proprietário da empresa que administra o imóvel, Márcio Aldeia Gonçalves, o maior obstáculo tem sido encontrar construtoras dispostas a realizar a intervenção. “As empresas priorizam projetos feitos por elas, desde o início da obra, para vender as unidades e gerar uma renda maior. No entanto, a nossa necessidade é de uma empresa que se proponha a fazer uma reconstrução com todo o aparato legal de garantia e responsabilidade porque não se trata de uma obra qualquer. Até porque, precisaremos de projeto, plantas e, principalmente, cálculos estruturais da situação atual para ‘linkar’ com a construção que será feita. E essa está sendo nossa dificuldade de fechar orçamentos”, aponta ele.

A divisão dos custos

O edifício Monte Carlo possui 18 apartamentos divididos em dois blocos. Os amplos imóveis tinham dois a três quartos, além de duas coberturas. No entanto, na madrugada do dia 12 de janeiro de 2011, o deslizamento de uma grande encosta atrás do prédio foi responsável por destruir um dos quartos e parte do banheiro de quatro apartamentos e uma cobertura do bloco B. Desde então, o espaço permanece interditado. 

Apesar de o deslizamento não ter atingido todos os apartamentos, caso a reconstrução aconteça, o valor deverá ser dividido por todos os condôminos, explica o síndico Luiz Henrique: “Caso encontremos um orçamento viável, o valor da obra será dividido de acordo com a fração ideal, ou seja, o tamanho dos apartamentos. Independentemente se tenha sido mais afetado ou não. E os proprietários concordaram com essa ação. Tanto os condôminos que foram mais afetados quanto os que foram menos afetados querem reconstruir o Monte Carlo”, atesta ele. 

O economista Gilmar Bispo dos Santos comprou, juntamente com suas irmãs, um dos apartamentos do edifício Monte Carlo, em 2009. Para ele, a reconstrução do prédio representará um novo e, desta vez, positivo marco para a cidade. “Adquirimos um dos imóveis para que nossa mãe pudesse ficar em um local no centro da cidade, perto de tudo que ela precisasse. Eu morava em São Paulo na época em que a catástrofe aconteceu, mas estava na cidade, passando férias com minha mãe. Naquela noite, nossa sensação foi de total vazio. Nosso apartamento fica no bloco A, onde pouca coisa aconteceu, mas algumas famílias ali sofreram muito. Acho que o Monte Carlo precisa ser reconstruído para marcar um novo tempo, não só na vida de quem viveu ali como na cidade de Nova Friburgo. Ele virou ponto turístico fúnebre e isso precisa acabar”, afirma Gilmar. 

“Estamos acompanhando todos os processos que aconteceram depois da interdição e somos completamente a favor da reconstrução e da divisão igualitária do valor. O importante é que o orçamento fique acessível e com prazos maleáveis para que tudo seja reerguido da melhor forma possível”, conclui ele. 

Outro ponto que precisa ser definido antes da reconstrução é sobre a propriedade dos imóveis. “Quando o prédio foi lacrado, as despesas de condomínio caíram. Além de quase a metade dos proprietários deixaram de pagar a cota condominial, apesar de o condomínio ainda gerar gastos, outros dois renunciaram à propriedade. No caso da inadimplência, os proprietários estão sendo acionados judicialmente, já quanto as renúncias, principalmente, os imóveis não foram passados para o nome de ninguém, sendo assim, teoricamente, nem o condomínio, a princípio, pode dizer que é dono desses apartamentos. Por esse motivo, estamos buscando uma assessoria jurídica para que possamos encontrar uma solução, porque caso haja reconstrução do edifício, obviamente, esses apartamentos também terão que ser reformados e aí será preciso definir como arcaremos com a obra realizada no local”, explica o síndico Luiz Henrique Ruiz.

Ainda segundo Luiz, a previsão é de que o levantamento com os orçamentos seja apresentado nos primeiros meses de 2017. “A ideia era que esses orçamentos fossem apresentados até o fim de novembro, mas diante das dificuldades inesperadas que nós estamos encontrando e até pelo fato da elaboração de um orçamento como esse ser uma coisa demorada, acreditamos que teremos esses dados em mãos só no primeiro trimestre do ano que vem”, finaliza ele.

Vale ressaltar que o prédio só pode ser desinterditado pela Defesa Civil após as obras de recuperação serem realizadas e devidamente vistoriadas. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: pós-tragédia
Publicidade