Existem pelo menos dez mil diabéticos em Nova Friburgo. Os dados são da Secretaria Municipal de Saúde e assustam quem se debruça sobre eles. Por uma simples razão: estes dados certamente não refletem a realidade, que é bem mais grave, pois muitas pessoas só se dão conta de que são diabéticas quando sua glicemia já atingiu índices altíssimos. Além disso, sabe-se que aqui, como no mundo inteiro, a doença vem atingindo um número maior de pessoas, entre elas, cada vez mais crianças e jovens.
Para dar suporte aos diabéticos da cidade e chamar a atenção das pessoas sobre este problema, há dez anos foi fundada a Associação dos Diabéticos de Nova Friburgo (Adinf), por diabéticos, familiares e profissionais da área. Atualmente 16 voluntários, entre médicos, dentistas, psicólogos, nutricionistas e especialistas das mais diversas áreas, cedem um pouco de seu tempo para orientar, informar sobre os cuidados necessários e melhorar a vida dos diabéticos de Nova Friburgo. A Adinf também está sempre engajada na luta pela prevenção do diabetes, seja realizando campanhas de esclarecimento sobre a doença ou marcando presença em mutirões de saúde e outros eventos da cidade.
A Adinf é uma daquelas entidades que provam a antiga máxima: a união faz a força. Sim, uma pessoa, isoladamente, é capaz de ajudar e fazer muita coisa por quem precisa. Mas... quando se une a outras, ninguém segura. Tudo começou numa salinha do Paissandu cedida pelo empresário Gustavo Botelho, da Superpão, que tem um filho diabético. Neste meio-tempo, a associação cresceu e muito. Foi preciso uma sede maior. Os integrantes conseguiram com a Associação dos Funcionários da Fábrica Ypu um amplo espaço na Rua Maximiliano Falck, suficiente para comportar uma série de serviços, como atendimento médico, odontológico e psicológico, orientação nutricional e farmacêutica, fisioterapia, podologia, dança e ioga. A sede conta também com um bom auditório, um espaço para artesanato e até uma horta comunitária. Tudo com um só objetivo: oferecer mais saúde, lazer e informação aos diabéticos.
Hoje cerca de 600 pessoas, entre adultos e crianças, circulam por lá mensalmente. Destas, apenas 150 pagam regularmente a mensalidade, de R$ 10. Com este dinheiro (e alguns poucos recursos provenientes de empresas parceiras), a diretoria tem que dar conta de todas as despesas. A associação não conta com qualquer subvenção ou verba governamental e assim como outras tantas instituições, sobrevive graças apenas a seus abnegados voluntários. Quem quiser conhecer mais a associação, vale informar que a sede fica aberta de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Mais informações sobre os serviços da entidade podem ser obtidas pelo telefone 2527-6313.
Qualquer um pode se tornar diabético
A atual presidente da Adinf, Márcia da Costa Pereira de Jesus, se associou à entidade depois que seu filho, hoje com 9 anos, se tornou diabético. "Conheci a Adinf quando estava na faculdade. Então, quando tudo aconteceu, eu logo disse: esta causa agora é minha.” Há quatro anos ela está envolvida com a luta dos diabéticos por melhores condições de vida e da associação, no sentido de despertar na comunidade a importância de detectar o quanto antes a doença e de se prevenir contra ela.
O diabetes é uma moléstia insidiosa e grave, que pode levar ao coma se não for descoberta a tempo. É também incurável, embora possa ser controlada, exigindo, porém, uma série de cuidados específicos. O pior é que a doença às vezes é descoberta assim por acaso. Querem ver um exemplo? Na semana passada, a Adinf fez uma campanha na feira de Olaria e realizou nada menos que 636 testes de glicemia. O exame detectou mais de 20 casos da doença, sendo que entre eles apenas sete pessoas sabiam que eram diabéticas. Claro que o diagnóstico ainda vai depender de um exame mais preciso (curva glicêmica), mas segundo a presidente da Adinf, é improvável que o mesmo seja negativo.
O que mais vem assustando e surpreendendo a todos os que lidam diretamente com o diabetes, sejam médicos, especialistas e voluntários, é o aumento no número de crianças e jovens diabéticas que vem sendo registrado atualmente. Agora, imaginem vocês, leitores, o susto de uma família como a de Márcia de Jesus, entre tantas outras, quando quase por acaso, descobre que seu filho, um menino absolutamente saudável até então, tinha se tornado diabético. E mais: que poderia ter entrado em coma no mesmo dia em que a doença foi diagnosticada. Tudo aconteceu muito de repente e ninguém deu importância aos sinais de que havia algo errado. Vale lembrar que os tais sinais — fome excessiva, muita sede, emagrecimento e vontade mais frequente de urinar — podem mesmo passar despercebidos, sobretudo em se tratando de crianças.
"Nós achamos que era porque ele tinha começado a fazer natação naquela semana”, conta. O que chamou sua atenção foi que no sábado ele fez xixi na cama três vezes durante a noite. Resolveram, então, levá-lo ao hospital para fazer um exame de urina. Pensaram: quem sabe estaria com alguma infecção? "Nem pensei em diabetes”, garante Márcia, mesmo já tendo tido bastante contato com a doença através da Adinf, que conhecia dos tempos da faculdade.
O fato é que naquela altura a taxa de glicose de seu filho estava altíssima — mais de 400 — e ele foi internado na hora. "Naquele dia iríamos a dois aniversários infantis. Se não tivesse ido ao hospital, meu filho certamente entraria em coma e Deus sabe o que poderia ter acontecido”, conta. Desde então, Márcia entrou de cabeça na luta dos diabéticos. Já participou de várias diretorias da associação e este ano acabou sendo eleita presidente.
Está cheia de gás. No dia 14 de novembro — Dia Mundial do Diabetes — a Adinf pretende fazer um barulho daqueles na cidade, comemorando, inclusive, os dez anos da entidade. "Queremos iluminar e enfeitar a cidade de azul, a cor da nossa entidade”, adianta. Durante toda a semana, entre os dias 8 e 14 do próximo mês, está sendo programada uma série de atividades. A ideia é envolver toda a população, em espaços públicos, nos colégios, hospitais, em toda parte. "O diabetes é uma doença muito séria para as pessoas continuarem agindo como se ela não existisse e estivéssemos todos imunes a ela”, concluiu.
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